U.Porto | Eleição para o Conselho Geral | 14 e 15 de junho de 2021
A lista é composta por um grupo de docentes, de diversas Faculdades e formações científicas, que, ao longo dos anos, tem refletido sobre o papel das Universidades, os possíveis modelos de governação e a importância do Conselho Geral, como órgão fundamental de apoio e decisão.
Todos eles possuem uma ampla experiência de gestão, seja ao nível de órgãos centrais de governo seja em departamentos, ciclos de estudo, unidades de investigação ou institutos de interface.
Tendo em conta que o Conselho Geral, de acordo com os estatutos, tem como principal função, entre outras, apreciar os atos do Reitor e do Conselho de Gestão, aprovar o plano estratégico e as linhas gerais de orientação da Universidade bem como propor ao Governo o elenco de Curadores e iniciativas que considere necessárias para o bom funcionamento da instituição, consideramos que ele deve ter uma atuação interventiva, dinâmica e construtiva, no sentido de defender a missão da Universidade em todas as suas vertentes de atuação.
A eleição do Reitor, que está também nas suas atribuições, será, com certeza, uma das grandes responsabilidades que o CG deve assumir, tendo em conta os supremos interesses e a estratégia da Universidade; uma análise criteriosa do programa apresentado e a apreciação da audição pública deverão constituir preciosos elementos para uma escolha avisada e independente.
Sob o lema «Recentrar a Universidade», entendemos a necessidade de a Universidade convergir para um rumo bem determinado e previamente definido, em que estejam explícitas as missões centrais e definidoras da instituição. Os vetores fundamentais a seguir enunciados concorrem para construir esse caminho, que deverá contribuir para a afirmação da Universidade, através de uma política de competitividade saudável, mas segura.
Os docentes que integram esta lista acreditam que, em termos diferenciadores, é preciso promover uma visão estratégica, a médio/longo prazo, para a Universidade . Uma Universidade que a nível educativo, científico e organizacional esteja preparada para competir com as melhores Universidades Europeias. Esse debate deve ser alargado, com participação dos Órgãos de Gestão de todas as Unidades Orgânicas, mas efetivo e conclusivo, estabelecendo linhas orientadoras para a aprovação dos planos estratégicos e de ação do Reitor .
criar um efetivo espírito de escola, esbatendo fronteiras entre as diversas faculdades e promovendo uma participação interinstitucional, apoiada em complementaridade de saberes e de recursos; ao mesmo tempo, aproveitar as sinergias da cooperação entre docentes, investigadores, estudantes e funcionários, tendo em vista uma Universidade ativa e reconhecida pela sociedade civil;
repensar o modelo educativo, adaptando-o à digitalização das Universidades e à flexibilidade dos percursos académicos, alargando-o a novos públicos, à formação contínua dos profissionais, no sentido de reskilling e upskilling, bem como estendendo-o à participação de pessoas senior e de empresas e outros organismos da sociedade;
centrar o papel-chave da investigação nas atividades dos docentes, investigadores e estudantes da U.Porto, incentivando uma investigação mais competitiva e internacional, através de apoios diversos, desde a existência de excelentes condições de trabalho até ao apoio logístico facultado por competentes gabinetes de gestão de projetos presentes em todas as Faculdades, mesmo se dependentes de serviços partilhados;
coordenar e protocolar as “ligações” entre Faculdades, Centros de Investigação e Institutos de Interface, consolidando o conceito de “perímetro” U.Porto ou “ecossistema” U.Porto, através da interação com o ensino pós-graduado, nomeadamente na supervisão de dissertações de mestrado e teses de doutoramento.
ampliar a internacionalização, através de mobilidade acrescida de estudantes, docentes e pessoal administrativo/auxiliar de docência, nomeadamente para fora da sua zona de conforto; promover convites mais frequentes a professores de Universidades estrangeiras de reconhecido mérito para fazerem estadias/residências mais ou menos prolongadas, proporcionando diferentes experiências, sejam elas de investigação e/ou de modelos educativos; reforçar a importância de consórcios com empresas, muitas delas de caráter multinacional, que legitimarão pesquisas baseadas em redes internacionais.
apostar na inovação, a todos os níveis: investigação, implementação de boas práticas e de novas atitudes comportamentais e promoção da ciência aberta;
garantir a formação contínua dos seus profissionais, sejam eles docentes, investigadores ou funcionários;
assumir a sua responsabilidade social, na região e no país, nomeadamente:
através de programas de voluntariado e de intervenção ativa nas camadas sociais mais desfavorecidas;
no compromisso com a promoção da saúde e bem-estar;
apoiar políticas ambientalistas, fundamentais para uma clara aposta no futuro;
promover ativamente uma política de abertura ao mundo e acolhimento de docentes e investigadores com base no mérito em todas as suas dimensões (ex., investigação, docência, transferência do conhecimento) em detrimento de um fechamento sobre si própria;
desenvolver uma estratégia ambiciosa de médio/longo prazo para o rejuvenescimento do pessoal docente e de investigação, quer através de um plano de abertura de concursos para a carreira académica, quer através da concretização efetiva da carreira de investigação (dando resposta às necessidades imperativas de sustentabilidade do ensino superior e simultaneamente criando reais oportunidades de carreira para uma geração de investigadores e docentes precários).
