O neologismo phubbing, junção de palavras que remetem às atividades mediadas pelo telefone e efeitos de desprezo, fornece imperativos para acentuar a percepção ubíqua de ser aborrecido, ignorado e ofendido em razão de um dispositivo móvel presente em situações de interação pessoal. Seu sintomático registro acompanha importantes descobertas sobre a difusão de mídias móveis em países em desenvolvimento, em cujos jovens são os grupos sociais mais ativos nesse cenário. Quase metade dos jovens brasileiros depende fortemente de telefone celular para estarem conectados on-line, e muitos são entusiasmados com o uso de aplicativos móveis para fortalecer sua interação social (Fundação Telefônica, 2014). Por outro lado, alguns fenômenos observáveis no ato do uso do telefone celular na interação face-a-face inevitavelmente chamam a atenção para críticas e preocupações de âmbito acadêmico, não somente em relação aos aspectos sociológicos, mas também no que tange aos conteúdos midiáticos consumidos e produzidos nesse processo. Assim, um dos estudos pertinentes sugere que o telefone móvel funciona como um vetor que "aciona representações implícitas de redes sociais mais amplas" (Przybylski e Weinstein, 2012, p. 244). Nesse sentido, de alguma forma os jovens acabam por representar o grupo mais saliente ao apresentar uma dualidade de culpado/vítima devido à sua dependência excessiva de telefone celular. Incorporando e relacionando a teoria do deslocamento da mídia, o estudo aqui proposto centrou-se na análise de um questionário sobre jovens estudantes brasileiros da área de comunicação, moradores de cinco grandes capitais do Brasil (N=274), buscando identificar como compreendem e lidam com as tensões entre as mídias móveis e a interação face-a-face no contexto familiar (ambiente doméstico), de amigos (laço social forte), com colegas de escola e/ou de trabalho, com namorado/namorada (âmbito social íntimo), e com conhecidos/estranhos (laço social fraco); também, quais tipos de conteúdo digital são consumidos e/ou produzidos durante o ato do phubbing e por que, considerando como conteúdos digitais os de vídeo, de áudio, multimídia, games e de aplicativos específicos de mensageiros. Os questionários foram distribuídos via software Qualtrics para preenchimento on-line e os dados analisados por estatística descritiva básica (média, desvio padrão, cruzamento de variáveis, etc.). Adicionalmente, entrevistas semi-estruturadas (N=10) com jovens das cinco grandes cidades brasileiras escolhidas foram realizadas virtualmente (por Skype e/ou Hangouts) usando um roteiro de perguntas composto a partir de análise preliminar dos dados quantitativos. As entrevistas foram analisadas com suporte do software Atlas.Ti em consonância com a metodologia de análise de conteúdo, para identificação de frequência de palavras-plenas, nuvem de palavras, codificação e categorização. Em linhas gerais, os resultados compuseram um quadro analítico decorrente da observação consolidada dos dados quantitativos e qualitativos, e contribuíram com novas nuances à discussão sobre deslocamento da mídia e com uma fotografia sobre as relações entre indivíduos e comunidade, novas mídias e relação interpessoal. Revelaram, por exemplo, que os jovens do Centro-Oeste são os que ficam mais tempo conectados (11h durante a semana e 12h durante o fim de semana). No geral, todos ficam mais tempo conectados quando estão em casa (8h) e foi no Sul a maior média de tempo máximo sem celular (3 meses). A preferência de plataformas identificada foi, em primeiro lugar, o Whatsapp, seguido de YouTube e Instagram. Quanto ao phubbing, 48% se sentem ignorados e chateados quando sofrem phubbing e a maioria diz cometê-lo sem nenhum motivo aparente. Mais detalhes da pesquisa foram explorados nas publicações que ainda estão em produção ou já submetidas.