As intervenções focais serão concretizadas na indicação dos lugares de memória relacionados à ditadura militar na Universidade de Brasília. Estes lugares foram identificados, principalmente, por meio do Relatório da Comissão Anísio Teixeira da Verdade e Memória, com complementações do mapa impresso do projeto “UnB território livre”, realizado na semana universitária de 2024.
É de relevância citar, também, as iniciativas já realizadas acerca dessas memórias, principalmente, para este trabalho, aquelas que deixaram marcas físicas nos locais.
LUGARES DE MEMÓRIA
OCA I e OCA II
Faculdade de Educação
Quadra de basquete
Barracão da FEUB
ICA-FAU (SG 1)
ICA-FAU (SG 10)
Colina Velha
SG 12 (Biblioteca)
ICC
Teatro de Arena
CEU
Restaurante Universitário
Reitoria
INICIATIVAS
A. Placa da Praça Edson Luis
B. Placa da quadra
C. Mosaico Honestino
Construídos em 1962.
A OCA I e OCA II foram os primeiros edifícios do campus da UnB, abrigavam alojamentos, serviços comunitários e administrativos;
Ao lado da OCA I, foi erguido, no mesmo sistema construtivo, um outro edifício destinado ao restaurante universitário.
Pelo tipo de ocupação, esses edifícios foram palco de várias manifestações contrárias à ditadura e à intervenção militar na Universidade, mas também alvos de vigilância constante e invasões policiais.
Conjunto construído entre 1961 e 1962; composto pela FE-1, FE-3 e FE-5.
O conjunto da Faculdade de Educação foi, por muito tempo, a centralidade da Universidade de Brasília. Por isso, muito dos acontecimentos durante o início da ditadura se deram lá. A área em que está inserida foi alvo de muitas ocupações militares, como a primeira invasão da UnB, em 1964, mas também de protestos e resistência estudantil, como as concentrações na Praça Edson Luiz, à frente da FE-1.
Foi nessa área que os agentes “esqueceram” a viatura, que acabou sendo queimada por estudantes, após a prisão de Honestino Guimarães e que justificou a ocupação militar do campus e as violências do dia 29 de agosto de 1968.
FE 1: possui salas de aula, de matérias básicas; ao seu lado, está a Praça Edson Luiz, em homenagem ao estudante morto pelos militares no Rio de Janeiro, foi nela que estudantes se concentraram para uma reunião e seguinte passeata em direção à reitoria em 19 de maio de 1977;
FE 3: abrigou a Reitoria, até 1975; a AJU (Assessoria Jurídica , a qual tomava o depoimento de estudantes perseguidos; e a ASI (Assessoria de Segurança e Informação), que fazia parte de uma rede de espionagem e repressão na UnB.
Foi local de embates entre estudantes e administradores, protestos estudantis e invasão militar, em destaque nos anos de 1964 e 1968.
FE-5: conta com Auditório Dois Candangos e de salas de aula. O Auditório Dois Candangos sediou muitos momentos importantes para a história da UnB, como assembleias de alunos e professores; entre os acontecimentos mais marcantes, destaca-se a assembleia da FEUB, em 1968, em que foi estendida uma bandeira vietcong na mesa, e a palestra de Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, em que os estudantes, em protesto da presença do americano no campus, foram até o Auditório e jogaram ovos e tomates, fazendo com que Kissinger saísse de camburão, seguido de repressão policial violenta.
Construída na década de 1960.
A quadra se encontrava no ponto central da universidade, principalmente na década de 1960.
Era o ponto de encontro de alunos e, também, utilizada como local de detenção de alunos durante ocupações militares do campus, para “triagens e revistas”, como chamado pelos agentes, ocorrência relatada duas vezes em 1968 e em 1977.
Construído na década de 1960.
Tratava-se de uma edificação em madeira, de um pavimento e em frente a FE-3, foi sede da FEUB, a Federação dos Estudantes Universitários de Brasília e da DCE.
Foi importante foco de resistência estudantil contra os abusos da ditadura e da reitoria da UnB. Sendo repetidamente fechada a comando dos reitores e, em 1968, invadida por militares, com a prisão de Honestino Guimarães em 29 de agosto.
Foi demolida em 1976, a comando do reitor José Carlos Azevedo.
