Doenças

Doenças triadas no Teste do Pezinho

Atualmente o Teste do Pezinho oferecido no SUS tem cobertura para seis doenças. Quando identificadas no teste, exames complementares são realizados, e, se confirmado, o SUS oferece o tratamento e acompanhamento do bebê e da família, através do Serviço de Referência em Triagem Neonatal de cada estado.

As seis doenças triadas no Teste do Pezinho oferecido pelo SUS são: fenilcetonúria, anemia falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, hipotireoidismo congênito, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita.


Fenilcetonúria

A Fenilcetonúria tem um papel significativo na história dos erros inatos do metabolismo, pois foi a primeira doença genética a ter tratamento estabelecido com terapêutica dietética específica. A doença fenilcetonúria se caracteriza pela deficiência da enzima hepática fenilalanina hidroxilase (FAL-OH), o que leva ao acúmulo de aminoácidos FAL no sangue e acúmulo de fenilcetonas na urina. Caso não identificada no período neonatal, a criança pode apresentar atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor, deficiência mental, comportamento agitado, convulsões e odor característico na urina.

Através do Teste do Pezinho, é identificado a quantidade de FAL por meio de uma amostra de sangue colhida em papel-filtro, e quando identificada a alteração, é encaminhada para exames confirmatórios. Após confirmação da doença, é iniciado uma dieta com baixo teor de FAL, ou seja, uma fórmula infantil especial, que possui quantidades mínimas deste aminoácido, desta forma, mantendo o monitoramento adequado deste aminoácido, o crescimento e desenvolvimento da criança ocorre normalmente. O tratamento deve ser iniciado até 21 dias de vida do bebê e mantido por toda vida.

O SRTN fornecerá o tratamento e acompanhamento do bebê e da família.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

sbteim.org.br

Anemia falciforme e outras hemoglobinopatias

Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias representam um grupo de doenças hereditárias em que ocorre a produção anormal da molécula da hemoglobina, na doença falciforme esse defeito da estrutura da cadeia beta da hemoglobina leva as hemácias assumirem forma de lua minguante quando expostas a determinadas condições, como febre, infecções, entre outros. As hemoglobinopatias podem ser resultados de um defeito no gene que ajuda a controlar a produção das cadeias da globina que formam a molécula da hemoglobina, chamada de talassemia, ou também serem originadas de alterações envolvendo genes estruturais que formam a molécula de hemoglobina com características bioquímicas diferentes, chamadas variantes. As hemoglobinas variantes mais frequentes são a hemoglobina S (Hb S) e hemoglobina C (Hb C). O indivíduo heterozigoto para Hb S é popularmente conhecido como “traço falcêmico” ou “traço falciforme” (Hb AS).

O paciente afetado pode apresentar anemia hemolítica, crises vaso-oclusivas, crise de dor, insuficiência renal progressiva, acidente vascular cerebral, alterações no desenvolvimento neurológico com provável etiologia vaso-oclusiva de sistema nervoso central. O ideal é que o tratamento seja iniciado antes dos quatro meses de vida, evitando infecções e outras complicações que podem levar à morte. A ação integral da saúde aos portadores das hemoglobinopatias inclui medidas profiláticas (esquema especial de vacinação), antibioticoterapia profilática, educação dos pais, suporte psicossocial e monitoramento do desenvolvimento de dano orgânico crônico.

Estima-se a existência de dois milhões de portadores do gene da Hb S no Brasil e que 25 a 50 mil pessoas tenham a forma homozigótica (Hb SS), denominada de Doença Falciforme.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

Ministério da Saúde. Dados sobre o Programa Nacional de Triagem Neonatal.2017

Fibrose Cística

Fibrose Cística é uma doença rara e ainda sem cura, doença hereditária determinada por um padrão de herança autossômica recessiva e afeta principalmente os pulmões e o pâncreas. O processo obstrutivo, causado pelo aumento da viscosidade do muco, bloqueia as vias aéreas facilitando a proliferação bacteriana, o que pode causar infecção crônica, lesão pulmonar e até óbito por disfunção respiratória. No pâncreas, essa obstrução dos ductos leva a uma perda de enzimas digestivas e à má nutrição. Através da triagem neonatal é possível identificar o aumento do tripsinogênio imunorreativo (IRT) no sangue coletado em papel-filtro, contribuindo para o diagnóstico precoce, antes das manifestações clínicas. Quando identificado o aumento de IRT é solicitado nova coleta e testes confirmatórios, como o Teste do Suor que é a determinação dos eletrólitos no suor, considerado padrão ouro para diagnóstico de Fibrose cística.

O tratamento consiste em acompanhamento médico regular em Centros de Referência (SRTN), preservação de um bom estado nutricional (suporte dietético), utilização de enzimas pancreáticas, suplementação vitamínica, fisioterapia respiratória, prevenção e tratamento dos transtornos emocionais, aconselhamento genético. Além do esquema vacinal habitual, a criança deve receber imunização anti-pneumocócica e anti-hemófilos e quando complicações infecciosas, antibioticoterapia de amplo espectro.

