Caridade
XAVIER, F. C., pelos Espíritos Diversos
Comentávamos a beneficência, em reunião[1] de companheiros, encarnados e desencarnados, quando alguém considerou que a palavra "caridade", por excessivamente repetida, talvez estivesse perdendo a significação e a importância.
Entretanto, aduzimos: "estaria o Sol diminuindo em grandeza, por mostrar-se diariamente, de hemisfério a hemisfério? que palavra diferente inventaríamos para a luz, unicamente porque seja ela um prodígio infinitamente rearticulado para os nossos olhos"?
Irmãos presentes observaram com gentileza: "não será justo que os amigos da Espiritualidade venham a fixar o valor perene da caridade num livro simples que lhe receba o nome"?
Aceitamos a lembrança-convite e, através do tempo, colecionamos, — alguns companheiros e nós —, as páginas que se nos fizeram possíveis em derredor do assunto.
***
E aqui temos o volume planeado pelos dedicados irmãos que no-lo recordaram para marco de respeito e consideração para com a palavra-legenda que nos expressa o amor ao próximo.
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Caridade!... — Haverá outra expressão mais nobre para designar o laço de íntima união entre nós, à frente do Criador?
Homenageando-a por chama da própria Vida Espiritual, interligando-nos os corações perante Deus, entregamos a ti, leitor amigo, este volume despretensioso, em que nos reunimos aos companheiros reencarnados para salientar os valores do sentimento que nos irmana, infundindo-nos esperança e coragem, no trabalho de nossa elevação mútua.
***
Que este livro do coração possa induzir-nos à prática do bem e à certeza de que todos necessitamos uns dos outros, nos caminhos para o Mais Alto, são os nossos votos, rogando, de nossa parte, aos Mensageiros do Bem Eterno, a todos nos inspirem e abençoem, a fim de que venhamos a reconhecer na Caridade o traço de luz imperecível que todos nos integrará, um dia, com o Próximo e com Deus.
Emmanuel
Uberaba, 14 de junho de 1978.
Regozija-te na companhia dos amigos, em cuja intimidade surpreendes o alimento espiritual que te assegura euforia e bom ânimo; entretanto, em toda oportunidade que se te descortine, cultiva o intercâmbio com os habitantes das calçadas públicas ou de taperas abandonadas, em que se esconde a penúria cansada de sofrimento, e onde, com ligeira migalha de socorro material ou com simples frase amiga, podes exercer o ofício dos anjos.
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Anima os festivais das crianças felizes, em que bebês alegres e formosos conquistam prêmios de robustez; todavia, sempre que as circunstâncias te favoreçam, visita os recintos da provação, onde meninos desfigurados e tristes te aguardam a fatia de pão ou a maçã que te sobrou à mesa, como retratos da verdadeira felicidade.
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Aprimora-te na apresentação pessoal, pois ao próprio lírio no charco Deus concedeu direito a beleza digna para a glória da Natureza; mas, quanto possas, comparece nos círculos de angústia em que mães sofredoras se agoniam entre a necessidade e o desespero, oferecendo-lhes alguma bênção de amparo, de maneira a enfeitar-lhes a face com o sorriso da esperança.
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Busca os divertimentos sadios que te refaçam as energias da mente e do corpo, sem prejuízo de teus deveres; no entanto, quanto possível, procura os hospitais, no intuito de confortar os irmãos doentes, de todas as condições, que aí suportam aflição e doença, a fim de que aprendas a agradecer a Deus as vantagens orgânicas que desfrutas.
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Esmera-te no estudo e no burilamento da personalidade, tanto quanto puderes; porém, tanto quanto puderes, igualmente, sai de ti mesmo, ao encontro do próximo em dificuldades maiores que as nossas, atendendo ao amor que Jesus nos ensinou...Então, converterás o teu próprio sentimento em estrela no céu da inteligência, porque, em verdade, Deus nos concede na cultura o coração da escola, assim como nos oferece na caridade a escola do coração.
Emmanuel
Caridade — o doce alívio
Àquele que pede à porta;
Entretanto, além do amparo,
A frase que reconforta;
O socorro em que te mostras
Onde o bem se faz preciso,
Colocando em cada gesto
A dádiva de um sorriso.
Caridade — a paciência
No apoio do braço irmão
Que suporta o companheiro
Na hora da irritação;
O ouvido que escuta e cala,
Cumprindo santo dever,
Esquecendo tudo aquilo
Que não se deve dizer.
Caridade — a mente calma
Da criatura sincera,
Que ajuda sem reclamar,
Que jamais se desespera;
A voz que adoça pesares,
Que não fere, nem se cansa,
Vestindo a dor da verdade
Na túnica da esperança.
Caridade — dom de Deus,
A bondade dividida,
Será sempre, em toda parte,
A luz que clareia a vida;
Mas só fica onde trabalha
E nunca aparece em vão,
Quando nasce, vibra e serve
Por dentro do coração.
Manoel Monteiro
Nos caminhos claros da inteligência, muitas vezes as rosas da alegria incompleta produzem os espinhos da dor, mas, nas sendas luminosas da caridade, os espinhos da dor oferecem rosas de perfeita alegria.
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Onde a mão da caridade não passou, no campo da vida, as pedras e a erva daninha alimentam o deserto; e, enquanto não atinge o cérebro, elevando-se do sentimento ao raciocínio, a ciência é simples calculo que a maldade inclina à destruição.
