Não é possível tratar de Capitalismo sem tratar de capital, capital humano, capital social e relações sociais, só para citar algumas das terminologias, noções e conceitos que são inerentes a este tipo de estudo. Do mesmo modo, não se pode iniciar os estudos acerca do capitalismo sem entender as idéias básicas de Adam Smith (1723-1790), Karl Marx (1818-1883) e John Maynard Keynes (1883-1946).
Deste modo, o professor sugere que você, caro estudante, leia as noções introdutórias abaixo, bem como, recomenda, fortemente, a leitura da apostila preparada, clicando ::: aqui :::.
Adam Smith (1723-1790)
Smith foi um pensador que viveu em uma época de grandes mudanças. A Revolução Industrial, por exemplo, teve o seu início no norte da Inglaterra, onde o escocês vivia. Pode-se dizer que também na Escócia estava em curso uma revolução no pensamento humano, graças aos escritos do filósofo David Hume (1711-1776), que veio antes dele.
A principal obra de Adam, é o livro "Investigação sobre a natureza e as causas das riquezas da nações" (1776). Pode-se sumarizar o pensamento de Smith em três ideias, a saber:
1ª A fonte de toda a riqueza é o trabalho;
2ª Uma feliz organização da economia realiza-se em toda sociedade onde o homem pode conduzir-se sob o impulso de seus interesses pessoais;
3ª Os governos devem conceder liberdade total a produção nacional e ao comércio internacional.
Da primeira (1ª) das idéias acima depreende-se que uma sociedade rica é aquela que mais tem implementada e especializada a sua divisão do trabalho, ou, por outras termos, tanto mais rica será uma sociedade quanto mais dividido foi o trabalho na mesma.
Da segunda noção acima (2ª), emerge uma outra cara idéia a Adam – que está na sua obra (livro) "Teoria dos Sentimentos Morais" (1759) –, que é a de quem as pessoas querem serem "notadas" e agem mesmo segundo seus "interesses", buscando, sempre, o "consumo ostentatório" (cf. Thortein Bunde Veblen (1857-1929), em seu livro " The Theory of the Leisure Class"), que, atualmente, ganha outros nomes, tais como, "consumo conspícuo" ou compra de "bens de Veblen".
Da terceira idéia acima (3ª), assoma a famosa "mão invisível", de Adam Smith, ou seja, a noção de que o Estado não deve se meter no mercado, deixando com que o mesmo se auto-organize. Assim, o mercado se auto-rege a si mesmo sem a necessidade da interferência do Estado, que, segundo Adam, é nefasta. A "mão invisível" de Smith é isso: o mercado se controla a si mesmo de modo autônomo, como se houvesse uma "mão invisível" que o governasse.
CURIOSIDADE: Adam Smith, em matéria de finanças públicas, formulou os princípios básicos do imposto, definidos por quatro regras primordiais, a saber:
- justiça: os impostos devem ser proporcionais sobre a renda dos cidadãos
- certeza: a taxa imposta deve ser certa e não arbitrária
- comodidade: a contribuição deve ser cobrada na época e de acordo com a forma que pareça mais conveniente ao contribuinte
- economia: os gastos com a cobrança dos impostos devem ser reduzidos ao mínimo necessário
Karl Marx (1818-1883)
Para entender Karl Marx, torna-se interessante dizer que ele se filiou à "esquerda hegeliana", nome dado, em 1837, por David Friedrich Strauss (1808-1874), a uma das duas vertentes de seguidores de Hegel (1770-1831). Tal grupo de jovens, também chamados de "jovens hegelianos", professava uma filosofia materialista. Em política, defendiam a anarquia (ou um regime socialista), e, em religião, eram ateus ou anticristãos. É interessante também dizer que Marx rompeu com a "esquerda hegeliana", pois, as idéias deste grupo ainda eram, para Karl, deveras idealistas.
Embora na Universidade tenha apresentado seu texto final de doutorado (tese) sobre Epicuro (341 a.C. - 271 (ou 270) a.C.), seu pensamento é marcadamente hegeliano, o que pode ser percebido pela crença que Marx tinha na inexorável "transformação" do capitalismo em comunismo.
Marx conheceu aquele que seria seu grande colaborador e financiador, Engels (1820-1895), em 1844, e, a partir daí, calcou suas análises no proletariado industrial, tendo escrito, com Engels, o "Manifesto Comunista", que era o programa político e filosófico da "Liga dos Justos", o grupo ao qual aderiu posteriormente à "esquerda hegeliana".
É possível sumarizar o pensamento de Marx em três idéias básicas, a saber:
1ª a interpretação materialista da história (Materialismo Histórico),
2ª a denúncia do caráter ideológico (ideologia) das superestruturas politicas, religiosas e culturais,
3ª a rejeição do socialismo ético-filantrópico e utópico e
4ª a transformação da teoria filosófica em ação revolucionária do proletariado.