De acordo com os Estatutos da Universidade do Porto, o Conselho Geral, não tendo competências executivas, tem responsabilidades várias ao nível da definição de objetivos gerais e de estratégias para a Instituição, acompanhamento das ações estabelecidas pela Equipa Reitoral, assim como de ponderação dos equilíbrios internos da Universidade. Neste contexto, são apresentadas de seguida orientações programáticas de caráter estruturante para a Universidade nas componentes A Universidade e o seu funcionamento, Ensino, Investigação, Extensão Universitária, Património e A Universidade no País e no Mundo.
As palavras-chave que apresentámos significam os oito vetores em que queremos ancorar o nosso programa: estratégia, transparência, dinamismo, eficácia, inovação, multiculturalidade, solidariedade, proximidade.
O papel das Universidades nos dias de hoje poder-nos-á levar para reflexões várias que têm sido objeto de estudos para aqueles que se preocupam com as prioridades do ensino superior. Faremos nossas as palavras de Stefan Collini (What Are Universities for?, 2012), quando ele se pergunta para que servem as Universidades num mundo global e em constante mudança de paradigma onde nunca foram tão numerosas e tão importantes mas também onde nunca sentiram tão pouca autoconfiança e perda de identidade. As universidades do século XXI deixaram de poder ser um lugar de elite afastado da sociedade. Um texto produzido recentemente pela EUA (European Association of Universities), que se intitula Universities Without Walls – A vision for 2030 (fevereiro de 2021), reflete sobre a inevitabilidade da evolução para uma «sociedade do conhecimento», onde as Universidades funcionarão como o epicentro da criatividade humana e do conhecimento e em cujo seio será cada vez mais importante o papel da sociedade civil (empresas, associações culturais, indústria). Uma atenção especial aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (United Nations Sustainable Development Goals), presentes na Agenda 2030, proporcionarão a captação de parceiros em todo o mundo, construindo projetos comuns de «capacity building» e de uma circulação livre de cérebros.
Na sequência destas constatações, estamos cientes de que as Universidades só poderão sobreviver se se adaptarem aos novos desafios provenientes dos interesses dos estudantes que provêm de camadas sociais cada vez mais diferenciadas e de lugares do mundo cada vez mais díspares. Um equilíbrio entre necessidades sociais, ensino, investigação e inovação torna-se urgente, numa instituição que se quer inclusiva e multicultural. Estes desafios e correspondentes mudanças exigem uma liderança ativa, que dê uma atenção especial ao detalhe (mesmo que este pareça insignificante) e ao indivíduo.
Conscientes da realidade acima descrita, pugnamos por:
uma real compreensão do funcionamento da Universidade, nas várias vertentes que estruturalmente a compõem como a estratégia de desenvolvimento, as atividades consolidadas de todas as Unidades Orgânicas e da Reitoria, bem como o orçamento e suas linhas orientadoras, a política de contratação de recursos humanos (docentes, investigadores e pessoal administrativo e/ou auxiliar de docência e investigação);
uma Universidade assente na diversidade de culturas e de modos de estar dentro dos vários saberes que a compõem, e num corpo discente cada vez mais multicultural, de valores e práticas distintas;
o compromisso com boas práticas, que deverá reger toda a comunidade académica, e que o CG, dentro das suas atribuições, poderá propor, e que se traduzirá também por uma política de maior proximidade com a realidade da instituição;
reuniões regulares com os conselhos de representantes, a direção das várias unidades orgânicas, as unidades de investigação e os institutos de interface; estas reuniões (preferencialmente deslocadas, isto é, nas várias escolas e/ou institutos de interface) darão aos membros do CG um conhecimento mais efetivo das práticas governativas e, consequentemente, das dificuldades que as várias escolas sentem no seu regular funcionamento;
uma eficácia cuja falta, por vezes, se sente em alguns dos serviços, nomeadamente, em setores dos serviços partilhados, e que poderá levar a uma proposta de revisão dos mesmos, implementando medidas de proximidade com os utentes e a um aligeiramento do peso burocrático que, por demasiado centralizado, pode falhar em alguns contextos;
a importância de uma orientação estratégica que guiará a Universidade nos desafios que continuamente se lhe colocam; deverá ser traçada uma linha muito clara nos vários setores-chave e, depois de uma consulta às diversas Faculdades, poderemos compreender qual o rumo a seguir; uma visão estratégica clara e desafiante favorecerá um desenvolvimento seguro, motivado, inclusivo e vencedor.
uma progressiva adaptação das suas estruturas orgânico-funcionais a um modelo de e-governance, assente na desmaterialização dos processos e desburocratização de procedimentos.
