Ritual para adiar nosso fim 

Video-perfomance 25'48''

Série fotografica 

Performance 

2021

“Ritual para adiar o nosso fim”, é um trabalho de performance construído a partir de um dos maiores eventos símbolos da violência policial para a cidade do Rio de Janeiro. O local da chacina de Costa Barros, marcada pela brutalidade, o exagero e a tentativa de um ardil típico da forças militares em áreas pobres e regiões periféricas, é o terreiro onde está assentado um pedido de salvação e justiça. Questionando a vulnerabilidade do meu corpo e também dos corpos que me cercam de forma mais ou menos íntima dentro desse mesmo território, no qual nasci e cresci. 

 A performance tem como ponto de partida a casa da minha família, onde inicia-se um percurso até o local da chacina. Transportando com um carrinho de mão os materiais que serão utilizados, atravesso dois territórios rivais, presentes no mesmo bairro, para chegar ao meu destino.   Ritualizando simbologias presentes no bairro, faço uso de plantas de asè que, em sua maioria, foram coletadas em canteiros, quintais e percursos do bairro. Que serão plantadas com 5 moedas douradas, em 5 vasos de barro. 

O número cinco aparece no trabalho como representação dos cinco 5 jovens assassinados e dos 5 anos da chacina, completados em novembro de 2020 e abrangendo também os diversos significados que esse número representa em diferentes cosmovisões. 

 Ao chegar no lugar da chacina, inicio o ritual usando uma tinta de urucum vermelha, para escrever no chão em forma de círculo, a frase “aqui não está e não ficará, contemplai seu silêncio não heroico.”, referência ao trabalho de hélio oiticica em Caixa Bólide 18 /Bólide-Homenagem à Cara de Cavalo (1966), intervindo com “nãos” na frase original. 

Em volta desse circulo, disponho os vasos de barro e começo a preenchê-los com terra preta, até chegar na metade do seu volume. Distribuindo em seguida, uma moeda dourada para cada vaso, que são completados com terra logo em seguida.   

Espadas de São-Jorge e de Santa-Barbára , Alfavaca, Guiné, Comigo-ninguém-pode, Boldo-Brasileiro e Peregun, são as plantas utilizadas no ritual, distribuídas entre os vasos.  Com um regador, rego os vasos dando cinco voltas, lavo as mãos e finalizo a performance.

"Aqui não está e não ficará

                                                contemplai seu silencio não-heroico"*

*A frase usada no ritual faz referencia a frase usada por hélio oiticica em seu  trabalho “Bólide – Caixa 18” de 1966, intitulada “Homenagem a Cara de Cavalo”  

Ficha técnica:

Fotografia e edição de fotografia: Paulo Vinicius 

Filmagem e edição de vídeo: Carla Villa-Lobos

Apoio: Artistas Latinas

Agradecimentos:

Leandro Sant'anna; Mayara Velozo; Mauricéa Ramos; Maria Cristina Ramos; Paulo Farias e Viviane Laprovita.