O Instituto brasileiro de Atenção à Fibrose Cística, Unidos pela Vida, é uma organização social sem fins lucrativos que tem por objetivo fortalecer e desenvolver o ecossistema da fibrose cística através de ações que auxiliam na qualidade de vida de paciente e familiares. Ele foi fundado por Verônica, portadora de fibrose cística, no site Unidos pela Vida paciente e familiares tem acesso a informações sobre a doença.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

Ministério da Saúde. Dados sobre o Programa Nacional de Triagem Neonatal.2017

unidospelavida.org.br

Hipotireoidismo Congênito

O Hipotereoidismo Congênito (HC) é a incapacidade da glândula tireóide de produzir quantidades adequadas do hormônio tireoidiano, presente ao nascimento. Os hormônios tireoidianos são primordiais para o crescimento, maturação óssea e organogênese do sistema nervoso central até os primeiros anos de vida da criança. O momento ideal para o diagnóstico é no período neonatal, pois a partir da segunda semana de vida, a deficiência dos hormônios tireoidianos podem causar alguma lesão neurológica. Quando o diagnóstico é realizado de forma precoce, a terapia de reposição hormonal é realizada em tempo oportuno.

Após resultado positivo no Teste do Pezinho, é realizado dosagem de T4 (hormônio tiroxina) livre e total e TSH (hormônio estimulador da tireóide) em amostra de sangue venoso. Caso confirmado, será iniciada a reposição hormonal com a administração oral de T4. O tratamento deverá ser monitorado por exames de laboratório por meio da determinação das concentrações plasmáticas de T4 livre e total e TSH. O prognóstico depende do tempo decorrido para o início do tratamento, da severidade do hipotireoidismo e da manutenção dos níveis hormonais dentro da normalidade.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

Deficiência de Biotinidase

Deficiência de biotinidase é um erro inato do metabolismo de origem genética, causada pela deficiência ou inatividade da enzima biotinidase, essa enzima é responsável por liberar a vitamina biotina a partir de proteínas advindas da dieta ou reciclagem da biotina endógena, permitindo a sua absorção pelo intestino. A biotina é uma vitamina, a vitamina H também conhecida como B7. Na falta de biotinidase, a biotina não é liberada para o organismo, ocasionando consequências graves.

Os sintomas clínicos se manifestam a partir da sétima semana de vida com distúrbios neurológicos e cutâneos, tais como crises epiléticas, hipotonia, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, microcefalia, alopecia e dermatite eczematoide. Quando o diagnóstico é tardio, pode se observar também distúrbios visuais e auditivos, atraso motor e de linguagem. O tratamento é simples, consiste em doses diárias de biotina (vitamina H) de acordo com a subclassificação da deficiência de biotina.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

Ministério da Saúde. Dados sobre o Programa Nacional de Triagem Neonatal.2017.

fepe.org.br/site.

Hiperplasia adrenal congênita

Hiperplasia adrenal congênita é uma doença de origem genética caracterizada pela deficiência em maior ou menor intensidade das enzimas responsáveis pela síntese de esteróides adrenais. Este defeito provoca sintomas devido ao excesso de hormônios masculinos e também à falta dos hormônios cortisol e aldosterona. As deficiências enzimáticas mais comuns para hiperplasia adrenal congênita são 21- hidroxilase e 11-beta-hidroxilase, ambas envolvidas na rota de síntese do cortisol e da 18 aldosterona. No Brasil, a deficiência da 21-hidroxilase é a mais frequente, seguida da 17-alfahidroxilase, sendo a 11-beta-hidroxilase muito rara. Na triagem neonatal é realizada a quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17-OHP) para diagnóstico presumido, seguido de testes confirmatórios no soro. As manifestações clínicas estão correlacionadas com a enzima envolvida e o grau de deficiência enzimática. A apresentação clínica pode se expressar por insuficiência glicocorticoide, insuficiência mineralocorticoide, excesso de andrógenos ou ainda por insuficiência de andrógenos.

São classificadas em:

  • Não clássica, cujo sintomas iniciam tardiamente com complicações menos graves.

  • Forma clássica perdedora de sal, a forma clínica mais comum da deficiência da 21-hidroxilase. O cortisol é o hormônio que se torna deficiente e os hormônios andrógenos aumentam seus níveis, o comprometimento da 21-hidroxilase essencial para a síntese de mineralocorticoide resulta em perda de peso, seguida de desidratação hiponatrêmica nas primeiras semanas de vida e potencial evolução para choque hipovolêmico e óbito.

  • Forma clássica não perdedora de sal, ocorre deficiência do cortisol e aumento dos níveis de hormônios andrógenos, velocidade de crescimento aumentada e maturação óssea acelerada, resultando em baixa estatura final.

Entre os sintomas da doença não tratada estão desidratação com perda de sódio e excesso de potássio, choque e até óbito. Genitália ambígua nas meninas, puberdade precoce, baixa estatura.

O tratamento e acompanhamento é contínuo ao longo da vida, é feito com reposição dos hormônios da adrenal e de sódio, melhora o padrão de crescimento, podendo normalizá-lo.

Ministério da Saúde. Triagem neonatal biológica: manual técnico. 2016.

Ribeiro AF et al. Triagem neonatal e doenças raras. 2019.

Ministério da Saúde. Dados sobre o Programa Nacional de Triagem Neonatal.2017.

fepe.org.br/site.