A importância de alterações no modelo educativo é inegável e fenómenos como a presente pandemia vieram demonstrar, se ainda não estivéssemos alertados para tal, que as estratégias de ensino-aprendizagem são fundamentais para captar a atenção de estudantes que cresceram num mundo digital e que têm dificuldade em aderir a modelos já utilizados há várias décadas. No desenvolvimento desta estratégia, deveremos sempre contar com as Associações de Estudantes e com a FAP. Chamamos a atenção para:
a importância do digital que deve ser encarada como uma prioridade, apostando sempre em opções diferenciadas de acordo com as várias áreas de ensino presentes na Universidade;
necessidade de renovação do modelo educativo e da inovação pedagógica;
a autonomia das Unidades Orgânicas e a gestão de geometria variável nas diferentes escolas o que trará um acréscimo de eficácia, pautado por uma melhor rentabilização dos recursos e dos fins propostos nas várias unidades curriculares;
a necessidade cada vez mais premente de promover ofertas curriculares onde a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade passem a ser uma constante, na convicção de que os saberes especializados só ganham se houver interferências, discretas, mas seguras, de outras áreas que irão enriquecer o domínio principal do curso;
a partilha de competências entre as diferentes unidades orgânicas e o CG, podendo este assumir um importante papel ao sugerir essas valências na análise dos relatórios de atividades e do plano estratégico da Universidade;
a importância de promover atividade curriculares e extracurriculares que promovam o desenvolvimento de competências transversais e aumentem a responsabilidade social e humana dos estudantes.
Uma investigação de qualidade, aliada a um ensino exigente, onde os estudantes (de 1º, 2º ou 3º ciclos) sejam um elemento importante, com um papel ativo oposto ao de recetadores passivos, característico do ensino tradicional. A interação entre a investigação e o ensino parece-nos fundamental e leva-nos a propor o seguinte:
relação próxima e interveniente entre docentes-investigadores e investigadores, promovendo-se uma cultura de intercâmbio de competências e saberes;
clarificação e reforço da relação entre os Institutos de interface e as unidades orgânicas, levando à articulação estratégica Reitoria-Faculdades-Unidades/Institutos de I&D-PBS, o que deverá permitir o estabelecimento sustentado de dinâmicas que potenciem uma investigação científica de qualidade;
implementação de gabinetes específicos de projetos nas diferentes UOs, criando uma cultura de proximidade e facilitando a elaboração de projetos apresentados às várias entidades financiadoras internacionais, que se revelem ganhadores;
criação de redes internacionais com Universidades e grupos de investigação de prestígio, colocando a Universidade do Porto num lugar ainda mais cimeiro nos diferentes domínios do saber, e enquanto parceiro comprometido com a promoção da ciência aberta;
aposta ainda mais ativa na investigação jovem, criando condições efetivas para a inserção precoce dos estudantes, mesmo a nível de 1º ciclo, nas unidades de investigação da UPorto;
afetação de uma parte do orçamento de cada UO para apoio à investigação através de bolsas para mestrado e doutoramento;
desenvolvimento efetivo da carreira de investigação bem como plano de recrutamento para a carreira docente universitária que valorize o mérito científico e permita oportunidade de carreira a uma geração de investigadores/docentes precários.
Conscientes da importância de uma Universidade inclusiva, que promova a diversidade de culturas, tal como a dos saberes, propomos:
incentivo à realização de práticas multiculturais, que traduzam a cultura universitária de uma instituição sediada em Portugal, mas aberta ao mundo;
empenho e responsabilidade social da comunidade UP, solidária com as desigualdades sociais e comprometida com a inserção social;
estabelecimento de uma relação de proximidade com o tecido empresarial (desde grandes empresas a PMEs e start-ups) de forma a potenciar as capacidades instaladas, encontrar sinergias e gerar crescimento económico e o acrescento de mais valia sediada na transferência de conhecimento científico e tecnológico mutuamente vantajosa entre a Universidade e a Sociedade, em particular no que se refere ao nosso espaço de atuação regional, mas também extensivo não só ao país como ao espaço da União Europeia.
