Escutar o que insiste - mesmo quando não sabemos nomear
A clínica psicanalítica é espaço da palavra. Aqui o paciente é convidado a falar, sem censura, sem direção prévia.
Um convite para atravessar as palavras e afetos que nos habitam, e criar formas mais interessantes de lidar com isso que nos afeta.
Minha clínica se baseia na abordagem freudo-lacaniana, como um convite a escutar o que há de mais singular em cada sujeito. Nela, não se trata de corrigir ou ajustar comportamentos, mas de abrir espaço para que algo do inconsciente possa falar — aquilo que escapa, que retorna, que insiste em busca de sentido.
Freud nos ensinou a reconhecer o desejo por trás dos sintomas; Lacan, a escutar a verdade que se escreve nas entrelinhas da fala. É uma prática que acolhe o enigma, o silêncio e o tropeço, apostando que, ao dar palavra ao que dói, o sujeito possa se reinventar. Mais que uma teoria, é um modo ético de estar com o outro — com delicadeza, sem pressa, confiando na potência do dizer.
Escutar os afetos é escutar o que escapa ao controle, o que retorna em forma de angústia, desejo ou falta. É uma escuta que não julga nem interpreta de imediato, mas acompanha, sustenta, dá tempo ao que pede tempo.
Nessa escuta, o sujeito encontra espaço para se dizer, para se ouvir, para reconhecer o que sente — e, quem sabe, descobrir aí uma nova forma de viver consigo mesmo.
A ética do desejo é um convite a viver com mais verdade. Na escuta freudo-lacaniana, ela não fala de regras ou de deveres, mas da coragem de seguir o que em nós vibra — mesmo quando é incerto, mesmo quando assusta. Sustentar o desejo é sustentar a própria vida em sua potência, sem se esconder atrás do que esperam de nós.
É um gesto de fidelidade a si: não ceder ao conforto do que é fácil, mas dar espaço ao que realmente pulsa, ao que nos faz sentir vivos. Nessa ética, o desejo não é um capricho, é um chamado — e escutá-lo é, talvez, a forma mais profunda de cuidado consigo mesmo.