O objeto deste trabalho é o Parque Ecológico da Enseada Norte, área situada às margens do lago Paranoá, na Asa Norte, em Brasília, Distrito Federal, delimitado pelo Decreto nº 27.472, de 06 de dezembro de 2006, onde se encontram as ruínas da antiga construção da Escola Superior de Guerra (ESG). Trata-se de um espaço de grande potencial paisagístico, atualmente subutilizado e marcado pelo abandono, mas que possui localização estratégica pela proximidade com o campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília e pelo acesso direto ao lago. A área reúne valores ambientais, sociais e culturais que justificam sua requalificação, oferecendo a oportunidade de ressignificar as ruínas inacabadas e transformá-las em infraestrutura paisagística integrada ao contexto urbano, ecológico e comunitário da capital.
Brasília carece de espaços públicos com acesso livre ao lago Paranoá. Atualmente, observa-se a presença de alguns acessos na Asa Sul, como o Deck Sul, a Prainha dos Orixás e a orla próxima à Ponte JK. Esses espaços possibilitam diferentes formas de apropriação do lago, seja pela permanência em suas margens e equipamentos existentes, seja pelo banho e pela prática de esportes aquáticos.
Na Asa Norte, contudo, a situação é distinta. O único acesso público significativo encontra-se no final da Asa Norte, nas proximidades da Ponte do Bragueto, onde está localizado o Deck Norte. Esse espaço, entretanto, é limitado basicamente à contemplação, não oferecendo infraestrutura adequada para banho ou atividades mais diversas. Dessa forma, tanto os moradores da Asa Norte quanto a comunidade da Universidade de Brasília permanecem privados de um acesso qualificado ao lago, apesar da existência de áreas com forte potencial para receber equipamentos públicos que tornem essa relação mais convidativa.
O campus da UnB, por meio do Centro Olímpico, dispõe de uma posição privilegiada para estabelecer essa conexão com o lago, o que possibilitaria à sua comunidade usos diversos, como a prática esportiva, o desenvolvimento de pesquisas ou mesmo atividades de lazer. No entanto, essa integração não se efetiva.
É importante destacar que Brasília também oferece acessos ao lago por meio de espaços privados, especialmente os clubes, restritos a sócios mediante pagamento. Há também o parque privado ‘Na Praia’, espaço de eventos, que simula uma praia, com estrutura para lazer, alimentação, permanência e com foco principal em shows de grandes artistas. Embora ofereça essas múltiplas possibilidades junto ao lago, trata-se igualmente de um espaço privado e com custo alto para o acesso, voltado a um público restrito.
Diante desse cenário, evidencia-se a necessidade e a oportunidade de criar um espaço público de acesso gratuito ao lago Paranoá, capaz de promover lazer, permanência, cultura e educação ambiental. O paisagismo, nesse contexto, torna-se o principal instrumento de requalificação, articulando a preservação e recuperação da vegetação nativa do Cerrado, a integração das ruínas como suporte para percursos e áreas de convivência, e a implementação de soluções ecológicas de manejo da orla, como técnicas de bioengenharia e recuperação de taludes.
A escolha das Ruínas da ESG/UnB como objeto de estudo justifica-se por sua localização estratégica — próxima ao campus Darcy Ribeiro e de fácil acesso aos moradores da Asa Norte — e pelo potencial de estabelecer uma conexão direta com o Centro Olímpico e com o lago. Além disso, a presença das ruínas, fruto de uma obra inacabada e abandonada há décadas, orienta a necessidade de requalificação da área, ressignificando esse espaço subutilizado em benefício da população e transformando-o em referência de infraestrutura paisagística para Brasília.
Além disso, cabe destacar que a área em questão encontra-se inserida nos limites estabelecidos pelo Decreto nº 27.472, de 06 de dezembro de 2006, que criou o Parque de Uso Múltiplo da Enseada Norte, posteriormente recategorizado como Parque Ecológico da Enseada Norte pelo Decreto nº 41.293, de 05 de outubro de 2020. O decreto original delimita uma poligonal de aproximadamente 11,99 hectares no Setor de Clubes Esportivos Norte, abrangendo a área das ruínas, com objetivos claros de conservação paisagística, recuperação ambiental e incentivo ao lazer e à educação ambiental em harmonia com a natureza.
Essa base legal reforça a pertinência do projeto, uma vez que a proposta paisagística para a área das ruínas dialoga diretamente com os princípios já instituídos pela legislação distrital, sobretudo no que se refere à conservação das características naturais, à revegetação com espécies nativas e ao uso público sustentável. Portanto, a intervenção paisagística não apenas se ancora em uma demanda cultural e urbana, mas também se alinha às diretrizes legais vigentes, reafirmando o potencial da área como espaço ecológico, educativo e de lazer integrado à cidade.
