Skate: Mais que um esporte

Alan Kreimer (9°EF), Maria Eduarda Castelo Branco (9°EF), Matheus Horcimski (9°EF), Pedro Laenza (9°EF),

Arthur Cestaro (1°EM), Júlia Caron (1°EM) e Piero Ruas (2°EM)

Resumo

De passatempo de marginal à esporte olímpico: o skate fará sua estreia nos Jogos Olímpicos de 2020, sendo alvo de um intenso preconceito social ao mesmo tempo que reúne jovens em uma tribo que se orgulha de sua diversidade e aceitação. Com grandes números tanto em praticantes quanto em impacto econômico e a recém conquistada exposição olímpica, fica difícil explicar o cenário de preconceito e o limite à expressão de seus praticantes. A explicação, entretanto, fica muito mais clara quando olhamos dados de pesquisas: os skatistas são jovens da classe C. O skate está ligado de modo claro à liberdade de expressão individual e coletiva. Todas as manobras, estilos, idades e gênero mostram que cada um faz do esporte e de sua vivência aquilo que quer, como expressão livre do corpo.

Abstract

From a marginal hobby to Olympic sport: the skateboard will make its debut at the 2020 Olympics, being the target of intense social prejudice while bringing together young people in a tribe that is proud of its diversity and acceptance.With large numbers in both practitioners and economic impact and the newly conquered Olympic exhibition, it is difficult to explain the scenario of prejudice and the limit to the expression of its practitioners.The explanation, however, becomes much clearer when looking at research data: skateboarders are young in Class C. Skateboarding is clearly linked to individual and collective freedom of expression. All maneuvers, styles, ages and gender show that everyone makes sport and their experience what they want, as a free expression of the body.


Texto

De passa-tempo de "marginal" a esporte olímpico: o skate, modalidade que fará sua estreia nos Jogos Olímpicos de 2020, ainda é alvo de um intenso preconceito social ao mesmo tempo que reúne jovens em uma tribo que se orgulha de sua diversidade e aceitação.

A conotação pejorativa do esporte é retratada no documentário "Skate SP - Um documentário sobre preconceito ao skate em São Paulo", produzido por Cristiane Abreu e JC Ventura e lançado em 2013. Apresentando um breve panorama da história do skate em São Paulo, o documentário entrevista profissionais, amadores e empresários da área para discutir a resistência de outros setores da sociedade em ver os praticantes desse esporte como sérios atletas.

E, aparentemente, nada mudou na percepção social desde de 2013. Embora anunciado como esporte olímpico desde 2016, o documentário de 2017 "Quatro Pequenas Rodas”, de Raphael Pereira e Weliton Martins, mostrou em Curitiba um cenário de ainda muito preconceito com esse esporte que movimenta um mercado tão grande.

Segundo informações da Sports Good Intelligence (SGI), em parceria com a Adventure Sports Fair (ASF) e a promotora alemã de eventos esportivos ISPO, o mercado brasileiro do skate movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano em roupas e acessórios (fonte). Número esse que não representa nenhuma surpresa se considerarmos que de 2009 a 2015 o número de praticantes do esporte dobrou no país e atingiu 8,5 milhões segundo pesquisa do DATAFOLHA (fonte).

Com números tão grandes tanto em público como em impacto econômico e a recém conquistada plataforma olímpica, fica difícil explicar o cenário de preconceito e o limite à expressão dos praticantes desse esporte. A explicação, entretanto, fica muito mais clara quando olhamos os demais dados da pesquisa do DATAFOLHA: os skatistas são jovens da classe C.

Claro que um esporte cuja prática predomina entre a juventude pobre brasileira seja visto pela nossa elite como evidência de marginalização. O preconceito, como aponta o documentário curitibano listado acima, apresenta consequências práticas para o crescimento do esporte. Mais do que isso, no entanto, a percepção social pejorativa do skate faz com que seus praticantes não sejam ouvidos ou levados a sério. E nada melhor para tolher a liberdade de expressão de um grupo do que os desacreditar.

A liberdade de expressão é um direito fundamental da humanidade, que garante a manifestação de opiniões diversas ao contrário de uma mera imposição de ideias por um grupo a outro. E, por isso mesmo, precisamos permitir que esse grupo, que hoje conta com atletas reconhecidos no mundo inteiro, capazes de levar multidões para inaugurações de pistas de skate, seja ouvido.

O skate está ligado de modo claro à liberdade de expressão. Quando se anda de skate, você não segue padrões, nem regras, não existe o preconceito e a limitação de expressão. Todos podem ser diferentes naquele lugar, e todos se veem do mesmo jeito, não excluindo ou negando as ideias do outro. Todas as manobras, estilos, idades e gênero mostram que cada um faz do esporte e de sua vivência aquilo que quer sem julgamento. É a expressão livre do corpo. Skate é diversidade. O preconceito está, portanto, em quem olha de fora esse grupo sem a disponibilidade necessária para o compreender.

Existem dezenas de pistas de skate na cidade de São Paulo, espaços considerados próprios para o skate, porém, os skatistas da modalidade street skate conferem maior importância à prática feita nas ruas, onde, para muitos, se “anda de skate de verdade”. Foi justamente em razão disso que um dos maiores desentendimentos entre esse grupo e outros setores da sociedade aconteceu:

Em 2012, na reinauguração da Praça Roosevelt, no centro da cidade, skatistas foram atraídos pela nova arquitetura da praça com diversos bancos adequados para fazer manobras. Entretanto, foram recebidos com reclamações da vizinhança pelo barulho e acusados de vandalismo pela população, sendo alvo também de violência policial (fonte). A atitude da polícia tinha como único objetivo impedir a prática do esporte tolhendo a liberdade do grupo de se expressar por essa maneira de habitar a cidade.

A liberdade de expressão é tolhida pela censura e retaliação de governos e entidades públicas e privadas, além dos próprios indivíduos. Enquanto discutimos com frequência a liberdade de expressão da mídia, é importante lutar por essa mesma liberdade dos grupos que justamente não aparecem na mídia ou não são retratados por ela de maneira positiva ou realista. Enquanto a liberdade de expressão da mídia traduzida na liberdade de imprensa é fator fundamental para um estado democrático de direito (fonte), a liberdade de expressão dos indivíduos pertencentes a classes não dominantes é essencial na defesa dos direitos das minorias e na busca pela igualdade. Importante destacar, nesse sentido, o papel da internet que democratiza a informação e abre canais paralelos para a informação e construção do conhecimento. Ela dá voz a inúmeras pessoas e grupos cujas posições ficariam de fora dos círculos de divulgação tradicionais, como a grande mídia e a publicidade (fonte).