Memória e Documento

Felipe Rossi (1ºEM), Isabella Dias (2ºEM), Julia Rosado (2ºEM), Lucas Catarino (2ºEM), Luana Moura (2ºEM), Madalena Bebber (2ºEM) e Thiago Pippa (2ºEM)

Resumo

Em nossa sociedade ouvimos falar de muitos nomes conhecidos, estudando alguns deles e conhecendo outros através dos meios comunicativos. Porém, podemos reconhecer que cada história não contada, de cada pessoa não considerada relevante, é um documento e faz parte do desenvolvimento de nossa sociedade e formação da memória cultural. Nosso tema visa entender como cada memória compõe a história de uma sociedade e que, dependendo de como essa memória é divulgada, altera a percepção de um senso comum, isso porque documentos são feitos e baseados em memórias específicas divulgadas.

Abstract

In our society we hear about a lot of well-known names by studying about them or getting to know them in different means of communication. However, we can realize that each untold story of each person not considered relevant is a document and is part of the development of our society and the formation of cultural memory. Our theme is to understand how each memory composes the history of a society and that, depending on how this memory is divulged, it alters the perception of common sense. This happens because documents are made and based on specific memories which are disclosed.


Texto

O que é uma memória? Segundo o dicionário, memória é a faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos, ou aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência. Mas deveríamos a considerar tão pouco? Cada definição de memória existente no dicionário não deixa de ser verdade, porém podemos considerar memória uma coisa muito mais importante e marcante na sociedade, como com a simples pergunta: “O que nos diferencia dos animais?” Muitos animais têm a capacidade lógica muito avançada, mas eles se diferenciam de nós em um simples ato, o compartilhamento de memórias e sabedorias. Diferente de nós, eles não repassam entre eles o que eles fizeram para evoluir, o que aprenderam, assim, de geração em geração, todos têm que aprender a lidar de um jeito solo, por si próprio, repetindo os erros. Essa é a grandiosidade da memória, podemos compartilhá-la e nos prevenir, aprender, cada história passa a ser marcante e importante pois são elas que nos diferenciam dos animais, porque são elas que nos ajudam a não repetir nossos erros, é exatamente isso que mostra o Museu da Pessoa.

O museu da Pessoa é um museu criado para registrar memórias e histórias de pessoas que desejam compartilhá-las. Para o museu, cada memória é importante, porque são elas que nos conectam entre nós e permitem a compreensão de nossa sociedade. O museu da pessoa é um museu virtual que possui milhares de registros de memórias de diversas pessoas, onde qualquer um pode acessar e fazer parte do programa. Quando registramos uma memória passa a ser um documento, ou seja, um registro físico de uma parte da história, o Museu da pessoa deseja transformar diversas memórias e histórias em documentos, não só auditivas, mas também visuais como fotos e registros por vídeo, isso porque ajuda a mostrar uma parte não divulgada e registrada pela Grande Mídia

A partir de uma fragilidade no meio comunicativo de massas, em que muitas vezes, ele forma o senso comum de muitas pessoas, pouco aprofundado e pouco informado, acarreta em uma formação de opinião pública manipulada e muita das vezes irracional.Um exemplo disso é muitas pessoas negarem o malefício da época ditatorial no Brasil, porém são pouco informadas sobre o que de fato foi esse período. Daí que surge o memorial da resistência, como forma de preservar memórias e documentos referente a essa época de repressão da liberdade de expressão.

O Memorial da Resistência, hoje situado na Rua Santa Ifigênia, foi criado a partir de uma iniciativa cultural do Estado de São Paulo. Antigamente era um prédio fundado em 1914 e abrigou o Departamento Estadual de Ordem Pública e Social (DOPS) entre 1940 a 1983, no interior desse antigo departamento acontecia as mais horríveis histórias e acontecimentos que futuramente seriam marcados na história da República.

Entre esses acontecimentos, o principal eram as perseguições sofridas por aqueles que eram contrários ao regime da ditadura. O golpe de 1964, fez com que militares tomasse frente à presidência e junto com o quase fim da guerra fria, a elite se colocou aliada aos Estados Unidos, e aqueles denominados comunistas ou socialistas, oposição, não tinha o direito da liberdade de expressão e portanto eram mortos, perseguidos e levados a esse prédio, onde acontecia a tortura e o encarceramento dessa pessoas.

