É comum pensar que o transporte ferroviário é muito menos prejudicial ao meio ambiente do que o trafego rodoviário. No entanto, a especificidade do trilho causa uma contaminação orgânica e inorgânica resultante principalmente de óleos lubrificantes e fluidos de condensação usados no transporte de derivado de petróleo, minérios metálicos, fertilizantes e diversos produtos químicos, bem como da aplicação e herbicidas. Além da alta toxicidade, estabilidade significativa e efeito comutativo no meio ambiente, os HAPs (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) possuem uma característica peculiar, que é o efeito carcinogênico e mutagênico em organismos vivos.
Ademais, a emissão de poluentes atmosféricos, como gases tóxicos e material particulado (fuligem) resultantes da queima do combustível das locomotivas, geralmente possuem diferentes concentrações de metais pesados, os quais tendem a se acumular e demoram mais para se biodegradar em locais próximos (até 30m) de ferrovias.
Na página 8 do EIA, é apresentado um mapa mostrando o caminho da Nova Ferroeste. Nesse mapa, é possível observar na legenda a área de Mata Atlântica em verde. Porém, não é considerada a área de Mata Atlântica remanescente, dando a entender que ainda existe toda essa área de cobertura vegetal.
A imagem abaixo, retirada do primeiro volume da Revista Atlântica, demonstra a porcentagem de distribuição da Mata Atlântica no paraná.
A área da Serra do Mar é onde se encontra a maior porcentagem de concentração do bioma, tendo áreas com formação de floresta primária, algo que já não se encontra na maior parte do estado e em diversas áreas de distribuição da floresta. Se observarmos imagens de satélite é possível ver a diferença entre as áreas onde se encontra a Mata Atlântica bem preservada e onde ela já foi desmatada. Hoje restam aproximadamente 7% da cobertura original deste bioma no Paraná. Como afirma o segundo volume da Revista Atlântica “[...] observa-se que a cobertura de vegetação nativa está concentrada na região da serra do mar, enquanto em outras regiões restam poucos fragmentos da floresta original, como na região oeste e noroeste do Paraná.”
Ou seja, a Nova Ferroeste será construída em uma área que deveria ser prioridade de conservação dada a sua importância nos termos de biodiversidade e serviços ambientais. Isso é incoerente com a própria proposta do projeto, pois na página 14 do documento de Estudo de Impactos Ambientais (EIA) encontra-se o trecho que diz:
“Ao ser a grande obra prevista para o modal ferroviário no Paraná e Mato Grosso do Sul, é possível citar como principais objetivos sociais, econômicos e técnicos do empreendimento:
Fornecer nova infraestrutura ferroviária capaz de promover o desenvolvimento em bases sustentáveis;”
Segundo o estudo sobre Estoques de Biomassa e Carbono em uma Unidade de Conservação no Bioma Mata Atlântica, realizado por 3 universidades federais — a UFRRJ, a UFMG e a UEMG — uma área de 10 hectares de Mata Atlântica é capaz de armazenar 3.893,81 toneladas de CO2 estando de pé. Ou seja, um hectare de floresta equivale a aproximadamente 390 toneladas de carbono que não vai para a atmosfera.
Segundo o RIMA referente a Nova Ferroeste, as faixas de domínio em torno da instalação da ferrovia variam entre 40 metros para faixas simples e 60 metros para faixas duplas ou triplas. Através de simples cálculos é possível constatar que o desmatamento total apenas da área da Serra do Mar vai variar entre 2.304.400 e 3.456.600 metros quadrados, o equivalente a 230,44 ha e 345,66 ha, respectivamente. Isso significa lançar entre 89.728 e 134.593 toneladas de carbono na atmosfera apenas com a construção do trecho 5 da Nova Ferroeste.
A economia proposta pelo projeto é de 77,9 gramas de gás carbônico (CO2) por cada tonelada de material transportado em um quilômetro, utilizando da medida TKU (tonelada-quilômetro útil). Isso significa que a cada tonelada de soja, por exemplo, transportada por meio ferroviário, haveria uma redução de emissão de Gases de Efeito Estufa em relação aos meios rodoviários.
Entretanto, o documento RIMA apresenta essa redução apenas no sentido do tipo transporte e não na quantidade de carga transportada. Pelo meio rodoviário a emissão de gás carbônico é de 101,2 g por quilômetro e, via ferrovia, 23,3 g por quilômetro por tonelada de produto. Porém sem a ferrovia, transporta-se 1,5 milhão de toneladas e a ferrovia transportaria 58 milhões de toneladas, e esse valor é multiplicado.
Em outras palavras, atualmente é emitido pouco mais de 8,5 mil toneladas de gás carbônico num trecho equivalente de 57 km de rodovias. Com a ferrovia, carregando muito mais carga, seria emitido mais de 77 mil toneladas de CO2 no mesmo trecho por ano. Isso se somaria ao desmatamento provocado pela construção da ferrovia, ocasionando uma emissão total de CO2 podendo variar entre 168 mil e 212 mil toneladas, sem contar com a emissão constante nos próximos anos de existência da Nova Ferroeste.