Emanuel Fernandes - 26/Abr/2011
Local:
Restaurante Tourinho, Av. Indianópolis 3411
Descrição:
Tivemos mais uma excelente noite com a palestra do Emanuel Fernandes. O ótimo resumo está ao lado e foi escrito pelo Arantes MEC-77.
No Espaço do Empreendedor tivemos o Jackson Matsuura COMP-95, professor no ITA, comentando sobre o RoboCup e a participação dos ITANDROIDS.
Uma completa explicação sobre o assunto está aqui: http://www.ele.ita.br/~jackson/rc.pdf
Além de explicar sobre a participação do time do ITA nos eventos, o Jackson lançou um desafio/provocação: nas Copas da França, Alemanha e Japão o RoboCup foi realizado nos mesmos países. Já na Copa da África do Sul não - foi em Singapura. E em 2014, teremos o RoboCup no Brasil?
Existem oportunidades de patrocínio e auxílio para o time e esta iniciativa do ITA.
O contato é Jackson Matsuura - jackson@ita.br
Fotos:
Gentilmente escrito pelo Arantes MEC-77
O Bostejo do Mané
Ontem, 26 de Abril de 2011, nos reunimos no restaurante Tourinho, na Av.
Indianópolis 3411, São Paulo, para ouvir o colega Emanuel Fernandes, formado pelo ITA
AER-81, e atual Secretário do Planejamento do Governo de São Paulo, falar sobre os
planos e perpectivas do governo desse estado para os próximos anos. O público, de cerca
de 70 pessoas, era em sua quase totalidade ex-alunos do ITA de diferentes gerações.
A apresentação rápida do Emanuel lembra que ele foi prefeito de São José dos
Campos em duas gestões, 1996-1999 e 2000-2003, secretário da Habitação do governo de
São Paulo de 2004 a 2005, suplente e deputado federal de 2006 a 2010, eleito deputado
federal para o período 2011 a 2014, e secretário do Planejamento do governo de São Paulo
a partir de 2011. Trabalhou no INPE e ainda é funcionário daquela instituição embora
afastado para exercer atividades políticas.
O Mané começa a palestra lembrando suas experiências como prefeito. Naquela
época, diz ele, sentia-se como enxugando gelo. Se melhorasse o atendimento médico em
um posto de saúde, na outra semana, aparecia mais e mais gente precisando de assistência
médica. Se construísse uma escola, rapidamente ela era preenchida e mais escolas eram
necessárias. Os recursos eram sempre insuficientes e existia falta de tudo em quantidade.
São José tinha a agravante de ser uma cidade importadora de migrantes e daí as demandas
por infra-estrutura básica serem sempre crescentes.
Mas, as coisas começaram a mudar nos últimos 10 anos. Dados da última pesquisa do
IBGE mostram que 96% da população do país moram em cidades, isto é, o Brasil tornou-
se um país urbano. O grande esforço de transição, vivido pelos nossos pais, de sair da
vida rural para a vida urbana já foi completado. Essa mudança requer grandes adaptações
culturais e sociais das pessoas, famílias e comunidades envolvidas bem como enormes
investimentos governamentais em infra-estrutura: escolas, saúde, saneamento, moradia,
segurança e outros.
Dados do IBGE também indicam que a pirâmide etária da população brasileira
mudou. Há uns 20 anos, a população em uma dada faixa etária era sempre maior que a
população mais velha em uma faixa etária de mesma largura. Por exemplo, a população
com idade de 10 a 15 anos era maior que a população com idade de 15 a 20 anos e assim
sucessivamente. Isto resultava em que a pirâmide etária era realmente uma pirâmide.
Atualmente, a pirâmide etária no Brasil é um losango. Isto é, o número de crianças bem
como o número de velhos é pequeno em relação ao número de adolescentes e adultos. Esta
mudança ocorreu devido a alterações no índice de natalidade das famílias brasileiras.
A pirâmide etária atual, na forma de losango, é bastante favorável ao país visto que
existe uma grande proporção de adultos e adolescentes em relação ao número de crianças
e idosos. Portanto, existe uma grande porcentagem da população apta para o trabalho e
apta para gerar riqueza para o país, riqueza esta que será distribuída por toda a população.
Essa janela de oportunidade, devido à mudança da distribuição etária da população, vai
existir por um certo período de tempo. Estima-se que esse bonus, no Brasil deva durar até
2030 ou 2035. A partir de então o país terá uma pirâmide etária invertida onde o número
de pessoas mais velhas será maior que o número de pessoas mais novas em faixas etárias
de mesma largura. A partir de então, o país terá uma grande porcentagem de idosos e,
possivelmente, haverá problemas com o sistema previdenciário.
