Mestre em Filosofia pela USP, graduado em Filosofia pela UNIFESP, psicanalista membro da FALASSER - associação de psicanálise, tradutor na Tradução Prisma e orientador acadêmico, sempre às voltas com as palavras, os dizeres, as coisas ditas e reditas - em seus vínculos afetivos, minha prática [ou práxis] envolve dar voz aos atravessamentos da linguagem, do inconsciente e da cultura.
Em todo meu percurso acadêmico e de estudos ziguezagueante, sempre esteve presente duas vigas mestras: de um lado a palavra, o significante, a ideia e a busca de sentido(s); de outro a busca de uma práxis que articule teoria e prática, pensamento e ação.
Tendo minha primeira formação universitária em Rádio e TV pela UNIBAN, atuei como jornalista por alguns anos, ao que resolvi, em seguida, estudar Letras, o que durou dois anos, pois eu havia descoberto uma paixão: estudar Filosofia e me graduei como Bacharel e Licenciatura em Filosofia pela UNIFESP, onde tomei contato com os primeiros textos de psicanálise, que me encantaram desde o começo, e no qual desenvolvi pesquisas sobre a dialética em Platão, Hegel e Marx, além dos estudos entre psicanálise de Freud e a Teoria Crítica de Theodor Adorno, Walter Benjamin e Max Horkheimer, enquanto lecionei como professor de filosofia na rede pública e privada da educação em SP.
Nos últimos anos me dediquei à pesquisa acadêmica a respeito da filosofia de Espinosa, a relação entre o corpo e a mente, o lugar dos afetos, de modo a que escrevi uma Dissertação de Mestrado a respeito da Lógica da Superstição: uma leitura espinosana, e assim obtendo o título de Mestre em Filosofia pela USP.
De lá para cá meu interesse de pesquisa articula psicanálise e filosofia, a relação entre afetos e linguagem, a relação corpo-mente, e as formas de inscrição e organização psíquica por meio da trindade infernal de Lacan: o Real, o Simbólico e o Imaginário.
Da Filosofia à Psicanálise: um cultivo da nossa capacidade de se espantar e ser afetado pelas coisas
Dois filósofos da Grécia Antiga, Platão e seu discípulo, Aristóteles, diziam que "a filosofia começa com o espanto e a admiração". Essa frase já condensa a unidade inquebrantável entre pensamentos e afetos, e coloca a capacidade de perceber, de se dar conta, de ser afetado, de não ter a visão tão embotada... ainda que ironicamente seja isto que fazem os sistemas filosóficos. Talvez por isso o conceito filosófico mais bonito que encontrei foi o de contemplação: coisa belíssima a capacidade de ser afetado, de nos apercebermos de algo, poder contemplar um objeto, um sentimento, uma ideia. Talvez contemplar seja esse fio invisível entre o mundo que nos cerca e nossa capacidade de percepção e de pensamento.
E foi em minha trajetória na Filosofia que eu encontrei essa mesma atitude em uma outra área: a psicanálise, especialmente no que considero o ato estético - no sentido antigo do termo, aisthesis como percepção - de Freud ao olhar para as formas de sofrimento do seu tempo, a psicopatologia e em grande medida o caso da histeria, e compreender a lógica de funcionamento do inconsciente, ou seja, de um desejo pulsante que estava recoberto por toneladas de repressão, moralismo, violências e pudor.
Assim a psicanálise orbitou minha vida nos meus últimos 20 anos, época que lecionei como professor da educação básica, mas sempre retornando à psicanálise, seja como estudo, indo para o divã e lidando com minhas questões, e nos últimos tempos também como psicanalista, em minha clínica. Por esse tempo pensei muitas vezes em fugir da psicanálise, pois esse lugar me parecia particularmente estrangeiro. Mas não teve jeito: eu fugi de fugir.
Hoje, procuro conjugar corpo e mente, palavras e afetos, linguagem o além-da-linguagem para escutar aquilo que insiste, mesmo que não saibamos nomear, por meio de uma clínica que atua com uma escuta psicanalítica freudo-lacanina, buscando atualizar, a cada novo atendimento, o ato germinal que fundou e funda a psicanálise como capacidade de perceber, ver e escutar de través e contribuir para entrever aquilo que está nas entrelinhas, pulsando, às vezes gritando, as vezes sussurrando, e que diz sobre a vida e seu(s) sentido(s).