O intuito do Memorial de Resistência é homenagear aqueles que, lutaram pelo exercício da democracia e pela justiça. O governo militar jamais admitiu que houve tortura no Brasil e, é por isso que “Lembrar é resistir”, não devemos jamais esquecer e deixar de lado essa história que faz parte do Brasil e lembrando e discutindo sobre, é a melhor forma de não repetir e sofrer essa injustiça, pois para quem viveu fica a luta pela democracia e para quem não viveu, fica a sabedoria para não repetirmos esse grande erro que foi imposto, pois isso que devemos ter memórias (experiências), de pessoas que viveram esse período, mostrando os fatos sem a manipulação que ocorreu no período da ditadura e que ocorre até hoje na mídia.

Diferente de um Monumento às Bandeiras, localizado no parque Ibirapuera, uma atração turística para muitos, um fato ocorrente no ano de 2017, marcou esse monumento. Uma intervenção feita por um grupo denominado PME (Pixo Manifesto Escrito), que intervieram no monumento através do pixo, foi um ato muito polêmico, em que a imprensa de dispôs a entender como algo de origem vândalo, vandalismo, crime. Tal pixo, no Brasil, é visto como crime, mas o que a mídia não mostrou, foi história representada nessa arquitetura feita. Os bandeirantes foram colonos portugueses, que tinham como objetivo explorar a América do Sul interna, em busca de ouro, prata, minérios preciosos. Usaram mão de obra escrava indígena, mataram, escravizaram e acabaram com diversas etnias indígenas. Um passado obscuro não mostrado, o que é visto atualmente é a visão desbravadora, imponente, além de que são vistos como fundadores e símbolo de São Paulo. Porém a intervenção feita, foi uma forma de chegar nos meios de comunicação a falta de conhecimento e a homenagem que é feita aos bandeirantes sem ao menos conhecer que são de verdade. Mas será que podemos considerar isso um “caso à parte”? Infelizmente esse monumento não é o único que homenageia pessoas/grupos que são símbolos opostos aos direitos humanos, São Paulo está repleta de homenagens a tais pessoas, como por exemplo essas ruas e avenidas mencionadas pelo O globo, como ruas que mudaram (deveriam mudar) seu nome:

Nome: Elevado Presidente Arthur da Costa e Silva

Quem foi: Marechal do Exército, foi presidente ditador entre 1967-1969 e promulgou o AI-5

Onde fica: Liga a região central à zona oeste de São Paulo

O novo nome: Minhocão

Justificativa: Já é o nome pelo qual o elevado é popularmente conhecido

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Nome: Viaduto 31 de março

O que foi: Data reivindicada pelos apoiadores do golpe como o dia em que se iniciou a ditadura

Onde fica: Liberdade, Centro

Qual será o novo nome: Viaduto Therezinha Zerbini

Justificativa: Fundadora do Movimento Feminino pela Anistia

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Nome: Avenida General Golbery Couto e Silva

Quem foi: General do Exército, foi um dos ideólogos do golpe de 1964 e chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI)

Onde fica: Grajaú, zona Sul

Qual será o novo nome: Avenida Giuseppe Benito Pegoraro

Justificativa: Padre italiano, foi o fundador do Centro de Promoção Social Bororé, abrigo de crianças e adolescentes carentes

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Nome: Rua Alcides Cintra Bueno Filho

Quem foi: Delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS), responsável por encobrir casos de tortura e execução

Onde fica: Santana, zona Norte

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Nome: Praça Augusto Rademaker Grunewald

Quem foi: Almirante da Aeronáutica, vice-presidente ditador entre 1969-1974

Onde fica: Itaim Bibi, zona Oeste

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Nome: Avenida Presidente Castelo Branco

Quem foi: Um dos articuladores do Golpe de 1964, foi o primeiro presidente ditador

Onde: Bom Retiro/ Pari - Centro

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Nome: Rua Délio Jardim de Matos

Quem foi: Ministro da Aeronáutica, integrou o gabinete militar no governo Castelo Branco

Onde fica: Campo Grande, zona Sul

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Nome: Avenida General Ênio Pimentel da Silveira

Quem foi: General do Exército, serviu no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e participou de tortura, execução e desaparecimentos forçados

Onde fica: Campo Limpo, zona Sul

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Nome: Rua Senador Filinto Müller

