Estátua de Darwin presente no Charles Darwin Research Center em Santa Cruz - Galápagos - Equador - Foto by Cibele Sanches

Mas o que é inteligência?

Resenha apresentada como parte integrante da Pós Graduação em Neurociência e Psicologia Aplicada (Mackenzie), unidade de Inteligência e Criatividade - Julho/2021


“Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças.”

A frase atribuída a Charles Darwin e hoje de domínio popular traz uma contradição em si se considerarmos a definição de inteligência como sendo capacidade para aprender com a experiência e habilidade em adaptar-se ao ambiente. Darwin não se referia a um indivíduo e sim a espécie (conjunto de indivíduos), mesmo assim, continua a contradição, pois os tentilhões (aves) estudados por ele com certeza não fizeram o teste de Fator Geral de Inteligência, mas tinham grande capacidade de adaptação como espécie.


Saindo da filosofia sobre a Teoria da Evolução e indo para as teorias da inteligência, aprendizado e adaptação também podem ser relacionados com inteligência fluída e cristalizada. Inteligência fluída está relacionada com a precisão e rapidez do raciocínio abstrato. A inteligência cristalizada está relacionada com o acumulo de conhecimento.


Testes de inteligência costumam avaliar mais inteligência fluída. Essa começa a reduzir em torno do 30 a 40 anos, tendo uma redução mais significativa acima dos 85 anos (o que provavelmente ajuda a explicar porque minha vizinha de 86 anos pede ajuda com o celular dela). Ela não perdeu inteligência (tanto que dentro do conceito de aprender e se adaptar) usa um recurso cristalizado (chamar alguém mais novo para resolver “essas coisas de tecnologia”) para resolver um problema novo que, para ela, é cada vez que o celular traz uma mensagem de problema ou atualização obrigatória.


Para observar aspectos que mudam com a idade, pode-se realizar dois tipos de estudos: longitudinais (em que se acompanha o mesmo indivíduo ao longo dos anos) e transversais (que compara grupos de diferentes idades em um mesmo momento presente). Em estudos longitudinais os escores de inteligência são estáveis, ou seja, se mantém ao longo da vida. Em estudos transversais, jovens costumam ter escores mais altos do que as pessoas mais velhas.


Como inteligência é um fenômeno com múltiplos fatores, dependendo de como se faz a medida, se usa uma ou outra variável com maior destaque. Por exemplo, se uma avaliação considerar velocidade de processamento, o idoso tem menor capacidade em função da redução da inteligência fluída. Já se pedir para citar dados históricos, um jovem tem pouco conteúdo cristalizado e teria um resultado pior comparativamente.


Em tempo, a inteligência também tem uma grande influência de aspectos hereditários, sendo esses muito determinantes do potencial dela. O ambiente atua como estímulo deste potencial. Se voltarmos a Darwin, no quesito sobrevivência do melhor adaptado, se inteligência para a psicologia tem em sua definição a capacidade de adaptação ao meio, os melhores adaptados ao meio são os que tem maiores taxas de sobrevivência e, segundo Darwin, como prêmio, podem transmitir o legado de sua existência através de seus genes. Ou, filosofando, Darwin pode ter “errado” o conceito de inteligência, mas a psicologia cognitiva converge com Darwin na questão da hereditariedade da adaptação.

:-)


*Por Cibele Sanches

Multiespecialista em Gestão de Pessoas e Especialista em 4ª Revolução Industrial

Questionadora de plantão, descontração amiga da seriedade e sempre disponível a apoiar ;-)


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