"[...] a ideologia oscila entre dois extremos – uma excessiva proximidade do real (uma alusão ao real imediato) e um desconhecimento efetivo desse real; só vendo o que está interessada em ver, sua alusão ao real é ilusão."
Ideologia é uma palavra criada por Destutt de Tracy (1754-1836). Foi este francês que fez o elo entre os conceitos de ideologia de Bacon (1561-1626) e de Marx (1818-1883).
Embora Bacon ainda não usasse o termo ideologia, ele defendia que o entendimento da verdade estava tomado por ídolos (noções falsas), por ideias erradas e apenas racionais, sem a devida experiência. Assim, Bacon dizia que devíamos não só nos ater à razão, mas sim e sobretudo, à experiência, e, mesmo assim, após a experiência ter sido feita, devíamos continuar a duvidar, para sempre mais crescer na certeza da verdade.
Segundo o marxismo, ideologia é um conjunto de idéias, crenças e doutrinas próprias de uma época, de uma sociedade ou de uma classe, é um sistema de idéias, uma filosofia sobre o mundo e sobre a vida. Para os marxistas, "é o ser social que determina a consciência" (Marx) e a "própria razão não é senão uma ideologia da burguesia triunfante (Engels), sendo que isso estabelece uma nítida distinção entre a infraestrutura econômica e a superestrutura ideológica. Ainda num sentido marxista, ideologia pode ser definida por treze ("13") características, a saber:
a) as ilusões coletivas e mistificações, representações inconscientemente falsas que os homens, os grupos, as classes fazem de si próprios, de seus adversários, dos conjuntos dos quais participam, das situações sociais nas quais se encontram;
b) as mesmas ilusões ou mistificações quando são conscientes ou semiconscientes;
c) as interpretações das situações sociais a partir de avaliações políticas, morais, religiosas ou filosóficas, que implicam uma tomada de posição, mas não necessariamente uma ilusão (é o caso de toda a consciência de classe, mesmo a mais esclarecida);
d) doutrinas elaboradas para justificar aquelas ilusões ou aquelas avaliações interpretativas (ex.: as doutrinas sociais e políticas, inclusive a doutrina socialista);
e) toda obra "objetiva" da "consciência real", coletiva ou individual (linguagem, direito, moral, arte, conhecimento), na medida em que essa obra está em correlação funcional com uma classe ou participa da estruturação de uma classe;
f) as ciências humanas principalmente as ciências sociais (com exceção da economia política transformada elo marxismo em "sociologia econômica", de validade pretensamente universal);
g) o conhecimento filosófico devido ao seu caráter participante e à impossibilidade de sua verificação;
h) a religião por se tratar de um produto mental destituído de veracidade e caracterizado pela mais alto índice de alienação
i) conjunto de signos e símbolos que caracterizam umas classe social exprimem seus complexos, angustias e aspirações;
j) os mitos e as utopias (ex.: mito da "greve geral", utopia do desaparecimento do Estado);
l) o conjunto de idéias e valores que não são mais válidos dentro de determinada situação social;
m) o fenômeno da interpretação errônea , feita por uma classe social, sobre o papel efetivo que ela desempenha;
n) as condutas inadequadas à situação dada ou à posição social de uma classe.
Quando de Tracy cunhou o termo ideologia intentava usar para designar a ciência que tem por objetivo o estudo das idéias (no sentido geral de fatos da consciência), seus caracteres, suas leis, suas relações cm os signos que as representam, sua origem. Mas, com o passar dos anos a ideologia não conseguiu atingir o status de ciência, e, hoje, trata-se de um termo técnico nos estudos das ciência humanas.
REFERÊNCIAS:
IDEOLOGIA. In: GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE. Rio de Janeiro: Delta, 1972, vol. 8, p. 3451.