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Indubitavelmente, a fé improvisa revolucionários, a instrução erige doutores, a técnica forma especialistas e a própria educação, venerável em seus fundamentos, burila gentilhomens para as manifestações do respeito recíproco e da solidariedade comum. Só a caridade, porém, edifica os apóstolos do bem que regeneram o mundo e lhe santificam os destinos.
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A investigação e a cultura erguerão universidades e academias, onde o pensamento se entronize vitorioso; entretanto, somente a caridade possui as chaves do coração humano para fazer a vida melhor.
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Cristãos abnegados da era nova, uni-vos sob o estandarte da divina virtude! Não convertais o tesouro do Céu em motivo para indagações ociosas quando, ao redor de vossos passos, se agita a multidão atormentada. Multiplicai o pão da crença e do reconforto, à frente da tuba aflita e esfaimada, porque o Senhor vos renovará os dons de auxiliar, toda vez que o cântaro de vosso esforço trouxer aos mananciais de cima o sublime sinal da caridade benfeitora. Estudai e meditai, monumentalizando as obras de benemerência pública e ensinando a verdade imperecível com que a Nova Revelação vos enriquece, mas não vos esqueçais de instalar no peito um coração fraterno e compadecido.
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Instituições materiais primorosas, sem o selo intimo da caridade, são frutos admiráveis sem sementes. Sem a compreensão, filha da piedade generosa e construtiva, nossa organização doutrinal seria um palácio em trevas.
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Iluminemos a luta em torno, clareando a vida por dentro.
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Aspiremos ao paraíso, cooperando para que o bem alcance toda a Terra.
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Fora de Deus não há vida e fora da caridade, que é o Divino Amor, não há redenção.
Thereza
Se a tua aflição não apoia aos que te observam;
se o pranto da queda te não auxilia a perdoar e a compreender;
se a experiência não te ensina;
se a chaga não te lega benefícios;
se a tua preocupação não serve ao bem dos demais;
se a tua responsabilidade não é sentida, vivida e sofrida;
se a tua esperança não produz alegria para os outros;
se a prova não é para tua alma a instrutora ideal;
se a amargura te não faz mais doce;
e se o sofrimento não te dá mais compreensão;
em verdade,
regressarás, apressadamente, logo depois da morte,
às lutas educativas da Terra,
porque a dor
— a divina escultora da vida —
terá sido em ti mesmo
a candeia apagada
em cinza espessa e vã.
André Luiz
FILHOS
DEUS nos abençoe.
A obra do Cristo, hoje como ontem, é a caminhada do amor, em serviço aos semelhantes, através de estradas em que a sombra, muitas vezes, ruge e domina.
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Problemas, dificuldades, aflições, incompreensões, obstáculos, crises, dores, lutas e sacrifícios surgirão na senda, por desafios da construção que nos compete realizar...entretanto, para a romagem possuímos a CARIDADE, como sendo a luz inextinguível que o MESTRE nos legou.
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Tropeços aos montes repontarão do cotidiano...mas, se tivermos CARIDADE, serão removidos em silêncio, para que a harmonia se reajuste.
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Discórdias gritarão, concitando-nos a conflitos desnecessários nas trevas... entretanto, se tivermos CARIDADE, os ânimos conturbados se apaziguarão, para que a serenidade nos comande o destino.
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Injúrias virão, a modo de serpes, insuflando no ambiente as projeções de que são portadoras... todavia, se tivemos CARIDADE, a prece virá do nosso coração à força do verbo, a fim de que se convertam em bênçãos de paz.
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Deserções inesperadas induzir-nos-ão à tristeza e ao desânimo, ante a falta de companheiros que se nos erigiam, em sustentáculos da esperança... se tivermos CARIDADE, porém, o vazio da fileira será preenchido e os irmãos ausentes voltarão mais tarde para mais ampla cooperação.
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Provas rudes cairão sobre nós, como sejam aquelas que se vinculam às consequências do passado culposo, comprometendo-nos a estabilidade de ação e conjunto... no entanto, se tivemos CARIDADE, as lágrimas regenerativas e as dores esfogueantes das lides expiatórias encontrarão consolo que as atenue.
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Tentações inquietantes pesar-nos-ão nos círculos afetivos, carreando ameaças contra a segurança de nossa fé... contudo, se tivemos CARIDADE, o amor vibrará em nossas almas, desfazendo as tramas obscuras da obsessão.
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Desentendimentos no âmbito mais íntimo de nossos ideais aparecerão, à maneira de insetos destruidores, carcomendo a plantação promissora de nossas realizações com Jesus...mas, se tivermos CARIDADE, encontraremos os recursos precisos para extirpá-los, sem que o fel da mágoa nos intoxique as fontes da fraternidade e da confiança.
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Para todas as proporções da vida, onde a vida nos apresente um enigma a resolver, ligado às exigências de nossa tarefa e melhoria, aperfeiçoamento e elevação, recordemos a sublime condicional: SE TIVERMOS CARIDADE...
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Em todos os lugares e em todas as situações, a bondade do Cristo nos chama ao divino testemunho: Caridade, Caridade.
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Não esmoreçamos, perante o quadro de trabalho, da demonstração de exemplo e humildade, a que estamos intimados pelos nossos próprios compromissos, à frente do Senhor...