O Conceito de Capitalismo
Pode-se dizer que o capitalismo é um estatuto (um estatuto jurídico), um regime econômico, uma forma de organização política adotada por uma sociedade humana. O capitalismo se caracteriza pela grande desenvolvimento dos meios de produção (os meios de trabalho e os objetos de trabalho) e seu funcionamento (motivado pela grande especialização da divisão do trabalho). No capitalismo, a figura dos trabalhadores é de extrema importância, apesar de eles não serem os proprietários dos meios de produção.
Pode-se dizer também que o capitalismo é um sistema de produção cujos fundamentos são encontrados nas empresas privadas (firmas) e na liberdade do mercado (ver, acima, Smith (a "mão invisível")).
Para Marx (ver, acima, Marx), o capitalismo é um regime econômico, político e social (totalmente envolvido em contradições internas, e, por isso, fadado ao fim (para Marx, o fim do capitalismo era uma questão de tempo, era inexorável)) cuja lei fundamental seria a procura sistemática da mais-valia (que, grosso modo, é o lucro), o que é feito através da exploração dos trabalhadores pelos detentores dos meios de produção com o objetivo de transformar uma parcela importante dessa mais-valia em capital adicional, fonte de nova mais-valia (ou seja, lucro sobre lucro, mais e mais lucro e sempre o lucro).
Assim, tem-se que o motor essencial do capitalismo é a busca pelo lucro. Essa busca pelo lucro tem uma um oposto, um o risco que o capitalista sempre sofre, que é o do empobrecimento. No capitalismo clássico, além da busca pelo lucro, as empresas buscavam segurança (segurança de não empobrecer, de que os "negócios" dessem certo), e, uma vez conseguida essa segurança, buscavam o poder.
O capitalismo clássico é também um modelo econômico descentralizado (ver, de novo, acima, a "mão invisível") que resulta da atuação de empresas e consumidores livres que agem em função de um cálculo (de novo, o lucro).
Na prática, frequentemente verifica-se, no capitalismo, momentos de crises, que podem ser causadas, por exemplo, por protecionismos e nacionalismos econômicos. Em virtude disso, os poderes públicos (Estado) intervêm nesses momentos para impedir o desregramento dos mecanismos econômicos que são a base do regime.
O capitalismo "evoluiu" com o tempo. Na origem erra essencialmente comercial, e, com frequência, regulamentado. Mas, no séc. XVIII foi criado um capitalismo industrial e liberal, cujo personagem central é o empresário (individual). Mas, já ao final do séc. XIX, viu-se a substituição do indivíduo pelo grupo. Então, surgiram as sociedades anônimas (S/A), que permitiam importante concentração dos meios de produção. Essas "S/A's" eram, na verdade, grandes organizações que tinham por objetivo fazer acordos entre os produtores para, assim, limitar os efeitos da concorrência, e, com isso, limitar o risco de empobrecimento, maximizando o lucros. Tais associações criaram os primeiros oligopólios e monopólios.
Nesse contexto, o "empresário clássico" diminuiu de "valor" e o "financista" (o "investidor") cresceu de papel.
É importante dizer que o capitalismo clássico cresceu graças à tecnologia (que permitia e até hoje continua permitindo sempre uma maior mais-valia), à dominação do capital financeiro, e, por incrível que pareça, em menor medida, graças ao fato de os assalariados e empregadores constituírem poderosos sindicatos que se defrontam.
Para a Geografia, mais importante ainda é dizer que o capitalismo evoluiu também no espaço, e, de uma nação a outra, assume aspectos diferentes. Assim, o grau de concentração, de integração e de intervencionismo do Estado variam de país para país.
Contudo, na grande maioria dos países, desenvolvem-se, em certa medida, setores públicos industriais, financeiros e comerciais, e, ao mesmo tempo, surgem processos de redistribuição de renda, ou, pelo menos, de fazer uma cobertura coletiva dos riscos do capitalismo (por exemplo, a chamada "previdência social"). Tais casos são, na verdade, a tentativa de o Estado corrigir os desequilíbrios decorrentes da anarquia decorrente das decisões dos agentes econômicos e das desigualdades resultantes da distribuição primária das rendas realizada através do mercado.
Entrementes, na maioria das economias capitalistas, o lucro das empresas tende a dividir-se quase exclusivamente, entro o Estado (impostos) e as próprias empresas (autofinanciamento).
A origem primeira do capitalismo ainda é motivo de controvérsia. Muitos negam a sua existência na Antiguidade; outros, já escreveram sobre o capitalismo na Antiguidade greco-romana. Para Henri Pirenne (1862-1935), é possível se falar em capitalismo em algumas cidades medievais, tais como, as de Flandres e do norte da França. Para Werner Sombart (1863-1941) a origem do capitalismo está nas cidades italianas dos séculos XIV e XV, que, por sua vez, fizeram a ligação do espírito capitalista com a Renascença. Para Max Weber (1864-192), há forte ligação entre o capitalismo e o pensamento religioso, a saber, o calvinismo (séc. XVII). Porém, a grande maioria define o capitalismo como um regime surgido com a Revolução Industrial, na segunda metade do séc. XVIII sendo que, para dirimir tais dúvidas, a distinção entre capitalismo comercial e capitalismo industrial diminui as dificuldades.