Mitos que atrapalham a criatividade e a inovação
Os mitos são os maiores vilões no que diz respeito a atrapalhar a criatividade e a inovação. Tanto pessoas como as organizações, sofrem e são impactadas pelos efeitos causados por esses vilões. Existem muitos, mas os principais são: o mito do lampejo, o da ratoeira, o mito do talento nato e do gênio solitário.
Antes de falarmos dos mitos que atrapalham a inovação temos que deixar claro que Inovação acontece a todo o tempo e com todos os tipos de pessoas. Graças à inovação é que estamos no nível evolutivo de hoje. Desde a inovação que prende as roupas no varal, até a que nos permite singrar os céus e atravessarmos o mundo em questão de horas.
Júlio Verne arrebatou milhões de leitores com o fascínio da volta ao mundo em oitenta dias. No século XIX o francês que sonhava com alta tecnologia, nem imaginava que menos de cem anos depois de sua morte, o homem faria a volta ao nosso pequeno planeta em menos de dois dias.
Inovação não foi apenas o iPhone, o iPod, o computador pessoal, ou próprio avião. Inovação foi também esse aparelhinho para caçar ratos, chamado ratoeira. Inovação como já falamos foi também o pregador de roupa. O post-it, a esponja dupla face, o cinema, o rádio. Inovação foi trazer a deliciosa paleta mexicana para o Brasil. Outra inovação para refrescar foi servir açaí doce na tigela. Receita diferente do usual acompanhamento do almoço dos paraenses, que consomem açaí com peixe.
Se tudo isso é inovação, você deve estar se lembrando de alguma ideia que teve e poderia ter se transformado também em inovação. Essas ideias são fruto da sua criatividade.
Sim! Todo ser humano é criativo, eu e você também somos!
É muito provável que essas ideias que você teve, não saíram do campo das ideias porque você deu ouvido a um dos mitos que vamos dissecar agora.
Preste atenção e nunca mais deixe esses mitos ou outras histórias te atrapalharem. Qualquer coisa que tenha o efeito de cercear a sua criatividade, seu poder de inovação deve ser deixada de lado, mantenha-se firme no seu propósito.
O primeiro mito que quero compartilhar é o mito do lampejo. O mito do lightbulb, da lâmpada que se ascende na cabeça. Aquele da eureca. Aquele momento de insight, tal como o que teve Newton vendo uma maçã cair, ou Arquimedes enquanto tomava banho.
Nas histórias temos a impressão que ele acontece do nada, despenca como uma maçã sobre a cabeça de Newton e faz Arquimedes abandonar o banho e sair correndo nu pela Grécia.
Não! O momento do insight não vem por acaso, vem depois que algum problema queimou a cabeça da pessoa por bastante tempo, além disso, aquela pessoa tem em sua história conhecimentos que podem ajudá-la a solucionar o tal problema.
Nem você, nem eu, nem Einstein e nem qualquer outro gênio serão despertados com uma ideia fora do comum em um campo do qual a pessoa não tenha conhecimento algum. Einstein inovou no seu campo de conhecimento, a física, Steve Jobs no dele, a tecnologia e João Gilberto na música.
Para ter alguma ideia que se transforme em inovação, a primeira coisa a fazer é buscar problemas dentro da sua zona de conhecimento. É lá que seu cérebro trabalhará com propriedade e poderá encontrar soluções. Poderá te levar ao insight que posteriormente se transformará em inovação. Poderá não somente encontrar soluções para problemas que já são conhecidos, gerando inovação continuada ao respondê-los melhor do que as repostas de até então. Poderá também ajudá-lo a encontrar problemas desconhecidos e a estes problemas responder te ajudando a criar inovações disruptivas.
Para outras pessoas poderá até parecer fácil, mas você saberá o quanto custou chegar a dominar o conhecimento necessário para ter o seu momento de insight. Resolver problemas usando a criatividade e ter a capacidade de inovar em um mundo que você conhece bem.
Outra coisa, ideia não é inovação, pode ser parte, mas não é inovação como um todo. Existe um processo para que a sua ideia se transforme em inovação. Esse processo começa antes mesmo da ideia, passa por ela e tem que ser levado ao grupo de pessoas que terá sua vida impactada, é lá que a sua ideia vai gerar valor e transformar-se na inovação.
Não fique no lampejo, vá em frente com a ideia!
O segundo mito que gostaria de compartilhar é o mito da ratoeira. Para ser preciso a ratoeira foi patenteada em 1894. Hoje estamos separados do dia em que a patente foi registrada por 127 anos.