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Jesus permanece conosco e, se tivermos CARIDADE, venceremos.
Fabiano
Antes que o olhar se nos fixe nos mundos brilhantes, que evoluem mais alto no campo da Universidade Divina, lembra a Terra amorosa que te acolhe e bendiz.
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Repara a gleba em que te encontras.
Espinheiros e flores se misturam.
Pedra e lama impedem a sementeira digna em vastas regiões que se fazem inóspitas.
Vermes e plantas venenosas perturbam grandes linhas da paisagem.
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Esta é a casa de trabalho em que o Senhor te situou.
Faze alguma cousa por melhorá-la, embelezá-la ou engrandecê-la.
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Auxilia ao trabalhador na conservação do bom ânimo.
Socorre o enfermo, a fim de que se restaure.
Ampara as sementes do bem.
Inspira a coragem aos que te fraquejam.
Acende alguma luz para as sombras.
Amassa o pão do reconforto para quem te reclama o concurso fraterno.
Produze a gota de remédio que regenera o doente.
Defende a fonte cristalina.
Planta uma árvore valiosa no caminho em que transitas ou faze um vaso humilde florir à porta do lar e estarás enriquecendo o berço em que nasceste, elevando a existência, a favor daqueles que virão depois dos teus passos.
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Quem não valoriza a candeia próxima, dificilmente entenderia o esplendor da estrela distante.
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Quem despreza o alfabeto não atinge a ciência.
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É preciso começar com o bem e persistir com ele se desejamos a perfeição.
Cada qual, porém, avança na senda que lhe é própria.
Ninguém caminhara para a gente sobre o alheio esforço.
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Antes de pretendermos o ingresso nos mundos venturosos e redimidos, salvemos o chão em que nos firmamos, construindo o mundo mais feliz de amanhã pela melhoria de nós mesmos.
Não vale contemplar sem agir, nem sonhar sem fazer.
Emmanuel
Se alguém te fala na rua,
Deitando lamentação,
Não passes despercebido,
Escuta, que é nosso irmão.
Ouviste o parente em casa,
Gritando em voz de trovão,
Não te aborreças por isso,
Tolera, que é nosso irmão.
Transformou-se o companheiro...
Agora, rixa, brigão.
Não te afastes, nem censures,
Suporta, que é nosso irmão.
O amigo a quem mais estimas
Ofendeu-te sem razão...
Não te dês ao derrotismo:
Perdoa, que é nosso irmão.
Padece e chora o vizinho
Problemas em profusão,
Não te demores no auxilio;
Coopera, que é nosso irmão.
Enxergaste o pequenino,
Sem roupa, sem lar, sem pão.
Não permaneças de longe,
Acolhe, que é nosso irmão.
Viste o doente sozinho
No braseiro da aflição;
Não percas tempo em conversa,
Socorre, que é nosso irmão.
Tiveste do adversário
Pedradas de ingratidão...
Calando, segue servindo;
Desculpa, que é nosso irmão.
A quem te peça um favor,
Embora dizendo "não",
Sem grita e sem aspereza,
Atende, que é nosso irmão.
Diante de todo aquele
Que sofre na provação,
O Cristo pede em silêncio:
— "Ampara, que é nosso irmão".
Casimiro Cunha
A existência terrestre é uma viagem educativa.
Começa na meninice, avança pelos caminhos claros da plenitude física e altera-se na noite da enfermidade ou da velhice, para renovar-se, além da morte.
Repara, pois, como segues.
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Não te agarres aos bens materiais, senão no estritamente necessário para que te faças valioso irmão no concurso aos companheiros de jornada e útil a ti mesmo.
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Há muitos viajores que sucumbem na caminhada sob pesados madeiros de ouro a que se jungem, desorientados.
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Não reclames devotamento do próximo, e, sim, ama e auxilia a todos os que se aproximem de ti, para que o teu amor não desça do Alto aos tenebrosos despenhadeiros do exclusivismo.
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Muitos peregrinos enlouquecem o coração no mel envenenado das afeições doentias e demoram-se longos séculos na corrente viscosa do charco.
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Não prossigas viagem guardando ressentimento, para que não aconteça te prendas impensadamente aos labirintos do ódio.
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Muitos viajantes, a pretexto de fazerem justiça, tombam, insensatos, em escuras armadilhas da crueldade e da intriga, com incalculáveis prejuízos no tempo.
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Recorda que iniciaste a excursão terrestre sem qualquer patrimônio e encontraste carinhosos braços de mãe que te embalaram, amparando-te, em nome do Eterno.
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Lembra-te que nada possuis, à frente do Pai Celestial, senão tua própria alma e, por isso mesmo, soem tua alma amealharas o tesouro que a ferrugem não consome e que as traças não roem.
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Prazer e dor, simplicidade e complexidade, escassez e abastança, beleza da forma ou tortura do corpo físico, são simplesmente lições.
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O caminho do mundo que atravessas cada dia, é apenas escola.
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Teus afetos mais doces são companheiros com tarefas diferentes das tuas.
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Segue sem imposição, sem preguiça, sem queixa e sem exigência.
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O corpo é o teu veículo santo.
Não lhe conspurques a harmonia.
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A experiência tua instrutora.
Não lhe menosprezes o ensinamento.
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O próximo de qualquer procedência é teu irmão.
Não o abandones.
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O tempo é o empréstimo divino que recebeste do Céu, para a edificante peregrinação.
