Como ex-participantes da diretoria da SAMEST, manifestamos nossa profunda insatisfação com os rumos tomados pela atual diretoria e expomos os motivos que nos levaram a nos desligar da associação. No entanto, antes de abordar os recentes acontecimentos, é essencial revisitar o percurso que trouxe o Coletivo de Educação Popular Flor de Maio até a SAMEST.
Em 2016, o Coletivo de Educação Popular Flor de Maio procurava um novo espaço para dar continuidade e ampliar suas atividades educacionais. Entre 2014 e 2015, realizamos nossas atividades no Centro de Arte Cultura (CAC), espaço que deixou de existir em 2017, por um processo de despejo realizado pela gestão do então prefeito Angelo Perugini, que afetou diversas atividades educativas e culturais, como as desenvolvidas por anos pelos nossos companheiros do Coletivo de Educação Popular Jacuba.
No final de 2015, encontramos Dona Lourdes e Dona Neves, antigas presidentes da SAMEST, que nos acolheram e nos apresentaram o espaço. Naquele momento, a associação, já com décadas de história, tentava se reerguer após um período de subutilização, agravado por projetos municipais que acabaram por sucatear o espaço.
Naquela época, apenas um grupo realizava atividades no local, e os recursos de manutenção eram usados para manter uma única sala. O Flor de Maio, ao se deparar com a situação, percebeu a necessidade urgente de revitalizar o espaço para acomodar adequadamente as atividades do coletivo e fomentar outras que pudessem dar nova vida à SAMEST. Realizamos a remoção de toda a fiação abandonada pelos antigos projetos da prefeitura, pintamos paredes e portas, montamos uma cozinha e preparamos as salas de aula. Assim, no início de 2016, o Flor de Maio iniciou suas atividades na SAMEST, sempre deixando claro que não cobramos mensalidades de nossos educandos e que nossa contribuição seria por meio da manutenção do espaço e eventos, como a Feijoada do Flor.
Em 2018, com o fim do mandato da diretoria de Dona Neves, ela sugeriu a formação de uma nova chapa, envolvendo todos os grupos da associação, para a eleição da diretoria de 2019 a 2021. O Flor de Maio participou da organização dessa chapa e indicou seus representantes.
Entretanto, desde o início dessa nova gestão, o Flor começou a sofrer pressões para cobrar mensalidades ou algum tipo de contribuição financeira dos seus educandos, algo que sempre foi contrário aos princípios do coletivo e que iam contra o estatuto da própria associação. Por sermos o grupo mais numeroso e ativo na SAMEST, notamos que, apesar do respeito que a diretoria demonstrava pela nossa organização e atividades, havia constantes comentários nas reuniões sugerindo o receio de que o "Flor dominasse a associação" — um temor infundado, pois nunca tivemos essa intenção. Sempre entendemos a importância de um coletivo autônomo como o nosso estar presente em uma associação de bairro, dando mais capilaridade para nossas atividades na comunidade do entorno e para a cidade de Hortolândia de forma geral.
Nestes oito anos de atividades na SAMEST, o Coletivo de Educação Popular Flor de Maio promoveu diversas atividades gratuitas e abertas à comunidade, como cine debate, o Grupo de Astronomia Popular, aulas temáticas, formações, oficinas, atividades na horta comunitária, festas e aulas de línguas, sempre divulgadas para a diretoria e nas redes sociais. Também organizamos mutirões de limpeza e manutenção do espaço, que, infelizmente, contaram com pouca ou nenhuma participação de outros representantes da diretoria. O que percebemos é que alguns grupos mantiveram apenas uma relação comercial com seus alunos e com a comunidade, sem promover reflexões sobre o espaço e sua história, o que levou a uma desconexão e falta de engajamento com a SAMEST.
Durante este último ano, tivemos o ataque da prefeitura visando retirar a SAMEST de sua sede histórica, posicionamento que a diretoria discordou inicialmente, com a decisão de preservar a sede. No entanto, ao longo desse processo, ocorreram diversos episódios que minaram nossa confiança na gestão da associação. Mentiras, reuniões secretas, traição com relação às decisões tomadas em assembleia e censura foram algumas das táticas adotadas por uma parte da diretoria, além de manifestações racistas e machistas que, em muitos momentos, foram justificadas até pelo presidente.
