Relatório da Comissão Técnica Independente, 12 de Outubro/2017
Portugal tem um elevadíssimo número de ignições quando comparado com os restantes países
do Sul da Europa. Entre 2010 e 2015 registaram-se anualmente uma média de 1,7 ignições por
cada 1000 habitantes, o que representa um valor seis vezes superior ao de Espanha e 19 vezes
superior ao da Grécia. Por outro lado, sabe-se que, ao contrário dos incêndios de Pedrógão
Grande e Góis, cerca de 98% das ignições que originam incêndios têm origem humana.
Contrariamente ao mito profusamente difundido pela comunicação social e inadvertidamente
aproveitado por alguns responsáveis políticos, a maior parte dessas ignições está associada a
negligências e acidentes e não a atos dolosos. A desresponsabilização da sociedade quanto ao
problema dos incêndios encontra aqui talvez a sua expressão mais evidente. É mais cómodo
culpar “criminosos” desconhecidos do que assumir a nossa responsabilidade e evitar
comportamentos de risco. Dificilmente se conseguirá encontrar apenas na tradição milenar de
utilização do fogo pelos povos do Mediterrâneo uma explicação adequada para o que se passa
em Portugal a este respeito, já que a situação dos restantes países é bem diferente. Trata-se
sobretudo de um problema de educação, sensibilização, consciencialização e responsabilização. (pp. 173)
"Baixo nível educacional e de qualificação profissional, habitante em zona rural, consumidor de álcool e com um atraso cognitivo e patologias do foro mental”. Rui Abrunhosa Gonçalves (Psicólogo forense)
http://www.prociv.pt/pt-pt/RISCOSPREV/RISCOSNAT/INCENDIOSFLORESTAIS/Paginas/default.aspx#/collapse-1
Alterações da estrutura sócio-económica das populações, causa indirecta de fogos florestais
o surto de desenvolvimento industrial registado nos anos 60, que privilegiou sobretudo os distritos de Lisboa e Setúbal, provocou intensos fluxos migratórios, originários, em grande parte, do Centro de Portugal
uma diminuição dos efectivos demográficos que, por sua vez, levou ao abandono dos campos que, naturalmente, passaram a ter condições particularmente favoráveis à propagação do fogo
menor utilização da lenha e do carvão como combustíveis e dos estrumes animais como fertilizantes, cuja consequência foi a de deixar nas matas muito material combustível
tanto a diminuição da população nas áreas florestais como o seu acelerado envelhecimento constituem um factor de risco de incêndio
citadinos que, dispondo de uma melhor qualidade de vida, lhes permitiram passar a deslocar-se às matas com mais frequência para ocupação dos seus tempos de lazer (fins de semana, feriados, férias)
motivações de ordem económica, muitas vezes associadas à procura de lucro fácil, podem originar fogos de origem criminosa
em termos de Paisagens Protegidas, têm tido uma maior incidência de fogos correspondem aos 23 280 ha da Área de Paisagem Protegida de Sintra-Cascais, que integra o maciço de Sintra e a sua orla marítima e possui um grande valor, tanto natural como histórico, pela riqueza das suas paisagens. A imediata proximidade de Lisboa sujeita-a a fortes interesses e pressões urbanísticas que, logicamente, ajudam a explicar o grande número de fogos ocorridos todos os anos
Parque Natural da Serra da Arrábida
a importância dada aos incêndios na comunicação social (falada e escrita), têm levado a que, para muitos, o fogo seja encarado apenas como espectáculo, despertando, eventualmente, acções pirómanas em espíritos mais fracos
a falta, em grande parte da população, de uma verdadeira consciência ecológica: “Deixa arder ...”
difícil acumular o valor económico do mato, como suporte fundamental para a protecção e manutenção das espécies animais e do próprio solo
difícil contabilizar muitas das formas de economia tradicional, associada à floresta, que são destruídas pelos incêndios, como sejam a agricultura de subsistência ou de complementaridade, a apicultura, a recolha de frutos silvestres e de plantas aromáticas