Valoriza-o com o teu aprimoramento no amor e na sabedoria.
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E aceitando Jesus por mestre, em teus passos de cada hora, guarda a certeza de que, em breve, atingiras a alegria do sublime retorno ao Divino Lar.
Emmanuel
O pobre, pobre de humildade e de espírito de serviço, é o irmão dileto do rico, rico de avareza e indiferença.
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O pobre, rico de resignação e de atividade no bem, é o companheiro ideal do rico, rico de bondade e entendimento.
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Pobreza e riqueza são portas abertas à glorificação espiritual.
Na primeira, é mais fácil aprender a servir, na segunda, a ciência de dar exige agradável acesso.
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Não vale a pobreza sem a conformação e ruinosa é a riqueza insensata.
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Todos os homens, na intimidade de si mesmos, são defrontados por desafios da carência e da fortuna que os convocam ao esforço de sublimação.
Aquele que se empobrece de ignorância e maldade, buscando enriquecer-se de amor e sabedoria, no serviço ao próximo, através do trabalho e do estudo incessantes, adquirindo compreensão e conhecimento, luz e paz, diante das Leis Divinas, é, de todos os pobres e de todos os ricos, o homem mais valioso e mais feliz.
André Luiz
Quando as circunstancias nos ofereçam incompreensões ou acusações, em torno do próximo, busquemos examinar acontecimentos e pessoas com os olhos do Cristo. Imaginemo-nos de posse do senso divino, sem perder a noção de nossa reconhecida pequenez e a incomensurável grandeza daquele a quem nomeamos por nosso Mestre e Senhor.
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Como teria visto Jesus a estreita espiritualidade do seu tempo, senão por gleba inculta que lhe cabia arrotear e semear? Como teria apreciado as críticas que lhe acompanharam a obra a não ser por tumulto necessário de opiniões, a fim de que a verdade prevalecesse? Fossem quais fossem as crises, jamais pedia o mais alto padrão de serenidade, aproveitando o tempo para construir e situando no futuro a concretização dos seus luminosos objetivos.
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Muitos viam em Zaqueu o avarento incorrigível; ele, no entanto, nele identificou o homem rico de nobre coração, capaz de transfigurar a riqueza em trabalho e beneficência. Em Bartolomeu, a multidão enxergava o infortúnio de um cego; ele anotou os obstáculos de um doente, suscetível de ser curado para glorificar a Bondade de Deus. Em Maria de Magdala, cuja personalidade apresentava a mulher obsidiada pó sete Espíritos infelizes, reconheceu a criatura decidida a renovar-se e que lhe seria, mais tarde, a mensageira da própria ressurreição. Em Pedro, que o povo definia pó discípulo frágil, a ponto de negá-lo três vezes, descobriu o amigo sincero que, convenientemente amadurecido na fé, lhe presidiria o apostolado em formação.
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Múltiplos os óbices que se agigantam no caminho da fé, mas não permitas que eles te venham conduzir ao desanimo ou à negação. Procura enumerá-los por fora, com as pupilas de Jesus, e encontrarás sublime compreensão e balsamizar-te por dentro. Feito isso, registraremos dificuldades e aflições, desgostos e contratempos, não ao modo de barreiras intransponíveis na senda de elevação espiritual e sim reconhecê-los-emos por necessidades justas e inevitáveis do campo de serviço em que fomos chamados a produzir, no bem da Humanidade e de nós mesmos, aí trabalhando e abençoando como Jesus abençoou e trabalhou.
Emmanuel
Abençoai sempre as vossas dificuldades e não as lastimeis, considerando que Deus nos concede sempre o melhor e o melhor tendes obtido constantemente com a possibilidade de serdes mais úteis.
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Quanto mais auxiliardes aos outros, mais amplo auxílio recebereis da Vida Mais Alta.
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Quanto mais tolerardes os contratempos do mundo, mais amparados sereis nas emergências da vida, em que permaneceis buscando paz e progresso, elevação e luz.
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Quanto mais liberdade concederdes aos vossos entes amados, permitindo que eles vivam a existência que escolheram, mais livres estareis para obedecer a Jesus, construindo a vossa própria felicidade.
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Quanto mais compreenderdes os que vos partilham os caminhos humanos, mais respeitados vos encontrareis de vez que, quanto mais doardes do que sois em beneficio alheio, mais ampla cobertura de amparo do Senhor assegurará a tranquilidade em vossos passos.
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Continuemos buscando Jesus em todos os irmãos da Terra, mas especialmente naqueles que sofrem problemas e dificuldades maiores que os nossos obstáculos, socorrendo e servindo e sempre mais felizes nos encontraremos sob as bênçãos dele, nosso Mestre e Senhor.
Bezerra de Menezes
Compadece-te da criança que segue a teu lado.
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O dia começa ao amanhecer.
Pai, mãe, irmão ou amigo, ampara-lhe a vida, com o teu próprio coração, se pretendes alcançar a Terra Melhor.
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Lembra-te das vozes amigas que te induziram ao bem, das mãos que te guiaram para o trabalho e para o conhecimento.
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Por que não amparar, ainda hoje, aqueles que serão, amanhã, os orientadores do mundo?
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Em pleno santuário da natureza, quantas árvores generosas são asfixiadas no berço? Quanta colheita prematuramente morta pelos vermes da crueldade?