Ocupava principalmente o SG 1 e SG 10, construídos em 1963;
O SG 1 e SG 10 fazem parte do conjunto de SGs projetados por Oscar Niemeyer, juntamente com os SGS 2, 3 e 4; o SG 10 também abrigou o Ceplan (Centro de Estudos e Planejamento Arquitetônico e Urbanístico);
Os estudantes do ICA-FAU desempenharam um papel de destaque na resistência e mobilização estudantil, tendo criado o primeiro órgão de representação estudantil, o Diretório Acadêmico da Arquitetura (DACAU).
Um exemplo emblemático foi o episódio conhecido como Crise do ICA-FAU, ocorrido entre 1967 e 1968. Durante esse período, os alunos do instituto suspenderam as aulas, fecharam os prédios ocupados e iniciaram uma greve que se estendeu por vários meses.
Construída em 1963.
A Colina foi construída para ser a residência de professores e servidores do campus, substituindo as OCAs. Nela, professores foram capturados pelos militares e levados presos, como Maria Nazareth Pedrosa.
Um episódio memorável foi a invasão por estudantes do apartamento do professor Román Blanco e a retirada de mobília para fora do apartamento, em 1968. Esse foi um ato metafórico de sua retirada da UnB, já que os estudantes exigiam sua exoneração após este ter fechado as portas da biblioteca no espancamento de alunos após o protesto na visita de John Tuthill.
Construído entre 1963 e 1964.
O prédio da SG 12 era onde se localizava a Biblioteca Central, até 1973, com a construção da BCE, e também salas de professores.
Durante a primeira invasão da UnB, em 9 de abril de 1964, o prédio foi ocupado por militares, sendo interditado por cerca de 15 dias, período em que agentes revistaram documentos e as salas de professores. Houve, também, a visita do embaixador americano John Tuthill, no dia 20 de abril de 1967. Em que um protesto de alunos foi violentamente reprimido, com o espancamento e prisão de estudantes.
Construído a partir de 1963.
O ICC foi local de abrigo de estudantes durante ocupações do campus, alvo de invasões policiais, palco de assembleias, manifestações e greves, circuito de passeatas, entre outros. Esteve intimamente ligado aos acontecimentos que se deram na UnB durante a ditadura militar.
Dentre os espaços mais marcantes, destacam-se: os Anfiteatros ANF 4 e ANF 9, locais de diversas assembleias e reuniões; as Entradas Norte e Sul, em que aconteceram a “Bandejinha”, apresentações de peças teatrais durante greves, assembleias e concentrações; as Rampas Norte e Sul, onde alunos se concentravam para manifestações; e a sala da DCE-UnB, que foi conquistada pelos alunos no começo de 1982.
Além disso, foi refúgio de alunos, que fugiam de militares, em suas muitas invasões. Uma das ocorrências mais emblemáticas foi a violenta invasão de 1968, em que os alunos correram para o ICC, ainda em construção, fugindo e se defendendo com materiais da obra, seguidos de agentes, os quais ocuparam e depredaram salas e agrediram alunos, levando-os para a quadra de basquete.
Construída na década de 1970.
O Teatro de Arena serviu como espaço de mobilização estudantil .
Era lá que os alunos se reuniam para assembleias, passeatas e manifestações culturais, como a palestra de deputados sobre o tema “Constituinte” e as diversas assembleias, durante a greve estudantil de 1977; as reuniões realizadas em 1980, durante a paralisação contra a permanência do reitor Azevedo; e as mobilizações “Diretas Já” em 1984.
Construído entre 1970 e 1972 e em 1975.
Os alojamentos, que se encontram no CO, abrigaram os estudantes e eram os locais em que eram realizadas reuniões, as vistorias dos quartos e onde os estudantes, vindos de vários estados, ficaram para participar da concentração no MEC no dia 21 de maio de 1980.
Construído entre 1971 e 1974.
Foi lá que eram realizadas reuniões, panfletagens, manifestações e assembleias, além de manifestações culturais e artísticas.
Em 1976, devido ao aumento do preço da refeição e o fechamento durante o recesso, os alunos promoveram um boicote ao R.U. — a “Bandejinha” — com a venda de alimentos pelos próprios estudantes.
Construída entre 1972 e 1975.
A partir de 1975, a Reitoria, que ficava na FE-3 foi transferida para o novo prédio, assim como ASI e AJU.
O prédio foi palco de manifestações e protestos de estudantes e professores contra os abusos e violências cometidos durante a ditadura, inclusive pelos reitores, como no ano de 1977.
Destaca-se a ocupação da edificação por alunos em 1984, com protestos e a greve de fome de alunos.