Sebastião Salgado

"Quando eu falava dessa América, na Gama, ninguém se interessava. Mas eu sentia que visitá-la era essencial para mim. Queria fotografar seus países, era uma maneira de me sentir mais próximo de minha cultura. As diversas regiões da América do Sul eram diferentes do Brasil, mas eu precisava senti-las. Desde pequeno, sempre ouvira falar das montanhas do Chile, da Bolívia, do Peru. Elas faziam parte de meu universo onírico. Eu precisava conhecê-las, vivê-las. Foi o que fiz – e voltei várias vezes entre 1977 e 1984. Também visitei o Equador, a Guatemala e o México. Em 1979, graças à Lei da Anistia, pude voltar ao Brasil e começar a fotografar meu país. Adorei trabalhar com as diferentes comunidades indígenas: com os trabalhadores do campo e da cidade, com os habitantes das montanhas e as minorias autóctones. Descobri o misticismo do sertão, o Nordeste do Brasil, com seus homens vestidos de couro, conheci sua luta para sobreviver em terras extremamente áridas. Também percorri a Sierra Madre, a cadeia de montanhas mexicanas que se perde nas brumas... Esse trabalho durou sete anos, às vezes digo que durou sete séculos: ele me permitiu viajar por culturas em que o tempo transcorre no ritmo do passado."

(Sebastião Salgado)

Um pouco mais sobre Sebastião Salgado

Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Wanick Salgado

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu no dia 8 de Fevereiro de 1944 em Aimorés, Minas Gerais. Filho de Sebastião Ribeiro Salgado, é o único homem entre nove irmãs. Sebastião Salgado cursou Economia na Universidade do Espírito Santo em 1967 e fez mestrado na Universidade de São Paulo em 1968. Nesse mesmo ano, casou-se com Lélia Deluiz Wanick,  colaboradora em seus projetos. Em 1969, em meio à Ditadura Militar, o casal buscou asilo político em Paris, na França, onde Sebastião Salgado completou seu doutorado em Economia. 

De 1971 até 1973, Sebastião Salgado trabalhou na Organização Internacional do Café como especialista da fiscalização de plantações africanas. Em uma de suas viagens profissionais, ele levou uma máquina fotográfica que pertencia a sua esposa e começou a desenvolver seu amor pela fotografia. De volta a Paris, ele passou a fazer trabalhos e reportagens fotográficas para as agências Gamma, Sygma e Magnum, período em que realizou a cobertura da Revolução dos Cravos, em Portugal. Mais tarde, em 1986, Sebastião Salgado selecionou várias fotos que ele tirou nas suas viagens para América Latina, criando seu primeiro álbum, “Outras Américas". Interessantemente, esse não foi o marco-zero de sua fama: em 1981, cobriu os cem primeiros dias da presidência de Ronald Reagan, tendo sido o único fotógrafo a retratar o atentado contra a vida do presidente americano.

Sebastião Salgado e uma de suas câmeras fotográficas

Sebastião Salgado ainda trabalhou com os Médicos Sem Fronteiras por quinze meses na região do Sahel, disso resultando “Sahel: O Homem em Agonia”, sua segunda obra, também em 1986. A partir desse ano e até 1992 produziu “Trabalhadores”, obra na qual colocava em foco a vida de trabalhadores em vários lugares do mundo. De 1993 a 1999, trabalhou na sua quarta obra, “Êxodos”, publicada em 2000. Em 1994, Salgado criou sua própria empresa, “Amazonas Imagens”, para lidar com a publicação de seus trabalhos. De 2004 a 2012, ele trabalhou em "Gênesis", com um foco maior na natureza. Desde então, vem produzindo obras icônicas, sendo "Perfume do Sonho” (2015) seu último trabalho.

Outras obras Sebastião Salgado para além de "Outras Américas"

Sahel: O Homem em Agonia (1986)

"Sahel: O Homem em Agonia" é uma das obras mais impactantes do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. O livro retrata a devastadora seca que assolou a região do Sahel, na África, durante a década de 1980. Salgado captura, em suas imagens, a dura realidade das populações locais, mostrando a fome, a morte e o desespero de comunidades inteiras. Ao mesmo tempo, as fotografias também destacam a resiliência e a dignidade humana diante de circunstâncias extremamente adversas. A obra é uma documentação da tragédia ambiental e um olhar sensível voltado para a condição humana e a necessidade de solidariedade internacional.

TRABALHADORES (1993)

"Trabalhadores" é um dos projetos mais icônicos de Sebastião Salgado, evidenciadndo seu talento para representar a humanidade e a dignidade dos indivíduos em meio a condições adversas. Nessa obra, Salgado documenta o trabalho manual em várias partes do mundo, oferecendo um testemunho sobre a vida dos trabalhadores em minas, campos, estaleiros e outros ambientes industriais. As imagens são poderosas, muitas vezes retratando pessoas cobertas de sujeira, óleo ou lama, mas ainda assim exibindo uma força e resiliência impressionantes. "Trabalhadores" é uma homenagem àqueles que construíram o mundo moderno com suas próprias mãos, e ao mesmo tempo, uma reflexão crítica sobre as condições de trabalho na era industrial.