A vida é também um campo divino, onde a infância é a germinação da Humanidade.
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Já meditaste nas esperanças aniquiladas ao alvorecer? Já refletiste nas flores estranguladas pelas pedras do sofrimento, ante o sublime esplendor da aurora?
Provavelmente dirás: "Como impedirei o sofrimento de milhares?"
Ninguém te pede, porém, para que te convertes num salvador apressado, carregado de ouro e poder.
Basta que abras o coração com a chave da bondade, m favo dos meninos de agora, para que os homens do futuro te bendigam.
***
Quando a escola estiver brilhando em todas as regiões e quando cada lar de uma cidade puder acolher uma criança perdida — ninho abençoado a descerrar-se, aconchegante, para a ave estrangeira — teremos realmente alcançado, com Jesus, o trabalho fundamental da construção do Reino de Deus.
Meimei
Há choro dentro da noite...
É o doloroso gemido
De pobre recém-nascido
Que não encontra lugar...
Mãos insensíveis sufocam
Pequenina flor humana...
É o aborto, em lide insana,
Ferindo a Lei sem pensar.
Ah! Quantas almas formosas,
Nos planos em que me movo,
Sonhando nascer de novo,
No entanto, rogam em vão...
Agasalham-se no amor,
Mas, em lágrimas convulsas,
Ei-las batidas e expulsas
A golpes de ingratidão.
Irmãos da Terra, escutar!...
Detende a marcha do aborto,
Estendei vosso conforto
Aos companheiros do Além!...
Cada criança que surge,
Mesmo entre rudes labéus,
É uma esperança dos Céus
Para a vitória do Bem.
Maria Dolores
No mercado da vida, observamos os talentos da Providência Divina fulgurando na experiência humana, dentro das mais variadas expressões. Talentos da riqueza material, da intelectualidade brilhante, da beleza física, dos sonhos juvenis, dos louros mundanos, do brilho social e doméstico, do poder e da popularidade.
Alinham-se, à maneira de joias grandes e pequenas, agradáveis e preciosas, estabelecendo concorrência avançada entre aqueles que as procuram.
***
Há, porém, um talento de luz acessível a todos. Brilha entre ricos e pobres, cultos e incultos. Aparece em toda parte. Salienta-se em todos os ângulos da luta. Destaca-se em todos os climas e sugere engrandecimento em todos os lugares.
É o talento da oportunidade, sempre valioso e sempre o mesmo, na corrente viva e incessante das horas.
É o desejo de doar um pensamento mais nobre ao círculo da maledicência, de fortalecer com um sorriso o ânimo abatido do companheiro desesperado, de alinhavar uma frase amiga que enterneça os maus a se sentirem menos duros e que auxilie aos bons a se revelarem sempre melhores, de prestar um serviço insignificante ao vizinho, plantando o pomar da gratidão e da amizade, de cultivar algum trato anônimo de solo, onde o arvoredo de amanhã fale sem palavras de nossas elevadas intenções.
***
Acima de todos os dons, permanece o tesouro do tempo.
Com as horas os santos construíram a santidade e os sábios amealharam a sabedoria.
É com o talento esquecido das horas que edificaremos o nosso caminho, no rumo da Espiritualidade Superior, na aplicação silenciosa com o mestre que, atendendo compassivamente às necessidades de todos os aprendizes, prometeu, com amor, não somente demorar-se conosco até ao fim dos séculos terrestres, mas também asseverou, com justiça, que receberemos individualmente na vida, de acordo com as nossas próprias obras.
Emmanuel
Insignificante é o pingo d’água, todavia, com o tempo, traça um caminho no corpo duro da pedra.
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Humilde é a semente, entretanto, germina com firmeza e produz a espiga que enriquece o celeiro.
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Frágil é a flor, contudo, resiste à ventania, garantindo a colheita farta.
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Minúscula é a formiga, mas edifica, à força de perseverança, complicadas cidades subterrâneas.
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Submissa é a argila, no entanto, com o auxílio do oleiro, transforma-se em vaso precioso.
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Branda é a veste física, que um simples alfinete atravessa, todavia suporta vicissitudes incontáveis e sustenta o templo do Espírito em aprendizado, por dezenas de lustros, repletos de necessidades e padecimentos morais.
***
O verdadeiro progresso prescinde da violência.
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Tudo é serenidade e sequência na evolução.
***
Aprendamos com a Natureza e adotemos a brandura por diretriz de nossas realizações para a vida mais alta, mas não a brandura que se acomoda com a inércia, com a perturbação e com o mal e sim aquela que se baseia na paciência construtiva, que trabalha incessantemente e persiste no melhor a fazer, ultrapassando os obstáculos que a ignorância lhe atira à estrada e superando os percalços da luta, a sustentar-se no serviço que não esmorece e na esperança fiel que confia, sem desanimo, na vitória final do bem.
André Luiz
Recorda que a tua noite é a continuação do teu dia.
***
Repousando o veículo denso — o corpo a que te junges —, o viajor, que és tu mesmo, prossegue na romagem constante das horas.
E não te faltarão companheiros na sombra, a copiarem perfeitamente os companheiros que preferes perante a luz.
***
Se malbaratas o tempo em conversações infelizes, decerto avançarás, treva a dentro, intoxicando a ti mesmo com o verbo envenenador.
***
Se te comprazes no vício, cerradas as janelas da visão na carruagem carnal, identificarás, junto de ti, quantos se alimentam à mesa do vampirismo.