estudo sustentado da captação de estudantes internacionais provenientes de países de poder económico reduzido, de modo a atrair esses estudantes, dando origem a uma estratégia de médio prazo de afirmação da UP em espaços fora do seu habitual campo de influência;
incentivo ao voluntariado de estudantes e docentes, estudando quais as melhoras formas de intervir;
contactos regulares com os alumni, no sentido de promover uma partilha de interesses e de iniciativas sustentáveis e mutuamente enriquecedoras;
promoção de atividades culturais abertas ao público, na Reitoria e nas UOs, que aproximem a Universidade da sociedade civil;
promoção do desporto universitário e de uma cultura de hábitos de vida saudável e sustentável, em colaboração com as associações de estudantes e a FAP;
alargamento do âmbito de atuação da UPorto Press, através de parcerias para a efetiva distribuição dos livros e da criação de coleções temáticas apelativas, bem como o desenvolvimento de e-books e de venda através das plataformas digitais.
Numa universidade tão rica como a do Porto, devemos salientar o património material e imaterial da Universidade e ter em conta a riqueza de ambos:
conservação ativa e preventiva dos edifícios e espaços afetos, com características e urgências muito diferentes;
conclusão das obras em curso e construção de outros edifícios há muito previstos nas UOs e em instituições do perímetro da Universidade;
criação de um gabinete de apoio efetivo à realização de obras de melhoria e de estudo da legislação de modo a acelerar todos os procedimentos administrativos;
criação de espaços museológicos dignos em todas as instalações da Universidade, que já possuem coleções de referência;
inventariação e descrição urgente de todas as peças existentes nos vários museus e abertura ao público dos mesmos;
no Museu de História Natural e de Ciência, abertura de uma exposição permanente e de exposições temporárias do acervo dos restantes museus da UP e de outras exposições resultantes de parcerias várias;
criação de um museu digital, que possa ser visitado num site próprio e que contenha a descrição de todas as peças, independentemente do espaço físico em que se encontram;
tratamento das valiosas coleções bibliográficas como o Fundo Antigo e criação de um arquivo histórico, para preservar a memória centenária da Universidade;
atenção especial à Fundação Instituto Arquiteto José Marques da Silva como espaço privilegiado de ligação à arquitetura da cidade e como lugar de investigação na área da Arquitetura;
clarificação das relações com a Casa-Museu Abel Salazar, promovendo uma intervenção direta na sua direção e nas atividades realizadas;
riqueza científica, traduzida nos diferentes saberes e na sua transferência para a sociedade;
riqueza cultural da Universidade, patente nas atividades dos estudantes (tunas, orfeão, clubes de dança, orquestra, grupos de fado, de jazz e de teatro).
Afirmação da Universidade nos vários espaços em que se insere:
na região e no país – consolidação do papel da Universidade na região Norte e no país, estabelecendo eventuais parcerias com outras instituições de referência no panorama nacional;
no espaço europeu – a criação do consórcio EUGLOH potencia essa afirmação, mas é necessário implementar outras parcerias e prever, noutras áreas, consórcios semelhantes que reúnam investigadores apostados na participação de redes de ensino e investigação;
nos países de língua portuguesa – intensificar as parcerias já existentes (sobretudo no Brasil) e incentivar acordos com Universidades dos restantes países, em África e na Ásia, de modo a criar uma comunidade científica, que partilhe valências de ensino e investigação e se torne num verdadeiro espaço universitário de língua portuguesa, onde não devem faltar os estudos das línguas e das culturas autóctones, que decisivamente enriquecerão as investigações linguísticas e culturais da U.Porto; um efetivo envolvimento das Universidades e dos governos dos países da CPLP com a U.Porto e com o CG só poderá trazer benefícios a médio e longo prazo;
nos EUA – para além dos cursos conjuntos já existentes e da investigação partilhada, é urgente intensificar as relações com os múltiplos departamentos de português, a fim de criar laços sustentáveis com as comunidades de lusodescendentes, potenciando a sua intervenção ativa na sociedade onde estão inseridas;
fora da zona de conforto – finalmente, convém não esquecer os restantes países e regiões, onde, apesar de, em muitos, existirem lusodescendentes, não há ainda uma forte implementação da UP, constituindo um interessante e motivador desafio; se os programas existentes de intercâmbio com alguns destes países favorecem um conhecimento mútuo e legitimam a construção de programas de investigação e ensino, não devemos esquecer que a distância cultural dificulta muitas vezes a penetração e a efetiva afirmação; caberá ao governo da Universidade essa avaliação e a facilitação de acordos que se traduzam em reais parcerias e em enriquecimento bilateral.