O desafio de pensar fora da caixa!
Pense fora da caixa! Sai da caixa!
Talvez estas sejam as frases mais usadas por coachs, mentores, escritores e palestrantes. Até Steve Jobs sugeriu que deveríamos pensar fora da caixa, ou melhor, sair da caixa. Como dizem popularmente: Sair da casinha.
Mas o que realmente significa pensar fora da caixa? O que implica em pensar fora da caixa, ou sair da mesma?
Também é rotineiro que a literatura sempre nos fale em sair da zona de conforto, na verdade o que chamavam de zona de conforto é a tal caixa.
Sim! Eu concordo com Steve Jobs e toda essa galera que diz que temos que deixar a caixa, a zona de conforto, no entanto, há muito a ser dito sobre esse tal lugar, há todo um ecossistema em torno dessa famosa caixa.
O mundo da quarta revolução industrial, do século XXI é o mundo movido a inovações e não há inovação dentro da caixa. Sim para inovar é preciso pensar fora dessa caixa. Como recomenda a Apple é preciso pensar diferente. Não há inovação dentro da caixa, porque lá tudo é conservado da forma que está, há uma força muito grande para manter todos dentro, justamente para não mudar o status quo, a zona de conforto.
Por instinto, por necessidade de sobrevivência, o ser humano sempre busca a segurança da caixa. Um lugar onde ele possa realizar o menor esforço possível. Apesar de sermos uma raça criativa, só os transgressores se tornam inovadores.
Como diz o poema da Apple: “Os criadores de problemas!”.
Em toda a nossa história não fomos ensinados a ser inovadores, os inovadores são vistos com desconfiança, justamente por que vivem tentando mexer na zona de conforto das pessoas.
O melhor exemplo é o Uber. Quantos motoristas de taxis estavam tranquilos dentro de suas caixas confortáveis? Hoje amaldiçoam o sujeito que inovou com esse aplicativo? Sim o Uber tirou muita gente da sua zona de conforto, criou concorrência para os taxistas e torna o negocio deles cada vez mais inviável.
No filme: Sociedade dos poetas mortos, o personagem de Robin Williams, o Professor Keating, durante uma aula pede que seus alunos rasquem as páginas do livro de literatura. Essas passagens falam sobre métrica de poesias, segundo o mestre da ficção, era pura besteira, poesia vem do coração, da paixão que o ser humano têm. Poesia não pode ser colocada dentro de uma caixa.
Keating estava correto, o tal esquema, metodologia, servia apenas para tornar poemas algo encaixado em um diagrama, em um jeito de ler, enquanto que poesia, como inovação é pra ser sentida.
É pra mudar a vida das pessoas!
E ai vem toda a implicação do pensar fora da caixa, até mesmo o nosso modelo de educação foi idealizado para ser linear, tudo em nossas vidas é esquematizado, é moldado para caber em um diagrama, em um modelo.
É o nosso jeito de manter o controle, de tornar difícil sair ou pensar fora da caixa.
A origem de tudo que somos nós, seres humanos, se traduz em uma complexidade que não se explica linearmente, nem o nosso pensamento é linear. Um diagrama não é capaz de traduzir o pensamento, por isso os mapas mentais estão ganhando adeptos em tempos de quarta revolução industrial, porque ler uma sequencia de letras e linhas e menos inteligente do que bater o olho em um mapa mental e entender tudo de cara.
Mesmo o mapa mental sendo só um mapa, é mais um esquema, um modelo. Ainda que eficiente, não consegue traduzir todo o pensamento.
Durante a história muitas inovações passaram pelos muros e trincheiras criados por nós mesmos, mas imediatamente a inovação se consolidar, novas paredes são construídas em volta e de novo estamos lá dentro da caixa.
Durante a nossa existência fomos educados para nos distanciarmos da nossa essência, fomos ensinados a obedecer diagramas, metodologias, tradições e outras coisas, que só podem ser traduzidas como mecanismos de controle, para manter tudo dentro da caixa, dentro da casinha.
Um pensador clareia a humanidade com uma nova ideia, imediatamente surge alguém com uma metodologia para enquadrar aquela ideia. Até mesmo para inovar existem metodologias, boas práticas, modelos. E se formos pensar bem o que é inovação, vamos entender que colocá-la sob um diagrama é reduzi-la a média, é torná-la medíocre.
Para sair da caixa é preciso ter coragem de enfrentar todas as certezas que o mundo impõe, é preciso dar de ombros para o que muita gente pensa. É um exercício de sentir e não dar atenção ao medo. É virar amigo do fracasso e deixar que ele nos seja professor.
Uma das minhas atividades é a de dramaturgo, é o que chamam de higiene mental. Dar vida a personagens, criar confrontos, metáforas, pensamentos. É uma forma linda de compartilhar com o mundo ideias através da simulação da vida. Todos os textos que escrevi são dramas. Identifico-me com o gênero e com as propostas dele.
Um diretor de teatro que foi meu professor, um dia me questionou porque eu não escrevia uma comédia. Apresentei a ele uma lista de argumentos, ele ouviu atentamente até que eu parasse de falar.
Eu crente que ele tinha aceitado meus argumentos, ouvi a resposta que foi um tapa na cara: “Você não escreve comédia porque não tem coragem de rir de si mesmo!”.
Até hoje me cobro essa característica, que é rir de mim mesmo, ou aceitar que os outros riam.
É exatamente o mesmo processo para pensar fora da caixa, é não deixar que os diagramas e metodologias coloquem paredes em volta de si mesmo. É ser sim o criador de problemas, é desafiar o status quo, é imaginar que podemos mudar a vida das pessoas.
É rir de si mesmo!
É ir a contramão de tudo que nos foi ensinado. Porque apesar de dizer que devemos sair da caixa, o mundo faz de tudo para nos manter dentro dela.