***
Se te confias à cólera e à agressividade, tão logo te retires do campo físico partilharás o pesadelo dos que se nutrem de ódio e perseguição.
***
Se te agrada a ideia de enfermidade, em cujas teias te conformas, sem qualquer resistência, em favor do trabalho que te redimiria a imaginação, assim que te afastas do corpo, à influência do sono, entrarás na companhia deplorável de doentes do espírito, que fazem da inércia a sua razão de ser.
***
Vale-te do dia para criar valores novos e substanciais que te enriqueçam a vida
***
Lembra-te de que nossos laços inferiores com o passado não jazem de todo extintos e numerosos desafetos de ontem nos espreitam a invigilância de hoje para reconduzir-nos a novas flagelações amanhã e quase todos aguardam a escuridão para multiplicar apelos delituosos e sugestões infelizes.
***
Saibamos conquistar a noite, aproveitando os recursos do dia para estender o bem, porque no símbolo do sol e da sombra temos a imagem de vida e da morte, dependendo de nós mesmos fazer da existência um cântico de beleza e harmonia, fraternidade e trabalho, para que o termino de nossas tarefas represente abençoada renovação.
Emmanuel
No caminho de fé viva,
Sob a luz que nos governa,
Não deixes de entesourar
As bênçãos da vida eterna.
Toda fortuna terrena
Em grandes teres e bens
Começa devagarinho
Em diminutos vinténs.
Assim também, vida afora,
As graças e os dons divinos
Principiam levemente
Nos serviços pequeninos.
Um sorriso de bondade,
No espinheiro da aflição,
Descobre fontes sublimes
De paz e consolação.
Uma gota de remédio,
Um bolo, um caldo, uma flor,
No capo da Humanidade,
São sementeiras de amor.
Um livro que nos melhore
E nos ensine a pensar
É luz acessa, brilhando
No rumo do Eterno Lar.
Uma visita fraterna
Que reconforte e que ajude
Faz milagres de esperança
E estímulos de saúde.
Um gesto de caridade
Apaga muitas feridas.
Um minuto de Evangelho
Pode salvar muitas vidas.
O silêncio generoso
Da desculpa de um momento
Pode evitar muitos anos
De conflitos e sofrimento.
De gota d’água o ribeiro
É a doce e clara união.
De segundos faz-se o tempo.
De migalhas faz-se o pão.
Quem se propõe atingir
Virtude, glória e beleza,
Encete a romagem santa
Na pequena gentileza.
Se pretendes alcançar
Os sóis da Excelsa Alegria,
Aprende a galgar, amando,
Os degraus de cada dia.
Casimiro Cunha
Aquele diz: — "Isto é meu".
Outro afirma: — "Guardo o que me pertence".
Entretanto, só Deus é o legítimo Senhor de Tudo.
***
Rejubilas-te com a nutrição...
Contudo foi Ele quem promoveu a sustentação da semente para que a semente, convertida em pão, te assegure o equilíbrio.
***
Orgulhas-te do dinheiro que te garante a aquisição das utilidades imprescindíveis à segurança e ao conforto...
No entanto, foi Ele, quem te angariou indiretamente os recursos preciosos para que te não faltassem saúde e raciocínio, disposição e inteligência na tarefa em que te sorri a fortuna.
***
Regozijas-te com o lar...
Todavia, foi Ele quem te situou nos braços maternais que te acalentaram os vagidos primeiros, aproximando-te dos afetos que te enriquecem os dias...
***
Lembra-te de Deus, o Todo Misericordioso que nos confia os tesouros da existência, a fim de que aprendamos a buscar-Lhe o Paterno Seio...
E reparte com teu irmão do caminho os talentos que Ele te empresta, na certeza de que somente ao preço da fraternidade infatigável e pura, subirás para a Glória Divina, em que Deus te reserva a imortalidade da vida entre as fulgurações da Sabedoria Imperecível e as bênçãos do Amor Eterno.
Scheilla
Imprescindível compreender a função da luta em nosso aprendizado, quando na peregrinação terrestre, para que a fé e o amor não sejam palavras vazias e inúteis em nossos lábios.
***
Recordemos que o primeiro favor da proteção divina, a benefício da alma que se candidata à renovação e ao resgate no mundo, expressa-se na prisão corpórea, em que o espírito, condicionado a leis orgânicas, sofre temporariamente a redução da própria liberdade.
***
Internado no instituto doméstico, é defrontado não somente pelos afetos que lhe estimulam a caminhada, mas também pelas algemas das aversões profundas que assomam aos laços consanguíneos, liquidando antigos débitos.
***
E da infância à juventude e da mocidade à velhice fisiológica, a alma é surpreendida de mil modos diferentes por dificuldades e dissabores, aflições e feridas, à conta de lições preciosas que lhe conduzem o entendimento à paz e a sublimação.
***
Não te iludas, nos dias rápidos com que a experiência humana te favorece.
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Aprendamos a recolher pedras e espinhos, como quem sabe que deles surgem o ouro da experiência e as rosas da alegria — riqueza de nossa marcha.
A educação é longo processo de trabalho, entre o dever e a disciplina, em que a dor é sempre a nossa mestra prestimosa e benevolente.
***
Se esposaste, assim como Cristo, a senda de redenção, ergue o pensamento ao Alto e segue, estendendo o bem.