PLANTA DE LOCALIZAÇÃO
PLANTA DE SITUAÇÃO
PLANTA DE SITUAÇÃO II
ÁREA DE INTERVENÇÃO
DECRETO Nº 27.472
Este projeto tem como objetivo propor a requalificação das Ruínas da Escola Superior de Guerra (Ruínas da UnB) por meio do paisagismo, transformando a área em um espaço público de lazer, permanência e convivência. Busca-se oferecer infraestrutura para a prática de esportes, a realização de eventos culturais — como feiras e shows — e a promoção da educação ambiental, articulada à recuperação e conservação da vegetação do Cerrado.
A proposta pretende restabelecer a conexão direta com o lago Paranoá, viabilizando usos como banho, esportes aquáticos e demais atividades de lazer à beira d’água. Por meio da criação de um parque paisagístico, o projeto objetiva proporcionar à comunidade da UnB, aos moradores da Asa Norte e da cidade em geral o acesso público e gratuito ao lago, em um espaço convidativo que favoreça a imersão na natureza e o resgate ecológico da área.
Redefinir a poligonal definida decreto nº 27.472, de 06 de dezembro de 2006, a fim de adequar a area a realidade implantada bem como as necessidades estabelecidadas no plano de necessidades.
Ressignificar as ruínas inacabadas como suporte para percursos, vegetação, espaços de contemplação e convivência, ressignificando a memória e paisagem do lugar.
Delimitar a área de intervenção contruída e de implantação de jardins contemplativos, bem como a área a ser preservada e recuperada respeitando o bioma nativo.
Implantar jardins e áreas de permanência que dialoguem com a vegetação nativa do Cerrado, promovendo sua recuperação, conservação e enriquecimento paisagístico.
Estabelecer soluções de manejo ecológico para a orla do lago bem como a recuperação de parte da vegetação almejando reproduzir as fitofisionomias do bioma Cerrado.
Criar infraestrutura paisagística que incentive a prática de esportes aquáticos, banhos e atividades recreativas diretamente ligadas ao lago.
Desenvolver percursos contemplativos e educativos voltados à sensibilização ambiental e à difusão do conhecimento sobre o Cerrado e sua vegetação, como trilhas educativas.
Proporcionar espaços flexíveis para atividades culturais, como feiras, exposições e shows, de forma integrada à paisagem e sem comprometer os ecossistemas locais.
Criar um viveiro-escola, com núcleo compacto para a produção e obtenção de sementes e mudas, principalmente nativas do bioma Cerrado, destinadas a própria manutenção do parque, podendo ser administrado pela UnB em parcerias com voluntários.
Oferecer à comunidade da UnB, aos moradores da Asa Norte e à população do Distrito Federal um espaço democrático de lazer, promovendo imersão na natureza, conexão com o lago Paranoá e a valorização da paisagem urbana de Brasília.
Este trabalho será desenvolvido a partir das diretrizes projetuais aprendidas ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo, tendo início com a pesquisa de referencial teórico e a composição de repertório projetual, seguidos pelos diagnósticos e análises do terreno. A partir dos dados obtidos, será iniciada a elaboração da proposta de intervenção, que incluirá a síntese das informações levantadas, a definição de indicadores e a formulação de conclusões que subsidiarão a construção do programa de necessidades, do partido arquitetônico-paisagístico, da conceituação e das diretrizes projetuais.
Elaboração do referencial teórico: levantamento e seleção de material acadêmico de referência, como artigos, livros e textos especializados, além de análises de projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo que apresentem temas correlacionados à proposta de intervenção.
Composição do repertório projetual: seleção e estudo de projetos de referência relacionados a ruínas, parques urbanos, parques implantados em ruínas, ruínas retrofitadas, parques regenerativos, estruturas urbanas obsoletas requalificadas, ocupações temporárias em ruínas, requalificação de orlas e propostas de intervenção específicas para a orla do Lago Paranoá.
Etapa de diagnóstico: Análises do local, a partir de levantamento de dados, pesquisas documentais, imagens aereas via-satelite (google earth, google maps), visitas in-loco e produção de mapas analíticos.
Início da elaboração da proposta: desenvolvimento de mapas-síntese, definição do programa de necessidades, formulação do conceito e do partido projetual, além da estruturação das diretrizes e do zoneamento, a partir das conclusões e indicadores obtidos nas etapas de referencial teórico e repertório projetual.
POLIGONAL DEFINIDA PELO DECRETO nº 27.472, de 06 de dezembro de 2006.