D. Afonso I

O Conquistador

Reinado 1143-1185

Afonso Henriques (1106, 1109 ou 11116 de dezembro de 1185), também chamado de Afonso I, e cognominado de "o Conquistador", foi o primeiro Rei de Portugal, reinando de 1139 até à sua morte. Já anteriormente foi como Conde de Portucale, de 1112 até à sua independência do Reino de Leão. Era filho de Henrique, Conde de Portucale e sua esposa Teresa de Leão, que, à morte do conde Henrique, "ascende rapidamente ao governo do condado, o que confirma o carácter hereditário que o mesmo possuía".Após a morte de seu pai em 1112, Afonso tomou uma posição política oposta à de sua mãe, que se aliara ao nobre galego Fernão Peres de Trava. Pretendendo assegurar o domínio do condado armou-se cavaleiro e após vencer a sua mãe na batalha de São Mamede, em 1128, assumiu o governo.Concentrou então os esforços em obter o reconhecimento como reino. Em 1139, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se Rei de Portugal com o apoio das suas tropas. Ao contrário do que dizem sobre o Tratado de Zamora só tornou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão. A independência portuguesa foi reconhecida, em 1179, pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum e ganhou o título de rex (rei).Com o apoio de cruzados do norte da Europa conquistou Lisboa em 1147. Com a pacificação interna, prosseguiu as conquistas aos mouros, empurrando as fronteiras para sul, desde Leiria ao Alentejo, mais que duplicando o território que herdara. Os muçulmanos chamaram-lhe ibne Arrique ("filho de Henrique", tradução literal do patronímico Henriques) ou Bortucali ("o Português").

Vida

Primeiros anos

Afonso Henriques era filho de D. Henrique de Borgonha que era neto do rei Roberto II de França e de D. Teresa, infanta de Leão, filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão e Castela, a quem Afonso VI doara o condado de Portucale pelo casamento. A data e local do seu nascimento não estão determinados de forma inequívoca. Hoje em dia, a data que reúne maior consenso aponta para o verão de 1109. Alguns autores defendem Viseu como local de nascimento de D. Afonso Henriques, dado a mãe estar documentada nessa povoação por volta desse ano, e ainda a probabilidade de ter nascido em Agosto enquanto outros autores, baseando-se em documentos que remontam ao século XIII referem a data de 25 de Julho do mesmo ano. No entanto, já foram defendidas outras datas e locais para o nascimento do primeiro rei de Portugal, como o ano de 1106 ou de 1111 (hipótese avançada por Alexandre Herculano após a sua leitura da "Crónica dos Godos"). Tradicionalmente, acredita-se que terá nascido e sido criado em Guimarães, onde viveu até 1128. Outros autores, ainda, referem Coimbra como local provável para o seu nascimento.

A educação do infante

Afonso foi entregue pelos pais, como prova de confiança, a um poderoso magnate, Egas Moniz IV de Ribadouro, que o deveria educar. Egas Moniz acolheu Afonso nas suas quintas de Cresconhe e Britiande, recebendo, por esta tarefa, o epíteto O Aio. Existe mesmo especulação sobre a possibilidade de ter sido na verdade filho deste seu aio. O infante ia crescendo em idade e boa índole por educação de Egas Moniz. O nobiliário medieval do conde D. Pedro, quando se refere a Lourenço, filho primogénito de Egas, não deixa de mencionar que este Lourenço Viegas foi o que amou muito el-rei D. Afonso, primeiro rei de Portugal, não no chamava senão irmão, porque o criara seu pai Egas Moniz, destacando a intimidade e afeto que gozou da parte de Afonso Henriques. A criação de Afonso Henriques foi também motivo provável para que Afonso, filho segundo do Aio, que cresceu também com o infante e sendo provavelmente mais novo que ele, ficasse precisamente conhecido como O Moço para o distinguir de Afonso Henriques.