Diante de todo esse cenário, o Flor de Maio, preocupado com a continuidade de suas atividades e com a saúde mental de seus participantes, tomou a difícil decisão de se retirar da diretoria e da SAMEST. No final de setembro, os integrantes do Coletivo que ainda participavam da diretoria da associação entregaram sua carta de renúncia e se desligaram de qualquer compromisso com uma diretoria furtiva, desrespeitosa e dissimulada. Lamentamos profundamente que essa tenha sido a única saída viável.
Neste caminho de luta que trilhamos em respeito a história da SAMEST, contamos com ajuda, apoio e solidariedade de diversas pessoas e grupos. Por meio deste apoio, foi possível realizar as manifestações, o abaixo assinado - com quase 5 mil assinaturas - e o sarau. Inclusive, é importante citar que graças ao valor arrecadado pelo Coletivo Flor de Maio no Sarau em favor da SAMEST, os advogados, que foram dispensados arbitrariamente pela atual diretoria, receberam as duas parcelas restantes do valor simbólico acordado para a elaboração da defesa da associação, mas que a atual diretoria da SAMEST resistia em pagar.
No processo de luta deste ano agradecemos a:
Coletivo de Educação Popular Jacuba;
Coletivo Nóis por Nóis 019;
Repórter Popular;
CAB - Coordenação Anarquista Brasileira;
Esquerda Diário;
MRT - Movimento Revolucionário de Trabalhadores;
Faísca Revolucionária;
Afronte!;
PCB - Partido Comunista Brasileiro;
PCBR - Partido Comunista Brasileiro Revolucionário;
UJC - União da Juventude Comunista;
GAP - Grupo de Astronomia Popular;
Coletivo Carlos Marighella;
GEPECS - Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social da FE/Unicamp;
CAPMF - Centro Acadêmico de Pedagogia Marielle Franco da FE/Unicamp;
CAFil - Centro Acadêmico da Filosofia da UNICAMP;
UP - Unidade Popular pelo socialismo;
Correnteza;
PSOL Hortolândia;
Promotoras Legais Populares Cida da Terra-Campinas e Região;
Comitê em Defesa da SAMEST.
Também agradecemos aqueles que assinaram a carta de apoio à luta da SAMEST:
CACo - Centro Acadêmico da Computação (UNICAMP);
Cursinho Popular Marielle Franco - Campinas;
Trupe Lona Preta;
Biblioteca Terra Livre;
Coletivo trabalhadoras em luta (CTL) - Oposição sindical;
Cursinho Popular Triu;
GIPE - Grupo de Investigação em Política Educacional da UFSC;
Grupo MIGRA (Migrações, mobilidades e gestão contemporânea de populações) da UFPE;
GPEC - Grupo de Pesquisas e Ensino de Ciências;
Quilha;
Laboratório de de Estudos de Política e Criminologia do IFCH/UNICAMP (PolCrim);
Coletivo de Educadoras e Educadores da Rede Municipal de Campinas;
GPEL - Grupo de Pesquisa Poder Político, Educação e Lutas Sociais- FE UNB e FE USP;
CAL - Centro Acadêmico da Linguagem;
Las Margaritas - Saboaria Popular;
FCL UNESP Araraquara.
Não podemos deixar de agradecer o incrível trabalho feito pelos advogados: Dr. Alexandre Tortorella Mandl e a Dra. Erica Zucatti da Silva. Agradecemos todo trabalho, empenho, paciência e atenção que tiveram conosco. Assim como, não podemos deixar de pedir desculpas por todo desrespeito e engabelação que sofreram com as decisões arbitrárias tomadas pelo presidente da associação.
Agradecemos também à Aninha, por estar conosco nos momentos mais acirrados das lutas deste ano. E à Taís, pelos esforços incansáveis de construir uma SAMEST vinculada com seus princípios históricos.
Também queríamos fazer um agradecimento especial a duas mulheres muito importantes para a luta e história da SAMEST. Queridas Dona Neves e Dona Lourdes, agradecemos por todo acolhimento, apoio, conversas e bons momentos. Aprendemos muito com vocês.
Agradecemos a todos e seguimos em frente, sempre lutando por uma SAMEST digna, autônoma e viva.
Atenciosamente,
Coletivo de Educação Popular Flor de Maio.