Vários são os autores que situam o surgimento do leque, quase ao mesmo tempo do surgimento do homem, e muitos sãos os mitos e lendas que tratam de sua origem, assim como diferentes povos se dizem responsáveis pela criação desse acessório.
Dizem que Cupido, o deus do amor, inebriado pela beleza de sua amada Psique furtou uma asa de Zéfiro, o deus do vento para refrescar sua amada enquanto dormia. Há uma versão chinesa que atribui à Kan-Si, filha de um poderoso mandarim, a criação do leque. As principais civilizações desde a Antiguidade fizeram uso dele, como o Egito, Assíria, Pérsia, Índia, China, Grécia e Roma, tendo ele sido utilizado como símbolo de poder em sua essência.
Ventarolas mais refinadas foram as primeiras a chegarem na Europa entre os séculos XI e XIII provenientes do Oriente através das Cruzadas. Porém foi apenas no século XVI, quando os portugueses trouxeram os primeiros exemplares, de eixo, das suas colônias da Ásia que se iniciou, de fato, a moda de seu uso na Europa. Sendo assim nos séculos XVII, XVIII e XIX tornaram-se um complemento indispensável à vaidade feminina, invadindo salões e despertando paixões.
Fabricados de diferente materiais e técnicas como marfim, madrepérola, charão, a tartaruga, madeiras perfumadas e decorados com velum, tecidos e papeis pintados, litografados ou aquarelados; apresentavam cenas de gênero galantes, mitológicas, campestres ou orientais, muitas vezes retratando momentos históricos e religiosos. Dentre tantas variações temos os decorados com penas, plumas, rendas, os chamados o “baralho”, além das preciosidades vindas do oriente chamados de “mandarim”.
A armação do leque apresenta duas partes: a vareta mestra e as varetas internas. A vareta mestra geralmente é mais ornamentada do que as internas; em meados do século XIX passaram a apresentar as iniciais da dona do leque. No “leque indiscreto” eram colocados pequenos espelhos que permitiam as damas ver a movimentação ao seu redor, sem serem vistas.
A “folha” é a parte mais decorada do leque que podia ser feita com pinturas sobre tecido, papel, pergaminho, rendas, seda, etc, sendo geralmente ornamentadas com pinturas ou bordados com lantejoulas metálicas ou mesmo com fios de ouro ou prata.
A “Linguagem do Leque” originaria provavelmente no século XVIII nas cortes francesas. Esta era um complicado sistema de posições e gestos que possibilitavam as damas se comunicar e flertar.
No século XVIII, a França, foi principal fabricante de leques e adereços de luxo, embora não fosse a única, pois desde o século XVII leques importados do oriente chegavam á Europa, por via dos negociantes holandeses, portugueses e ingleses.
Durante o período da Revolução Francesa vemos um grande êxodo de artesãos e artífices da indústria do luxo (símbolo do Antigo Regime), que vão buscar apoio na Inglaterra. Com a crise na produção deste tipo de produto, aparecem os característicos “leques revolucionários” produzidos em França, porém sem o luxo e apreço visto décadas antes.
Após a ascensão de Napoleão Bonaparte ao trono francês, renasce a indústria francesa dos artigos de luxo, inspirados no estilo Neoclassicismo, com temática em alegorias campestres, de faunos e bacantes, setas de cupidos e motivos fitomorfos. Com a queda de Napoleão e a restauração das fronteiras europeias, entra em voga o gosto regionalista e de inspiração medieval, que vai durar até meados de 1850. Esta indústria de luxo não fica apenas nas mãos dos artesãos, desenvolveram maquinas de perfuração e gravação, criando leques de boa qualidade e fino acabamento para a crescente média burguesa.
Nas décadas de 1830 e 1840 a “folha” ou “panache” ainda era feita de velum ou papel ricamente decorados com aquarelas ou litogravuras por vezes pintadas e guarnecidas de prata dando assim um efeito todo especial ao desenho ilustrado. Entre 1860 e 1870 os leques ganham decoração diferenciada nas folhas, que são agora, feitas de seda dupla, porém devido à sua fragilidade, mais tarde é adicionado um forro de papel fino, que dá maior estabilidade ao tecido e alonga a durabilidade da peça. A partir da década de 1870 aparecem os primeiros leques de renda chegando ao seu ápice na década seguinte, bem como os leques de pluma de avestruz.
Dos meados 1880 e mesmo durante toda a década de 1890 a indústria dos leques chegam a seu apogeu no quesito tamanho, refino e luxo. Novos materiais como madeiras nobres, madrepérolas exóticas e mesmo coloridas artificialmente, agora ganham espaço na produção de leques de alto padrão, que não só atendia às altas classes, mas também à uma burguesia já enriquecida e exigente no quesito luxo e bem-estar. Aparecem nesta época o status de grife no leque, com fabricantes como Duvelleroy, Faucon, Ernest Kees entre outros.
Nas décadas de 1890 a 1900, o imperialismo francês e britânico, deixa nesta indústria sua marca: plumas de aves raras, vindas do Oriente e também da Amazônia, bem como finíssimos cascos de tartaruga trazidos da Austrália e Polinésia transformam-se na mão dos mais finos artesãos em verdadeiras obras de arte. Ao mesmo tempo movimentos artísticos como o realismo, impressionismo e o art-nouveau, farão o leque servir como tela para artistas anônimos e mesmo famosos como Mary Cassat. Nesta mesma época o oficio de pintor exclusivo de leques para as grandes casas como Duvelleroy, era uma profissão muito rentável, e muitos foram os que conseguiram fama com este oficio, como Billotey.
O leque ao longo de sua história, serviu como comunicador político, social e mesmo sentimental entre homens e mulheres, de um tempo perdido no qual desempenharam seu papel como silenciosas testemunhas.
Eis uma frase de Madame de Stäel, uma dama da sociedade francesa, a respeito do leque:
"Há tantos modos de se servir de um leque que se pode distinguir, logo à primeira vista, uma princesa de uma condessa, uma marquesa de uma routurière. Aliás, uma dama sem leque é como um nobre sem espada."