Cercados de deuses falsos

Quando falamos de...

idolatria, é comum pensarmos em esculturas de divindades como Apolo, Baal ou Iemanjá. Porém, podemos considerar idolatria como a absolutização de relativos. Algo, que em si mesmo não é ruim, torna-se mau porque passou a ser considerando com fim último. Os deuses da nossa Babilônia não são Marduke e Tiamat, são os nossos desejos desenfreados que buscam um propósito de vida fora de Deus. Beleza, Amor, Família, Dinheiro, Sucesso, Curtidas… tornam-se ídolos em nossos corações.

Em Agostinho, a diferença entre a cidade terrena e a cidade celestial não é temporal e nem material. Não é sobre aqui ou agora em oposição a lá ou porvir. A diferença está nos amores. Na cidade terrena os amores estão desordenados e amam a si mesmos. Na cidade celestial, os habitantes amam a Deus. A cidade terrena de Agostinho começa na Queda, a nossa Babilônia. Com seus deuses falsos que querem nos seduzir para longe do verdadeiro Deus.

A absolutização de relativos provoca reducionismos, passam a ver apenas uma parte da realidade e a consideramos como o todo. Cada divindade oferece algo específico aos seus adoradores, e esse algo específico passa a ser o centro da existência.

Em ‘Deuses do Mundo Moderno’, Orozco aponta a nossa incapacidade de perceber a realidade, ao pintar uma vida acadêmica morta gerando conhecimento inútil. Reducionismos filosóficos tem se popularizado nas últimas décadas e gerado uma percepção caolha do mundo em que vivemos. “A Máquina” representa o projeto imperialista das construções humanas e a destruição que o desenvolvimento tecnológico desenfreado provocou na sociedade.

Orozco explora, em sua obra, o Eterno Retorno, um mito mesopotâmico onde o mundo é compreendido como um arquétipo criado pelos deuses. Em movimentos cíclicos, retorna-se aos padrões criados pelos deuses. Somos constantemente chamados de volta pelos ritmos da Babilônia à adoração nos altares dos deuses que criamos.

Sabemos que todo ídolo requer sacrifício. Em “Sacrifício Humano Moderno”, Orozco denuncia os sistemas humanos que desprezam a vida em defesa dos mesmos reducionismos que nos cegam.

É necessário quebrar com os ritos que nos prendem os falsos deuses. A Quaresma, na obra de Bruegel, nos inspira a buscarmos novos ritmos para a vida que reorganizam nossa existência centrada em Cristo.