Viola da terra | Rafael Costa Carvalho
A viola da terra (viola de arame dos Açores) está associada ao Conservatório Regional de Ponta Delgada desde 1983. No ano letivo 1982/83 (com início de aulas no 3.º período), a viola da terra começa a ser lecionada nesta Escola. As aulas funcionaram em regime de Curso Livre e numa metodologia de ensino “por imitação” (de ouvido).
O primeiro formador de viola da terra, nessa modalidade de Curso Livre, foi o Mestre Miguel de Braga Pimentel. Sobre esta entrada da viola para o Conservatório foram publicados alguns artigos de jornal.
O jornalista João Silva Júnior, em Fevereiro de 1983, num artigo intitulado “A viola da terra vai ressurgir”, referindo uma quantidade de iniciativas ligadas a cursos de folclore e de viola, escreve:
“Contactando de como veria o Conservatório Regional uma aula dessa natureza, a sua directora, sra. D. Natália Santos Silva, se mostrou perfeitamente receptiva à inclusão de uma tal aula, aliás, a mesma resposta que nos deu um sr. Dr. Jorge Forjaz, director dos Assuntos Culturais dos Açores, ao falar-lhe sobre o tema. Para esse fim abordámos o subchefe da PSP Miguel Pimentel, competente executante de viola da terra, que toca por música (a maioria dos tocadores fá-lo de ouvido) e admitimos que venha a ser um dos candidatos à regência desse instrumento no Conservatório de Ponta Delgada”. Diário dos Açores, Fevereiro de 1983.
Também nesse regime de Curso Livre passaram pelo Conservatório Regional, como formadores de viola da terra, Alfredo Gago da Câmara (1986/87 e 1987/88), Mário Jorge Ventura (1988/89) e Ricardo Jorge Lima Melo (1999/2000).
No ano letivo 2005/06 o professor Ricardo Jorge Lima Melo apresenta ao Secretário Regional da Educação, José Gabriel do Álamo Meneses e ao Conselho Executivo do Conservatório Regional de Ponta Delgada, presidido por Ana Paula de Medeiros Andrade Constância, uma proposta de inclusão da viola da terra no Curso Curricular (ensino oficial). A viola da terra passou assim a ser reconhecida em todas as Escolas de Ensino Artístico da Região, inclusa na listagem oficial dos instrumentos a lecionar no Curso Básico. O Conservatório passou a contar, anualmente, com uma turma de 5 alunos, entre 2005 e 2008 dado o regime de acumulação letiva do docente da disciplina.
Apesar da oficialização do Curso Básico de viola da terra a disciplina encontrava-se numa fase ainda muito experimental. O professor Rafael Costa Carvalho, responsável pela disciplina desde 2008/09 até à atualidade, foi incumbido de estruturar o Curso Básico produzindo a documentação, repertório e diretrizes que lhe servissem de base. Nesse ano a classe começou a funcionar com 7 alunos, passando para 10 alunos no ano seguinte. Desde 2010/11 até ao presente ao letivo a classe passou a contar, anualmente, com 14 alunos inscritos.
No ano letivo 2009/10 surge a primeira Classe de Conjunto de violas da Terra, com 3 alunos inscritos. No ano letivo 2018/19 a classe comemorou o seu décimo aniversário com um concerto que incluiu alunos de vários departamentos da escola. A classe de conjunto conta, hoje, com 8 alunos.
No ano letivo 2010/11 o professor Rafael Carvalho fez exame autoproposto de 5.º Grau de viola da terra, sendo o primeiro exame do género na instituição e no nosso país. Teve como júri: Lázaro Silva (professor de viola da terra na Escola Tomás de Borba, Ilha Terceira), Gianna De Toni e João Macedo (professores de Guitarra Clássica do Conservatório de Ponta Delgada).
No ano letivo 2011/2012 a aluna Beatriz Cordeiro Almeida fez o primeiro exame de 5.º grau de viola da terra, como aluna interna e como conclusão do Curso Básico no Conservatório, sendo o primeiro exame do género realizado na instituição e no nosso país. O júri contou com Lázaro Silva, Gianna De Toni e Rafael Carvalho.
O desafio seguinte foi a oficialização do Curso Secundário de viola da terra para que os alunos que concluíram o Curso Básico pudessem dar seguimento aos seus estudos.
Depois de vários anos de trabalho, a intenção de homologar o Curso Secundário de viola da terra nos Açores, após proposta do grupo parlamentar do PSD, foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa dos Açores, a 13 de Janeiro de 2016. Por orientação do Secretário Regional da Educação e Cultura, Avelino de Freitas de Meneses, foi nomeada pelo Conservatório Regional de Ponta Delgada uma comissão de 5 professores que teve a função de criar um “Programa para o Curso Secundário de viola da terra”. O grupo de trabalho foi constituído por Gianna De Toni, Helena Raposo, Lázaro Silva, Rafael Carvalho e Válter Tavares. Depois de formulado o documento e após várias fases de melhoria do mesmo, o Curso Secundário de viola da terra foi aprovado por despacho do Diretor Regional da Educação José António Simões Freire a partir do ano letivo 2017/18.
No ano letivo 2017/18 o professor Rafael Carvalho fez a sua Prova de Aptidão Artística (exame autoproposto de 8.º Grau) de viola da terra, sendo o primeiro exame do género na instituição e no nosso país e que teve como júri: Ana Paula Andrade, Lázaro Silva, Gianna De Toni e João Macedo.
Esta oficialização de um curso curricular de viola da terra (viola de Arame), com Curso Básico e Secundário, na Região Autónoma dos Açores, é um caso pioneiro no nosso País.
Todas estas conquistas só foram possíveis graças ao envolvimento, esforço e alerta da sociedade (civil e política), de pais, alunos e professores e pela disponibilidade contínua da escola em acarinhar a nossa viola da terra.
Nota: Texto redigido aquando das comemorações dos 40 anos de Ensino Público do Conservatório Regional de Ponta Delgada