No entanto, o escritório de patentes nos Estados Unidos recebe por ano por volta de 400 novas inscrições de algum tipo de ratoeira. Da data da primeira patente até os dias de hoje já foram mais de 4400 tentativas de patente. Pelo menos 40 são aceitas todos os anos.
Tem uma frase do filósofo americano Ralph Waldo Emerson que diz: “Construa uma ratoeira melhor e o mundo baterá a sua porta”. Essa frase é uma verdadeira armadilha para pessoas criativas que ficam tentando inventar a próxima ratoeira.
A inovação vem de um problema a ser solucionado. E como já colocamos, ela acontece quando alguma coisa resolve aquele problema e lhe gera valor.
As pessoas tinham sim problemas com ratos que já foi resolvido há 127 anos. As pessoas ainda usam a velha ratoeira de mola porque esse aparelhinho resolve o problema.
Não fiquei tentando resolver problemas, que já foram resolvidos. Mesmo que você tenha a ideia de uma ratoeira cheia de alta tecnologia, a chance de vingar é muito pequena, pois a invenção de mais um século atrás funciona bem.
Porque alguém mudaria?
Você pode estar se perguntando duas coisas, a primeira dela é referente a organizações que fazem cópias, a empresa que pegou a ratoeira de madeira e fez uma de metal, por exemplo, as empresas que produzem bonecas similares a Barbie e algumas outras possibilidades.
Meu caro leitor, estamos falando de inovação, se você quer ir para o ramo das cópias seja feliz, mas lá não será inovador, será um copiador. Se feito dentro da lei, você poderá lucrar como as empresas que fazem esponjas dupla face, sendo que quem inovou e mudou o conceito na lavagem de louças foi a 3M.
A outra pergunta é sobre a inovação continuada. Pode ser interessante sim observar velhos problemas e verificar se já não temos melhores condições para dar uma resposta superior nos dias de hoje. Pode ser que você crie algo novo que seja diferente do antigo. Mais de 4000 pessoas já tentaram isso em relação à ratoeira e 400 tentam todo ano, 40 até recebem a patente, mas as pessoas continuam usando o velho modelo.
Então insistir nesse tipo de inovação, só vale a pena se a sua resposta gerar maior valor que a solução antiga, a sua solução não deve ser mais cara e nem mais complicada que a antecessora, do contrário podem até achar uma ideia legalzinha, mas continuarão a usar a velha ratoeira.
Vamos a um terceiro mito o do talento nato. É aquele que nos coloca como pessoas comuns e que impõe que talento é para alguns que os tem desde que nasceram.
Vamos excluir Amadeus Mozart aqui da nossa conversa, escrever uma sinfonia com quatro anos não confirma o mito, aponta uma exceção a ser estudada, sei que algum dia um cientista, um filósofo, ou um psicólogo criativo sacará a resposta que matará nossa curiosidade por casos como o de Mozart. De resto, talento é trabalho, é muito tempo se dedicando a alguma coisa, para que depois as pessoas simplesmente achem que você foi abençoado ao acaso.
Fernanda Montenegro quando está em cartaz ensaia 10 horas por dia, depois disso ainda pede aos parceiros para darem mais uma passadinha que dura pelo menos duas horas.
Zico foi um dos maiores batedores de falta que tivemos em nosso futebol. Pois é, depois de treinar todos os dias, ele ficava por mais duas horas treinando acertar a bola em camisetas penduradas no travessão.
Oscar Schimdt também ficava por horas depois do treino todos os dias fazendo arremessos. Depois de tanto esforço não me estranha ele não gostar do apelido de Mão Santa! Não tem nada de santo ali, tem de treino, de esforço e dor.
Vamos então sair de cima da zona de conforto e deixar de lado a ideia que criatividade e talento são coisas que nascem com certas pessoas. Habilidades dentro do que gostamos podem ser desenvolvidas, nos dedicando como as pessoas que citamos, atingiremos ótimos resultados.
Há muitos mitos, esses três apresentados são apenas alguns. O fato é que a humanidade é criativa, a humanidade é inovadora. Você faz parte dessa raça e não há nada que o impeça de desenvolver sua criatividade e de desenvolver um processo inovador.
Você não precisa ser Steve Jobs, precisa entender que também pode dentro do seu campo de conhecimento e de suas limitações. Talvez você não tenha recursos para inventar o próximo iPhone, mas de repente você já tem em você a ideia para a coqueluche dos próximos verões.
Tenha só uma certeza no mundo dominado por robôs e Inteligências artificiais, ser criativo é que garantirá a sobrevivência da espécie.