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Não te esqueças de que Ele mesmo, nosso Divino Mestre, não viveu entre os homens sem perseguidores e adversários.
Mas, dos inimigos gratuitos que lhe feriram o coração, fez a moldura sublime para o amor que nunca morre, do qual envia até nós, cada dia, a luz que nos clareia a romagem para a Vida Imperecível e Triunfante.
Emmanuel
Imagina-te à frente de um violino. Instrumento que te espera sensibilidade e inteligência, atenção e carinho para vibrar contigo na execução da melodia.
Se o tomas de arranco, é possível te caia das mãos, desafinando-se, quando não seja perdendo alguma peça.
Se esquecido em algum recanto, é provável se transforme em ninho de insetos que lhe dilapidarão a estrutura.
Se usado, à feição de martelo, fora da função a que se destina, talvez se despedace.
Entretanto, guardado em lugar próprio e manejado na posição certa, como a te escutar o coração e o cérebro, ei-lo que te responde com a sublimidade da música.
Assim, igualmente na vida, é o companheiro de quem esperas apoio e colaboração.
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Chame-se familiar ou companheiro, chefe ou subordinado, colega ou amigo, se lhe buscas o auxílio, a golpes de azedume e brutalidade, é possível te escape da área de ação, magoando-se ou perdendo o estímulo ao trabalho.
Se largado ao menosprezo, é provável se entregue a influências claramente infelizes, capazes de lhe envenenarem a alma.
Se empregado por veículo de intriga ou maledicência, fora das funções edificantes a que se dirige, talvez termine desajustado por longo tempo.
Mas, se conservado com respeito, no culto da amizade, e se mobilizado na posição certa, como a te receber as melhores vibrações do coração e do cérebro, ei-lo que te corresponde com a excelência e a oportunidade da colaboração segura, em bases de amor que é, em tudo e em todos, o supremo tesouro da vida.
***
Pensemos nisso e concluiremos que é impossível encontrar cooperadores eficientes e dignos, sem indulgência e compreensão.
Emmanuel
Afirmas que o mundo é mar
De abismos, trevas e escolhos;
Conserva, por isso mesmo,
A caridade nos olhos.
Suplicas esquecimento
Da mágoa em que tens vivido:
Guarda cautela, aplicando
A caridade no ouvido.
Desejas larga distância
Da falta maldosa e oca...
Cultua, quanto puderes,
A caridade na boca.
Pretendes largar, de todo,
Tristezas e laços vãos,
Cultiva, além do dever,
A caridade nas mãos.
Queres que os outros te vejam,
Coração nobre quanto és,
Atende, em questões de rumo.
À caridade os pés.
Sonhas banir da família
Rixa, contenda, pesar...
Inicia, praticando
A caridade no lar.
Ensinas beneficência,
Ante a penúria indefesa,
Mas não olvides pregar
A caridade na mesa.
Exiges a estima alheia
Que os empeços atenua,
Emprega, constantemente,
A caridade na rua.
Se indagássemos do Cristo
Como achar felicidade,
Jesus, decerto, diria:
— Caridade, caridade...
Casimiro Cunha
Diante daqueles a quem socorres, não admitas que a caridade seja prerrogativa unicamente de tua parte.
***
Enumera os bens que recolhes daqueles a quem amparas.
Habitualmente doamos aos companheiros necessitados algo do que nos sobra, deles recebendo muito do que nos falta.
***
É preciso não esquecer que da pessoa a quem assistimos obtemos benefícios substanciais, como sejam:
a verificação de nossas próprias vantagens;
o conhecimento das responsabilidades que nos competem, à frente dos outros;
o aviso salutar, com relação aos deveres que nos cabem, na preservação dos bens da vida;
a paciência com os nossos obstáculos e males menores;
o ensinamento da provação com que somos defrontados;
a aquisição de experiência;
as vibrações de simpatia;
o auxílio que recebemos para sustentar mais amplo auxílio aos outros;
o consolo nos sofrimentos que, porventura, nos fustiguem;
o crédito moral que se registra, a nosso favor, na memória dos espíritos encarnados e desencarnados que amparam a criatura em crise e empeços maiores que os nossos.
***
Serve a benefício dos semelhantes, tanto quanto possas e como possas, em bases da consciência tranquila, sempre que encontres o próximo baldo do equilíbrio, espoliado de esperança, sedento de paz ou cansado de angústia, nas trilhas do cotidiano, porque a caridade é sempre maior nos dividendos para aquele que dá. Por isso mesmo, temos no Evangelho do Senhor a advertência inesquecível: "mais vale dar que receber".
Emmanuel
Quando tiveres um quarto de hora à disposição, reflete nos benefícios que podes espalhar.
***
Recorda o diálogo afetivo com que refaças o bom-ânimo de algum familiar, dentro da própria casa; das palavras de paz e amor que o amigo enfermo espera de tua presença; de auxiliar em alguma tarefa que te aguarde o esforço para a limpeza ou o reconforto do próprio lar; da conversação edificante com uma criança desprotegida que te conduzirá para a frente as sugestões de boa vontade; de estender algum adubo à essa ou aquela planta que se te faz útil; e do encontro amistoso, em que a tua opinião generosa consiga favorecer a solução do problema de alguém.
***
Quinze minutos sem compromisso são quinze opções na construção do bem.