Quem foi: Presidente da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido de apoio à ditadura, teve grande atuação também durante o governo Vargas. É responsabilizado pela extradição da comunista judia Olga Benário, assassinada pelos nazistas

Onde fica: São Rafael, zona Leste

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Nome: Rua Hely Lopes de Meirelles

Quem foi: Juiz, comandou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a partir de 1968 e promoveu Sérgio Fleury ao DOPS

Onde fica: Tatuapé, zona leste

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Nome: Rua Henning Boilesen

Quem foi: Dinamarquês, proprietário da Ultragás, ajudou a financiar a Operação Bandeirantes (OBAN), aparato repressivo que eliminou combatentes do regime

Onde fica: Butantã, zona Oeste

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Nome: Rua Mário Santalucia

Quem foi: Médico-legista do Instituto Médico Legal de São Paulo (IML/SP), teve participação em caso de emissão de laudo necroscópico fraudulento

Onde fica: Vila Maria, zona norte

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Nome: Rua Octávio Gonçalves Moreira Junior

Quem foi: Delegado de polícia, participou de casos de tortura no DOPS e DOI-Codi

Onde fica: Rio Pequeno, zona Oeste

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Nome: Rua Olímpio Mourão Filho

Quem foi: General do Exército, foi presidente do Superior Tribunal Militar (1967-1969), responsável por perseguições políticas

Onde fica: Rio Pequeno, zona Oeste

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Nome: Rua Sérgio Fleury

Quem foi: Delegado de polícia, serviu no DOPS e é acusado pelo Ministério Público de comandar o "Esquadrão da Morte"

Onde: Vila Leopoldina, zona Oeste

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Nome: Rua Trinta e Um de Março

O que é: Data reivindicada pelos militares como início da ditadura

Onde fica: Morumbi, zona Oeste

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Nome: Rua/Avenida/Rodovia dos Bandeirantes

Onde fica: Espalhadas por São Paulo inteira, como: Bom retiro, Vila Bocaina (Mauá), Campinas e Jundiaí

Muitas dessas ruas e avenidas estão para ser renomeadas desde 2015, porém não se foi feito nada significativamente marcante para tirá-las. São Paulo, no ano de 2016, teve o reconhecimento de uma rua específica antes chamada de Elevado Costa e Silva. Costa e Silva, foi um militar, que foi presidente do Brasil em 1967, pós golpe militar, trazendo uma ditadura refletida em tortura e morte, para aqueles contrários a seu mandato. O prefeito em 2016, Fernando Haddad, propôs uma substituição do nome Elevado Costa e Silva, para Elevado João Goulart. Que foi presidente em 1961, sofrendo um golpe em seu mandato, mas representou a liberdade de expressão durante o seu governo.

No mesmo ano, um projeto de lei feito por um vereador Arselino Tatto (PT), foi aceita mudando a Avenida General Golbery do Couto e Silva, no Jardim Lucélia (Grajaú), na zona sul, por Giuseppe Benito Pegoraro. O General Golbery do Couto e Silva, teve participação do golpe militar de 1964, além de fazer parte da repressão, existente no mesmo período. Giuseppe Benito Pegoraro, foi um missionário, vindo da Itália, para ajudar a comunidade paulistana.

Nessa concepção, o patrimônio histórico, faz parte da memória cultural de um país, as medidas que foram tomadas, projetos de leis… Visam rever a memória a partir desses patrimônios. Conservar esses patrimônios, que não constituem uma cidadania, que tem o direito de participar de uma conjuntura política, remete sua falta de identidade cultural no presente.“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro V - valorização da diversidade étnica e regional,; É garantido por lei a participação do cidadão, que se refere aos direitos culturais e a valorização de culturas étnicas, mas isso não ocorre ao se referir aos patrimônios culturais, que mostram a memória priorizando a ditadura e repressão dos grupos. “Direitos Culturais são aqueles afetos às artes, à memória coletiva e ao repasse de saberes, que asseguram a seus titulares o conhecimento e uso do passado, interferência ativa no presente e possibilidade de previsão e decisão de opções referente ao futuro, visando sempre à dignidade da pessoa humana”, segundo Francisco Humberto Cunha Filho Bacharelado em Direito pela Universidade de Fortaleza. A memória que é construída, excluem grupos, tornando a uma memória ilegítima, sobretudo impopular, em que a população é reprimida e a memória, torna-se cada vez mais visível em uma imposição de nomes e homenagens, muita das vezes inaceitáveis.