Contexto político do Condado Portucalense, 1112-1127

Afonso ficara órfão de pai com apenas três anos (provavelmente pois a data de nascimento é disputada). De facto, o pai do infante faleceu em Astorga, a 12 de maio de 1112. Como sucessora natural do marido e sua co-governante desde a sua criação em 1096, Teresa comandava sozinha os destinos do Condado Portucalense. Uma das suas mais importantes ambições era ver reconhecido o seu estatuto como legítima herdeira de seu pai, Afonso VI de Leão e Castela (como aliás a sua irmã Urraca de Leão e Castela). Para isso revoltou-se várias vezes contra a sua irmã e empreendeu grandes conquistas para leste, chegando inclusive a intitular-se Rainha de Portugal, por direito próprio, a partir de 1116, sendo reconhecida como tal pelo Papa Pascoal II, pela sua irmã, Urraca de Leão e, posteriormente, por seu sobrinho Afonso VII de Leão. Assinou mesmo como Ego regina Taresia de Portugal regis Ildefonssis filia. Porém, por morte de Urraca de Leão em 1126, sucede-lhe no trono Afonso VII, o qual readopta o título de imperador de toda a Hispânia do avô, deste modo procurando a vassalagem dos restantes estados peninsulares, incluindo entre eles também o Condado Portucalense, que há muito demonstrava tendências autonomistas. No Condado, a entrada de dois irmãos, magnates galegos, Bermudo Peres de Trava e Fernão Peres de Trava, viria a perturbar a já frágil estabilidade que Teresa até então tinha conseguido promover. Seriam provavelmente interventores dos dirigentes galegos Pedro Froilaz de Trava (pai dos dois magnates) e Diego Gelmírez, Arcebispo de Santiago, que estavam interessados em travar a ação da Rainha de Portugal, que, se até então se batera ferozmente, começou a deixar-se enredar no ardil. De facto, a influência que os irmãos Trava exerceram na rainha de Portugal foi forte o suficiente para afastar inclusive o aio de Afonso Henriques dos seus cargos governativos em importantes cidades como Coimbra e Lamego, que são entregues aos galegos.

As primeiras incitações à revolta, 1120-1128

É desta forma compreensível que Egas Moniz começasse a não ver com bons olhos os dois galegos e muito menos o mau governo que Teresa começava a protagonizar: Fernão Peres de Trava chegava inclusive a surgir na documentação como príncipe consorte (o que não era). Assim, como um dos principais lesados das más decisões que a rainha começava a tomar, terá sido o responsável pelas primeiras agitações tumultuosas da nobreza. Esta submissão de Teresa levava Egas Moniz, cabeça da irrequieta nobreza portucalense e guardião do futuro de Portugal, agora ameaçado, na pessoa do infante, a colocar todas as esperanças no seu protegido. Provavelmente por esta altura, Afonso terá possivelmente começado a notar algo diferente no seu educador, que provavelmente o ia informando dos cada vez maiores problemas que a corte condal enfrentava. Amiúde lhe deve ter pintado a sujeição em que Portugal ia recuando no caminho da libertação quase conseguida, a dependência cada vez maior dos galegos a que Portugal se sujeitava na pessoa da sua rainha. O infante que Egas criara e agora incitava à revolta, apesar da ainda curta idade, era, desta forma, também afetado pela vinda dos magnates galegos, que lhe passaram a ser apresentados como os seus inimigos e os que mais ameaçavam a sua herança. Por volta de 1120, com cerca de onze anos, Afonso abandona os paços do seu Aio para se juntar à corte condal, onde confirma documentação com a mãe até 1127, em posição superior a Fernão Peres de Trava. Com a influência acrescida do arcebispo de Braga D. Paio Mendes, Afonso tomou, provavelmente pela primeira vez, uma posição política oposta à da mãe, cada vez mais influenciada pelos Travas, que pretendiam tomar a soberania do espaço galaico-português. O arcebispo, forçado a sair do Condado, levou consigo o infante. No dia de Pentecostes de 1125 armou-se cavaleiro na Catedral de Zamora. Afonso Henriques mostrou mais abertamente a sua rebeldia contra a mãe a partir dos inícios de dezembro de 1127, na carta de couto à ermida de S. Vicente de Fragoso; em maio do ano seguinte, Egas Moniz volta a apoiar novas rebeldias do seu pupilo (como o foral a Constantim de Panoias, e talvez a doação de Dornelas à Ordem do Hospital), tendo anteriormente, por exigência de situações delicadas dos rebeldes, levado o pupilo a reconciliações fingidas com a mãe.