A Falta de Capacitação Docente e Seus Impactos na Inclusão de Alunos Neurodivergentes.
Apesar dos avanços nas políticas de inclusão educacional no Brasil, a realidade vivida por muitos alunos neurodivergentes, especialmente no ensino básico e superior, continua marcada por exclusões sutis, crises emocionais e estigmatização. Um dos fatores centrais que sustentam esse cenário é a falta de capacitação dos docentes para lidar com a diversidade neurológica em sala de aula.
O termo “neurodivergente” refere-se a pessoas cujo funcionamento neurológico foge do padrão considerado típico — o que inclui indivíduos com autismo (TEA), TDAH, dislexia, discalculia, entre outras condições. Essas variações são naturais e não devem ser tratadas como desvios a serem corrigidos, mas sim como diferenças que requerem acolhimento, compreensão e metodologias pedagógicas específicas.
Contudo, muitos professores ainda não recebem qualquer formação continuada ou orientação prática sobre como ensinar alunos com essas necessidades. O resultado, segundo relatos de alunos autistas e estudos recentes, é um ambiente de aprendizagem inflexível, que desconsidera questões sensoriais, cognitivas e emocionais próprias da neurodivergência. Isso pode levar à evasão, crises emocionais durante as aulas e uma sensação constante de inadequação por parte dos estudantes.
A análise situacional realizada na UFSC, por exemplo, revelou o despreparo dos docentes frente às demandas de estudantes autistas, que frequentemente relatam dificuldades de comunicação, ausência de adaptações metodológicas e negligência diante de sinais claros de sobrecarga emocional. Em contrapartida, profissionais da educação reconhecem a importância de se prepararem para esse desafio, mas apontam a inexistência de suporte institucional como principal barreira.
A literatura e os especialistas reforçam que a formação continuada é essencial. Estratégias como o uso de instruções visuais, flexibilização de prazos, rotinas estruturadas, mediação escolar e a presença de profissionais de apoio são eficazes para promover um ambiente mais acessível e acolhedor. Além disso, iniciativas como oficinas, palestras com especialistas, guias práticos e o incentivo à escuta ativa podem transformar a prática pedagógica e fortalecer o vínculo entre professor e aluno.
A falta de capacitação não é apenas um problema técnico. É uma questão ética e social. Afeta diretamente o desenvolvimento acadêmico e emocional de milhares de estudantes, além de representar um entrave para a construção de uma escola verdadeiramente inclusiva. Superar essa barreira exige investimento, sensibilidade, vontade política e o compromisso com uma educação que reconheça as diferenças como parte fundamental do processo de aprendizagem.