Tribuna das Ilhas

Jovens ao leme: uma nova autonomia

A autonomia açoriana está envelhecida: não necessariamente em idade, mas em ideias. Os rostos dos quadros políticos e partidários parecem fazer questão em segurar o seu lugar, sem permitir renovações. Qualquer rosto novo que seja competente deve ser bem-vindo, mas neste aspeto os jovens podem dar uma grande ajuda.

 

Os Açores possuem, muitas vezes, o título de região mais jovem do país. Sendo a juventude um poço de irreverência, a região devia-se orgulhar da intensa efervescência que possui fruto da irreverência, dinâmica e ousadia dos mais jovens. É claro para a maioria dos leitores que nem o orgulho se sente, nem essa energia existe.

 

Não obstante, já começam a existir certas bolhas onde é possível ver os jovens expressar-se, quer numa dimensão pessoal, cultural, associativa ou política. Até agora a juventude era empurrada para o desporto ou para um campo musical muito selecto.

 

Só contrariando esta realidade é possível termos uma autonomia com futuro. Os jovens não têm todas as respostas, mas têm motivação, dinamismo e criatividade.

 

O que se passa, então, com a juventude açoriana para existir esta lacuna?

 

Apesar dos jovens serem o sujeito da pergunta anterior, a verdade é que muito pouco têm de culpa pelo seu apagamento. Afirmar que os jovens são desinteressados é um vinte avos da resposta.

 

Desde logo, temos de perceber que enquanto jovens temos pouca experiência de como funciona o mundo (e muitas vezes nem os graúdos têm) e, por isso mesmo, baseiam-se em exemplos. Os nossos limites são baseados nos limites de quem vemos. É quase o reforço vicariante de Bandura. Se não existirem exemplos, é natural que não haja ação. Neste caso, estamos a falar de gerações de inatividade que se perpetuam, ficando presas ao mínimo dos mínimos.

 

Felizmente, existem muitos espaços com grande atividade (em pelo menos alguma das dimensões). O que está a correr mal neles, então?

 

Já percebemos que os jovens são uma massa inercial: têm pensamento próprio, mas precisam de uma força externa para se movimentarem. Ter um exemplo faz com que nos sintamos com mais esperança no futuro, no entanto quanto maior a diferença de idades, menos impacto tem perante a juventude.

 

Algo que também não abona a favor destes casos é a ostracização das pessoas vistas como exemplos. Vermos pessoas com pensamento diferente e uma energia arrojada a serem colocadas de lado, a serem desprezadas ou insultadas. Ter destaque público é algo que traz atenção e escrutínio, mas, nos Açores, na sua pior mesquinhez, isso acarreta acima de tudo uma interferência na vida privada. Qual o jovem que a ouvir isso continua motivado para construir algo? Alguns, mas não é suficiente.

Existe uma clara oposição entre o espírito jovem e os interesses instalados, que não pode ser considerado conflito porque temos os segundos já numa posição de vantagem a imobilizar os primeiros.

 

Que se desengane o leitor: nada está perdido. Muito pelo contrário. Podemos estar entorpecidos, mas os jovens têm uma energia que, quando se levantarem de forma transversal, teremos uma mudança de forças. Que se note também que esta mudança deve ser gradual.

 

É urgente que os quadros regionais e locais comecem a dar uma maior importância à juventude sem cair na condescendência e no paternalismo. É necessário que a tocha comece a ser passada a outras pessoas, levando a um rejuvenescimento dos quadros. Ninguém nasce com experiência, é preciso aprender e só se aprende fazendo.

 

Jovens de toda a região, uni-vos!