Os fatos citados acima, término da migração zona rural para a zona urbana e mudança
na pirâmide etária brasileira, facilitam os governos brasileiros, em seus diferentes níveis,
a proverem serviços e infra-estrutura que a população necessita. A população infantil nos
próximos anos tende a ser menor que a população infantil atual e, portanto, novas escolas
não serão necessárias. Portanto, os recursos reservados à educação, que superam 25% do
orçamento, devem ser direcionados de forma a resultar em melhores condições de trabalho
para os professores, em melhoria na qualidade do atendimento ao aluno e na expansão
das atividades da pré-escola. A capacidade de investimento do estado e do governo está
se recuperando. Nos próximos anos o investimento anual do governo de São Paulo deverá
ser da ordem de 15 bilhões enquanto que no passado esse investimento era em torno de 5
a 7 bilhões Assim, as demandas e deficiências de infra-estrutura de ruas, moradia, água,
saneamento, saúde deverão ser diminuídas e, eventualmente, atendidas. Em consequência
disso, espera-se que, em São Paulo nos próximos 10 anos, os índices de mortalidade
infantil, criminalidade, educação média do trabalhador entre outros, atinjam níveis de
primeiro mundo.
As perspectivas são boas em termos econômicos. O receio, segundo o Mané, é que
os valores morais e éticos que nossos pais nos transmitiram, solidificados pelos grandes
desafios enfrentados durante o período de migração da vida rural para a vida urbana,
não sejam adequadamente preservados nas próximas gerações. Consolidar os ganhos da
transição exigiu, de nossa geração, um grande esforço que resultava em uma mudança
de patamar em termos de qualidade de vida. Ia-se em frente porque a alternativa, de
permanecer ao nível de nossos pais, era extremamente inadequada. Estas necessidades
sedimentavam valores e caráter. Atualmente, os desafios são menos claros e os ganhos
menos significativos. Adiciona-se a isso as complexidades das novas tecnologias e forma
de comunicação – internet, celulares, redes sociais, computação em nuvem, e outras.
A importância da educação como ferramenta de mudança e desenvolvimento de
longo prazo é incontestável. Contudo, o Brasil infelizmente ainda não tem a educação
como um valor devidamente arraigado nas pessoas (este é um trabalho que deve ser
reforçado nas famílias e na sociedade). A experiência de governo do Mané ensinou-lhe que
a população brasileira é imediatista. Entre ter acesso a asfalto ou ter uma escola, a escolha
invariavelmente é pelo asfalto. Querem resultados hoje. Os políticos, por outro lado, são
sensíveis às pressões visto que dependem de seus eleitores. Portanto, devemos entender os
diferentes atores e contribuir para conciliar interêsses visando o melhor para a comunidade
e para o país. Os políticos às vezes são vítimas de seu próprio discurso, por exemplo,
defender a não privatização quando sabe que privatizar seria o caminho. Palocci, segundo
ele, é político de bom senso, inclusive por que entende de aritmética, coisa rara em Brasília.
Mané acredita na livre iniciativa, no estado pequeno e na importância de
assumir responsabilidades. Para ilustrar mencionou os fundamentos de como obter
um subdesenvolvimento sustentável: (1) acreditar que há sempre um culpado, que não
você, pelo seu insucesso; (2) acreditar que há sempre alguém que virá te salvar; (3)
acreditar que recursos sempre existem o que falta é vontade política. Segundo ele, países
desenvolvidos ou não, que passem a seguir esses fundamentos atingirão, com certeza,
um subdesenvolvimento sustentável. Para ilustrar citou ainda que a razão do sucesso
brasileiro no futebol é porque todos, inclusive as crianças, sabem as regras do jogo e o que
devem fazer para se destacar nessa atividade. A livre iniciativa faz o resto. O governo, se
interferir, com regras, cotas ou concursos, vai prejudicar a atividade. Apesar de acreditar
em um estado pequeno, o Mané defende o governo como incentivador de emprendedores e
inovação.
O Mané é bom de prosa, criado na roça, esbanja simpatia e tem orgulho de suas
origens e trajetória. No período pré-vestibular, trabalhava na GM e fazia o CASD, cursinho
gerido e tocado pelos alunos do ITA. Segundo ele, tinha que fazer o ITA, pois não teria
condições financeiras para cursar qualquer outra faculdade. Aproveita o gancho e afirma
que qualquer pessoa com um sonho e bastante esforço é capaz de grandes realizações. Até
mesmo ele, pouco inteligente (sic), conseguiu entrar no ITA. Conclama a todos a terem
sonhos e a se esforçarem para torná-los realidade. Somente assim, afirma, o Brasil terá
chance de se desenvolver como país.
Arantes T77 / T78
Áudio:
1a Intervenção: Educação (6min)
2a Intervenção: mais sobre Educação (5min)
3a Intervenção: Cidade de SPaulo (11min)
4a Intervenção: Copa do Mundo (10min)
5a Intervenção: Incentivos à Inovação (4min)
6a Intervenção: Aeroportos (4 min)
7a Intervenção: Subdesenvolvimento Sustentável (5 min)
Fechamento: Perseguir um sonho...(1 min)
Quem foi: