Uma reflexão sobre as Tecnologias Digitais
Há pesquisadores (como KENSKI, 2009) que utilizam o termo Tecnologias Digitais da Comunicação e da Informação (TDICs) para se referir às tecnologias digitais conectadas a uma rede e há ainda outros (VALENTE, 2013, por exemplo) que nomeiam as TDICs a partir da convergência de várias tecnologias digitais como: vídeos, softwares, aplicativos, smartphones, imagens, console, jogos virtuais, que se unem para compor novas tecnologias. As TDICs referem-se a qualquer equipamento eletrônico que se conecte à internet, ampliando as possibilidades de comunicabilidade de seus usuários (VALENTE, 2013).
Além dos Softwares Educacionais na forma como o conhecemos, há outras maneiras de fazer uso da tecnologia na educação. Com o avanço tecnológico, a web tem possibilitado criar e utilizar diferentes tecnologias digitais. Estas ficam disponíveis a qualquer tempo e podem favorecer processos de colaboração e cooperação.
Assim como citam os autores, as Tecnologias Digitais foram evoluindo conforme a web também avançava.
Gerações da Web
Web 1.0
Na década de 90 a Web se expandiu ampliando as possibilidades do hipertexto. Nessa época também surgia o conceito de Web 1.0 que representava uma Web meramente informativa. Os sites dispunham de conteúdos estáticos e não possibilitavam que fossem alterados por seus usuários. A disponibilização dos conteúdos se dava, predominantemente, por empresas ou instituições que possuíam um programador para realizar a criação, alterações ou atualizações nos sites. O usuário era considerado um espectador, passivo ou simplesmente um consumidor dessas informações. O objetivo era buscar informações e lê-las, procurando estabelecer uma “presença online” para qualquer pessoa a qualquer momento.
Na Web 1.0, a interatividade do usuário com a página se dava, prioritariamente, através da navegação por links, o qual possibilitava a exploração de outros conteúdos em novas páginas. Nesse contexto que o hipertexto ganhou grande repercussão, uma vez que oferecia suporte para que a navegação e a publicação de conteúdos fossem concretizadas. Dessa forma, o hipertexto foi concebido como uma estrutura na Web capaz de estabelecer ligações entre as páginas possibilitando a dinamicidade da leitura pelos usuários.
Muitos autores passaram a estudar o conceito de hipertexto, buscando compreender e ampliar suas potencialidades nos diversos segmentos. No âmbito educacional, essa tecnologia também começou a ser visualizada como uma forma de promover os processos de ensino e aprendizagem. Logo, professores e pesquisadores, como Lévy (1993), Almeida (2003), Xavier (2009) entre outros, aprofundaram seus estudos sobre o tema, visando identificar possibilidades de sua inserção na educação.
Almeida (2003), ao enfatizar acerca das informações presentes em hipertextos, sinaliza que o uso de mídias e linguagens diversas propiciam a interrupção de sequências estáticas e lineares de via única, com começo, meio e fim determinados previamente. Logo, o hipertexto oportuniza ao leitor relacionar diferentes informações de acordo com seus interesses e necessidades, elaborando seus próprios percursos e sequências, assumindo, assim, um papel mais ativo.
Para Xavier (2009), o hipertexto compreende:
Uma nova forma de apresentar, representar, articular e trabalhar, linguística e cognitivamente, os dados multiformes dispostos nas janelas digitais abertas na tela do computador ou outro equipamento digital ligado à grande rede. Ele abre ao hiperleitor a possibilidade de acessar as informações multissensorial e sinestesicamente, momento em que todos os modos enunciativos ali presentes funcionam, cooperativamente, para a efetivação da abordagem hipertextual (XAVIER, 2009, p. 112).
Tanto Almeida quanto Xavier ressaltam a forma como os textos se apresentam nas páginas Web, ligando e/ou conectando outras ou documentos não-lineares. O acesso e a exploração das informações que, poderiam abranger outros hipertextos e diferentes mídias como vídeos, links, imagens, áudios, etc., tornavam-se simplificadas a partir da navegação em múltiplas janelas digitais.
Web 2.0
Os anos 2000, por sua vez, foram marcados por uma nova evolução, a Web 2.0. Segundo Valente e Mattar (2007),
A evolução foi tão grande, aproveitando recursos tecnológicos atualmente disponíveis (popularização da banda larga e desenvolvimento de linguagens novas), que permitiu a criação de aplicativos extremamente parecidos com aqueles que rodam em nossos computadores pessoais, sem a necessidade de nenhuma instalação adicional (VALENTE E MATTAR, 2007, p. 74).
Essa destaca-se pela dinamicidade, possibilitando ao usuário grande poder de interatividade, seja ele por meio do conteúdo ou pelos aspectos estruturais que envolvem a construção de páginas na Web. O termo Web 2.0 foi usado pela primeira vez em 2004 pela O’Reilly Media e pela MediaLive International como nome de uma série de conferências sobre o tema, popularizando-se rapidamente.
Segundo Tim O’Reilly (2006), chefe executivo da O’Reilly Media,
A Web 2.0 é a mudança para uma Internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência colectiva (O’REILLY, 2006).
Pelo caráter participativo e colaborativo, o usuário nessa Web pode postar comentários, compartilhar arquivos, produzir conteúdo individual ou coletivo, enviar imagens, entre diversas outras possibilidades antes não permitidas pela Web 1.0.
De acordo com Primo (2007) a Web 2.0 pode ser considerada como “a segunda geração de serviços on-line e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços de interação entre os participantes do processo”. Dessa maneira, entram em cena as redes e softwares sociais, que proporcionam espaços de colaboração e troca de informação por qualquer tipo de usuário.
Assim, os usuários publicam e compartilham conteúdos por intermédio das redes sociais, interagindo mais com a Web e ampliando suas relações através de blogs, sites de relacionamento, ambientes de edição coletiva, canais de vídeo, jogos interativos, entre outros. É nessa ocasião também que o uso desses aplicativos se expandem para o contexto dos dispositivos móveis, como tablets e smartphones.
Web 3.0
Atualmente, é vivenciada a geração da Web 3.0, também conhecida como Web Semântica. Segundo Alves (2005),
A Web Semântica seria uma extensão da Web atual que apresentaria recursos informacionais melhor estruturados e representados, ou seja, o conteúdo informacional destes recursos seriam melhor explicitados e definidos semanticamente, formando uma rede de informações conectadas que por meio de ferramentas tecnológicas, tais como os agentes de software, proporcionaria uma melhor recuperação de informação (ALVES, 2005, p. 28).
Nessa perspectiva, trata-se de uma nova forma de organização das informações publicadas na Internet visando facilitar o seu entendimento, localização e no auxílio personalizado aos usuários. Busca desenvolver a interatividade entre usuário e máquina através do aprimoramento das linguagens de programação. Berners-Lee et al. em 2001 já discutiam sobre esse tema, ressaltando que os próprios usuários poderiam contribuir com definições para auxiliar a marcação semântica dos documentos. Essa marcação, realizada por meio de metadados, facilita tanto a descrição e significado dos recursos disponíveis na Web, quanto o encontro desses. Dessa forma, o usuário pode ser exposto a informações personalizadas, descartando resultados que não estão relacionados ao objetivo da sua busca.
Autoria
Falar em autoria de conteúdos é falar em criação.
A autoria no contexto da educação pode ser desempenhada de duas formas:
Pelo professor: ao criar um material para suas aulas.
Pelo aluno: ao criar um material para construir conhecimento.
A Web 2.0 ampliou significativamente as possibilidades de autoria. Diversas ferramentas foram construídas a fim de promover os processos de autoria, de criação, de colaboração. Ela tem transformado a forma como os professores podem apresentar seus conteúdos e também como seus alunos podem criar, interagir, cooperar, aprender.
Exemplos de ferramentas de autoria
Ferramentas de autoria proprietárias
Ferramentas de autoria gratuitas
Como criar atividades ou conteúdos usando o H5P?
Aplicativos para a educação
O uso de aplicativos (Apps) na educação tem crescido muito nas instituições de ensino. Cada vez mais se percebe o acesso a smartphones e tablets por parte de crianças e adolescentes e, também, pelos professores.
De acordo com a pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras de 2019, um dos principais fatores que contribuíram para a universalização de acesso à Internet entre os professores que lecionam em escolas localizadas em áreas urbanas foi o uso da rede por meio do telefone celular. O Gráfico 4 permite acompanhar o movimento de difusão do acesso móvel até a sua quase universalização, nos dois últimos anos de realização da pesquisa. Chama a atenção que, em 2011, apenas 13% dos professores de escolas públicas urbanas acessavam a Internet pelo telefone celular.
Ainda de acordo com a mesma pesquisa, o acesso por meio do telefone celular estava praticamente universalizado entre os estudantes: em 2019, 98% dos alunos de escolas urbanas usuários de Internet afirmaram ter utilizado o dispositivo móvel para acessar a rede. Porém, para 18% dos estudantes, o telefone celular foi o único dispositivo citado como meio de acesso, sendo que esta proporção foi maior entre os alunos de escolas públicas (21%) e entre os alunos que residem nas regiões Nordeste (25%) e Norte (26%). Os dados da pesquisa evidenciam ainda que, entre os alunos de escolas públicas urbanas, 39% não contavam com nenhum tipo de computador no domicílio, proporção que era de 9% entre os alunos de escolas particulares urbanas (Gráfico 2).
O Gráfico 3 mostra o uso de algumas redes sociais pelos alunos para a realização de trabalhos escolares ao longo da série histórica da pesquisa. A proporção de uso do WhatsApp em atividades escolares passou de 6%, em 2014, para 61%, em 2019.
Outro conceito que está diretamente relacionado ao uso de aplicativos na educação é a aprendizagem móvel ou m-learning. Mello e Carvalho (2014), ressaltam que:
Estudos como os de Tarouco (2004), Traxter (2005) e Valentim (2009) têm destacado as possibilidades e benefícios na utilização das tecnologias móveis (Smartphones, Celulares, E-readers e Tablets) para acesso aos conteúdos educacionais em qualquer lugar e horário. Tais autores definem a aprendizagem móvel como a aprendizagem ampliada e apoiada a partir do uso dos dispositivos móveis. As principais características são a portabilidade desses dispositivos, sua integração com diferentes mídias e tecnologias digitais e a mobilidade e flexibilidade de acesso à informação e estudo aos sujeitos, independente de sua localização geográfica ou de espaços físicos formais de aprendizagem (MELLO e CARVALHO, 2014, p. 01-02).
Exemplos de aplicativos para uso na educação
Vantagens e Obstáculos quanto ao uso da internet na Educação
Segundo Tajra (2019) é possível obter vários ganhos e vantagens pedagógicas ao fazer uso da internet na educação:
acessibilidade a fontes inesgotáveis de assuntos para pesquisas;
páginas educacionais específicas para a pesquisa escolar;
páginas para busca de softwares;
comunicação e interação com outras escolas;
estímulo para pesquisar a partir de temas previamente definidos ou a partir da curiosidade dos próprios alunos;
desenvolvimento de uma nova forma de comunicação e socialização;
estímulo à escrita e à leitura;
estímulo à curiosidade;
estímulo ao raciocínio lógico;
desenvolvimento da autonomia;
permitir o aprendizado individualizado;
troca de experiências entre professores/professores, aluno/aluno e professores/aluno.
Para a autora, os obstáculos seriam:
muitas informações sem credibilidade;
facilidade de dispersão durante a navegação;
lentidão de acesso aos sites em função de baixa qualidade de tráfego de dados via internet;
facilidade no acesso a sites inadequados para o público infantojuvenil;
excesso de informações, o que dificulta a seleção;
favorecimento de comportamentos de isolamento em função da priorização das relações apenas pelos ambientes virtuais.
Para que o uso das tecnologias digitais seja eficaz, requer-se dos professores não apenas que identifiquem suas vantagens e limitações, mas também que busquem relacioná-los aos objetivos educacionais pretendidos, obtenha o conhecimento necessário para utilizá-los e conheça o perfil de seus estudantes.