O desafio da inovação

Já ouvi falar sobre a modinha da inovação, a modinha do Design Thinking, a modinha das metodologias ágeis. É até interessante essa forma de reagir a mudanças, a constatações.

Tanto o Design Thinking, quanto as metodologias ágeis, assim como Lean Startup, o Design Sprint, o Lean Inception, são respostas novas a velhos problemas que o “status quo” não deu cabo de resolver, ou as modinhas atuais nem chegariam a existir, pois o antigo estaria dando conta.

Vamos separar o assunto “inovação” dos meios, como vamos chamar todas as técnicas de administração, gestão, projeto que deveriam cobrir justamente a inovação.

Inovação não é assunto novo, nem a ideia e nem o efeito que ela causa no mundo, na sociedade. A inovação nos trouxe até aqui, até o maravilhoso mundo onde as inteligências artificias já estão dominando postos de trabalho. Quem acha que inovação começou quando Steve Jobs viu a placa que seu amigo Steve Wosniak havia desenvolvido, está totalmente descontextualizado.

Na história recente tivemos grandes inovações que foram além das linhas da tecnologia digital. Um grande exemplo é a penicilina que foi descoberta pelo médico e biólogo Alexander Fleming. Essa descoberta permitiu a humanidade erradicar uma série de doenças e aumentar a expectativa de vida em todo o nosso planeta.

Se Júlio Verne sonhava em fazer a volta ao mundo em oitenta dias, hoje se consegue em menos de quarenta horas. A inovação advinda da invenção do avião encurtou as distâncias em todo o planeta, nos permite estar no Rio de Janeiro hoje e em menos de vinte e quatro horas estarmos Bruxelas, por exemplo.

Mas desde que o ser humano colocou os pés nesse pequeno planeta a inovação o acompanhou, a inovação foi que permitiu a humanidade construir armas de cassa para garantir o alimento na idade da pedra; a inovação na agricultura ainda na idade antiga permitiu a raça humana até então nômade, se fixar em um local e fundar cidades. A inovação nas ciências militares que levaram uma pequena cidade da Península Ibérica a dominar o mundo antigo.

Porém depois que Steve, o Jobs viu a plaquinha criada pelo amigo e a transformou em uma inovação que mudou o mundo, o chamado a inovar começou a gritar com todas as pessoas deste planeta.

Quanta coisa não surgiu desde 1977? Depois que os dois amigos resolveram fundar a Apple em uma garagem em Cupertino, tivemos a chegada da internet, dos sistemas gráficos, dos sistemas grátis, da computação em rede, das redes sociais, dos telefones celulares. O segundo boom veio depois justamente da criação do smartfone de tela multitoque, aquele sem botões. Vamos ser diretos, o iPhone. Outra vez aquele moleque atrevido de Cupertino, já com alguns cabelos brancos. Ele liderou uma equipe dentro da Apple na criação de um Smartfone diferente e trazer a reboque um mundo de inovações, a indústria dos aplicativos.

E agora você está fatiando uma pizza que foi entregue pelo iFood, esperando a namorada chegar de Uber e juntos enquanto comem a pizza, vão assistir um filme na Netflix. Curiosamente iFood, Uber, Netflix são três grandes inovações desde início do século XXI, há pouco mais de vinte anos você teria que ir buscar a pizza, a namorada chegaria de taxi ou de busão e o filme seria em um VHS da locadora do bairro.

Quem são os inovadores por trás disso tudo? São gênios como Steve Jobs? Eu também posso inovar? Você pode inovar?

No início dos anos noventa uma crise se abateu sobre a minha cidade, São José dos Campos. Um amigo em uma situação muito complicada não sabia o que fazer da vida, pois estava desempregado. Esse amigo tinha uma velha Kombi amarela parada. Eu disse a ele: “Peque essa Kombi e vai de ponto em ponto oferecendo transporte!”.

Ainda nos anos noventa, já mais para o final, eu tive uma ideia genial, falei a uns amigos na mesa de bar que seria legal digitalizar filmes e coloca-los em um servidor, as pessoas acessariam este servidor e consumiriam os filmes nos pagando uma quantia mensal. Já no início dos anos dois mil com preguiça de ir ao mercado eu bolei uma ideia legal, alguém iria ao mercado, faria a compra pra mim e eu lhe pagaria por esse serviço.

Tenho testemunhas que tive essas três ideias, só que elas ficaram ali perdidas entre uma golada de cerveja e um pedaço de picanha.

Eu poderia ter sido o inovador por trás das três grandes inovações que citei com a história do casal de namorados. Eu tive ideias e ideias semelhantes surgem simultaneamente em muitos lugares, na cabeça de milhares de pessoas. Thomas Edison foi só a vigésima terceira pessoa a registrar uma patente de algo semelhante à lâmpada incandescente, produto que hoje ele é considerado o inventor. Na verdade Edison é o inovador por trás da lâmpada.

Não meus amigos, eu não sou um gênio inovador por trás do Uber, Ifood e Netflix, talvez seja um cara que tenha ideias criativas. Alguém teve ideias semelhantes, trabalhou nessas ideias e as levou até um público em que estas ideias mudaram a vida das pessoas e tornaram-se inovações. Assim como Thomas Edison dirigiu uma equipe de pesquisa e desenvolvimento que criou um produto, a lâmpada. Não ficou só nisso, para aquele produto ele criou um modelo de negócio que gerava valor para milhões de pessoas, que teriam suas vidas modificadas pela possibilidade da iluminação que aquele produto trazia.

Inovação é um processo, não é o ato de criar algo, é o caminho que vem antes da criação e só termina quando impactar a vida das pessoas gerando valor. Tem o “antes” da ideia e tem um longo caminho no “depois”.

Temos ai uma boa notícia, se inovação é um processo, qualquer um pode se aprimorar e adquirir as habilidades que irão lhe permitir levar a vida inovando em tudo. A conclusão é obvia não é preciso ser gênio e nem ter nascido com uma habilidade especifica para inovar.

Inovar é um chamado a todos, chamado que grita cada vez mais alto em nossos ouvidos à medida que adentramos mais e mais no século XXI. Até mesmo para quem não teve nenhuma ideia é possível inovar, busque em outras pessoas a ideia que vai te permitir criar um processo inovador. Foi isso que Steve Jobs fez no caso do computador pessoal, a criação era de Steve Wozniak, mas Jobs percebeu o valor que aquela criação poderia gerar e ele mesmo conduziu um processo de inovação que levou o computador pessoal para dentro da casa das pessoas e rendeu a seus idealizadores valor financeiro para fundar uma companhia que permanece nos dias de hoje entre as maiores do mundo.

Quanto aos meios, ou seja, as ferramentas que podem ajudar a qualquer um se tornar uma mente inovadora, falaremos no próximo artigo.