EXODUS (2000)

"Exodus" é uma profunda reflexão de Sebastião Salgado sobre os movimentos migratórios massivos observados no final do século pássado. O livro documenta a fuga de populações que buscam escapar dos efeitos da pobreza, da repressão ou dos conflitos. Salgado viajou por mais de quarenta países para capturar as histórias desses migrantes e refugiados, retratando a diáspora de povos por diversas regiões, desde os refugiados curdos no norte do Iraque até os migrantes na fronteira entre o México e os EUA. As imagens de "Exodus" mostram o sofrimento e a desesperança desses indivíduos, mas também sua resiliência e determinação para buscar uma vida melhor.

O FIM DA PÓLIO (2003)

"O Fim da Pólio" é um projeto fotográfico de Sebastião Salgado que documenta a luta global para erradicar a poliomielite. Por meio de imagens poderosas e impactantes, Salgado registra os esforços de vacinação em países africanos. O livro é um testemunho dos desafios e da resiliência dos trabalhadores de saúde, das comunidades afetadas e das crianças que sofrem com a doença. As fotos retratam o sofrimento causado pela pólio e os esforços heróicos para vacinar populações em algumas das áreas mais inóspitas e desafiadoras do mundo. São um lembrete potente e comovente do impacto que uma doença pode ter e da necessidade de esforços de saúde global coordenados.

O BERÇO DA DESIGUALDADE (2005)

Neste trabalho, Salgado, juntamente com Cirstovam Buarque, volta seus olhos para os efeitos duradouros e profundos da desigualdade em diversas regiões da América Latina. O título sugere a ideia de que a desigualdade é endêmica e enraizada na cultura e na história da região. As imagens retratam a vida cotidiana dos menos afortunados, tais como trabalhadores rurais, habitantes de favelas urbanas e comunidades indígenas. As fotos de Salgado para essa obra são intensamente emocionais, capturando a dignidade, o sofrimento, a esperança e a resistência das pessoas em face da adversidade.

ÁFRICA (2007)

"África" é uma das obras monumentais de Sebastião Salgado, na qual ele mergulha profundamente no continente africano para explorar sua diversidade geográfica, cultural e humana. No curso de várias viagens e ao longo de muitos anos, Salgado capturou imagens que vão desde paisagens naturais impressionantes até retratos íntimos de comunidades e indivíduos. Seu foco não é somente documentar a beleza e a riqueza do continente, mas também os desafios enfrentados por seus habitantes, incluindo conflitos, deslocamentos e a luta diária pela sobrevivência. 

GÊNESIS (2013)

"Gênesis" é uma das obras mais ambiciosas de Sebastião Salgado, enfocando a celebração de áreas intocadas da Terra. O projeto exigiu quase uma década de trabalho e envolveu viagens a locais remotos em todos os continentes. O objetivo de Salgado, nessa obra, pe mostrar que, apesar de todas as adversidades, ainda existem lugares no mundo que permanecem  praticamente selvagens. As fotografias em preto e branco capturam montanhas, desertos, oceanos, animais e povos indígenas em sua forma mais pura. Trata-se de uma homenagem à beleza do nosso planeta e um lembrete da importância de proteger e preservar os últimos lugares virgens do mundo.

GOLD: MINAS DA SERRA PELADA (2019)

Em "Gold", Sebastião Salgado elabora uma representação poderosa da febre do ouro que assolou a Serra Pelada, no estado brasileiro do Pará, durante os anos 1980. Descoberta em 1979, a mina tornou-se o maior garimpo a céu aberto do mundo. Sebastião Salgado documentou intensamente essa corrida pelo ouro, capturando a vida árdua e as condições brutais enfrentadas pelos trabalhadores. As imagens mostram milhares de homens subindo e descendo barrancos de lama, carregando em suas cotas sacos pesados de terra e rocha, na esperança de encontrar um pedaço de ouro. Em poucas palavras, a obra retrata o contraste entre a miséria e a esperança, entre o sonho de riqueza e a realidade do trabalho extenuante.

AMAZÔNIA (2021)

"Amazônia" é um projeto ambicioso de Sebastião Salgado que visa documentar e trazer à luz a beleza incomparável, a complexidade e a importância vital da floresta amazônica. Ao longo de vários anos, Salgado e sua equipe viajaram por toda a região amazônica, fotografando não apenas a floresta, mas também os povos indígenas e sua relação profunda e intrínseca com o ambiente. Esse trabalho é tanto uma celebração visual da biodiversidade e da cultura da região como um grito de alerta sobre os perigos enfrentados pela Amazônia devido ao desmatamento e à mineração.