OBJECTIVOS
Os temas da identidade e da alteridade estão inextricavelmente ligados não apenas porque a individualidade de cada sujeito se constrói no confronto dialético com os outros, mas também porque, paradoxalmente, cada ser humano afirma-se como multiplicidade dialógica. A identidade afirma-se face à existência de diferença. Só tem expressão falar de identidade se se conceber a diferença. Trata-se da questão do ego e do alter-ego. Falar de identidade implica, pois, falar de alteridade. Uma vez que existe um Outro cultural/civilizacional, junto do qual o Eu procura a cada momento reivindicar e realizar a sua identidade, torna-se pertinente falar de uma identidade dinâmica e processual por parte do Eu. É também sobre este pano de fundo que se verifica a transferência cultural entre as partes envolvidas.
Partindo deste enquadramento teórico ao nível das instituições, do quotidiano e das sociedades locais, tanto dos cativos cristãos em terras islâmicas como dos cativos muçulmanos em territórios cristãos, pretendemos desenvolver o tema da integração, mais ou menos efetiva, e da COEXISTência de indivíduos de proveniência diferente num mesmo local. Numa segunda linha de análise, decorrente do desenvolvimento da problemática anterior, visamos, por um lado, indagar sobre a forma como as instituições religiosas, políticas e judiciais se adaptaram a esta realidade, por outro, como a sociedade integrou ou não os cativos no seu quotidiano. Nesta ordem de ideias interessa estudar como esta ligação entre povos afetou a identidade, o cosmopolitismo, os locais de socialização, ou mesmo as línguas locais e as línguas francas de comunicação ou, por outro lado, as práticas arquivistas dos territórios que podemos denominar de “chegada” – é fundamental reter que a cultura material constitui um elemento decisivo no estabelecimento das construções identitárias e dos subsequentes exercícios de alteridade.
Pensamos desenvolver quatro áreas de trabalho complementares que estarão na base dos grupos a apresentar na candidatura a uma ação COST:
COEXIST INSTITUTIONS - Relações entre os soberanos da Europa e do Norte de África e como estas moldaram um conjunto de práticas e normas diplomáticas comuns: os passaportes e salvo-condutos, os tratados de paz e comércio, trocas económicas partilhadas e negociações comerciais, políticas e militares entre as duas costas marítimas;
COEXIST FRONTIERS - A coexistência de membros de diferentes confissões religiosas e nacionalidades colocaram em causa os modelos jurídicos, os padrões culturais e sociais de cada grupo, que, obrigados a partilhar o mesmo espaço urbano, tiveram de, quer quisessem quer não, chegar a acordos de modo a assegurar a convivência.
COEXIST SOCIETY - Integração e inclusão no tecido social e produtivo dos migrantes e as políticas a adotar. Intercâmbios que, progressivamente, foram tecendo uma rede de contactos, mediadores e referenciais para créditos, trocas e circulação de bens,
COEXIST WITH SUCCESS - Práticas positivas de integração e sua influência nas sociedades que as acolheram. Multiculturalismo e desenvolvimento cultural e social.