***
Não nos esqueçamos de que a floresta se levantou de sementes quase invisíveis, de que o rio se forma das fontes pequeninas e de que a luz do Céu, em nós mesmos, começa de pequeninos raios de amor a se nos irradiarem do coração.
Meimei
Não olvides que a caridade, é o coração no teu gesto.
***
Espalharás o ouro a mancheias, entretanto, se não sabes emoldurar de carinho a tua manifestação de bondade, as moedas de tua bolsa serão, muitas vezes, escárnio e humilhação, sobre a dor dos infortunados.
***
Ensinarás a verdade, com segurança, contudo, se a tua palavra não estiver temperada com a brandura da paciência, quase sempre, o teu verbo, apesar de nobre e culto, não passará de azorrague no semblante ferido de teus irmãos.
***
Recorda que a Providência Infinita nos estende o socorro do Céu de mil modos, em cada instante do dia, e descerrando tua alma à Grande Compreensão, não admitas que a sombra te avilte o culto da gentileza.
***
Muitos dão, mas raros sabem dar.
O pão, misturado de reprimendas, amarga mais que o fel e a lição, que se ajusta a críticas e reproches, pode ser comparada à tela preciosa que a ironia apedreja.
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A beneficência não se levanta por bandeira de superfície.
***
Vale mais a tua frase, vasada em solidariedade e entendimento, para o companheiro que jaz sob o gelo de desanimo, que todos os tesouros amoedados da Terra.
***
Vale mais teu braço amigo ao irmão caído no precipício do sofrimento, que a mais ampla biblioteca do mundo em cintilações verbalistas na tua boca.
***
Lembra-te de que só o amor pode curar as chagas da penúria e da ignorância e aprende a doá-lo aos que te rodeiam, nas maneiras em que te exprimes, porque a caridade não é uma voz que fala, mas um poder que irradia.
***
Abraça a fé que te enobrece a existência e segue o valioso roteiro que as sua revelações te traçam à luta, mas não te esqueças de içar o coração, na marcha cotidiana, para que a tua vida seja, realmente, um poema de luz e fraternidade, consoante a lição do poema de luz e fraternidade, consoante a lição do Mestre Divino que, ainda mesmo na cruz, foi o amor generoso e triunfante, atravessando o vale escuro da morte, para convertê-la em eterna ressurreição.
Emmanuel
Dizem "mulher da alegria",
Quando ela passa na rua;
A pobre mãe continua,
Os olhos fitos no chão!...
Quanto fel, quanta agonia
Nessa mulher que condenas!...
Ninguém lê conhece as penas
Cravadas no coração.
Tristeza no desconforto,
Sem palavra que a revele,
Trapos dourados na pele,
Traz a angústia por dever.
Viúva de um vivo morto,
Ei-la que segue sozinha,
Tem ao longe, a pobrezinha,
Um filho quase a morrer.
Já bateu a tanta porta,
Já pediu a tanta gente!...
Dói-lhe a ferida pungente
De ter sido mãe sem lar;
Abatida, semimorta,
Apenas vê no caminho
A febre e a dor do filhinho
Que a morte lhe quer roubar.
Tu que cresceste na estrada,
Desde o berço de ouro e rendas,
Entre mimos e oferendas
De paz, segurança e luz,
Fita essa mãe desolada,
Na penúria que a consome...
Talvez que ela tenha fome
Ao peso da própria cruz.
Não lhe zombes da amargura,
Também foi criança, um dia,
Brincava, estudava e ria,
Rosa ao fulgor da manhã,
Também foi bela e foi pura,
Hoje, nas magoas que trilha,
Podia ser nossa filha
Assim como é nossa irmã.
Mãe na dor!...Bendita seja!...
Escrava de toda hora,
Honra as lágrimas que chora,
Nas dores por onde vai!...
Sem esposo que a proteja,
Sem arrimo, sem tutela,
Em Deus que sofre com ela
Encontra a Bênção de Pai.
Irene de Sousa Pinto
Em muitas situações, o cárcere de limitação em que nos debatemos não é senão aquele da ignorância, de que nos cabe sair pelas atividades do estudo ou pelas aulas compulsórias da experiência. E note-se que educação é impraticável sem disciplina.
***
Noutros casos, achamo-nos magneticamente acorrentados a celas de prova, cumprindo austeras sentenças, lavradas ou solicitadas por nós mesmos, antes da reencarnação, perante as incriminações do foro íntimo, das quais tão só a paciência sem lindes nos pode liberar.
***
Habitualmente, na Terra, porém, somos simultaneamente o aluno matriculado no instituto da evolução e o devedor em compromissos no tribunal. Lutamos pela aquisição de conhecimento, carregando, m contrapeso, o fardo das dívidas que nos compete ressarcir.
***
Tolera, com serenidade o carnicão dos males que, porventura, te assolem a vida. É por ele que esgotas os resíduos de sombra em que o passado te embaraçou e é ainda através dele que as Leis Divinas te observam o grau de aproveitamento na escola em que te situas. Muitas vezes, semelhante setor de lições do estágio terrestre é a casa superlotada de sofrimento, a moléstia irreversível, o ostracismo social, a condição de penúria ou o processo obsessivo em que se te acrisolam os pensamentos, e, noutros lances da existência, é o parente difícil que destoa da família correta, o desastre que suprime a alegria do lar ridente e prospero, os conflitos do sentimento entranhados na alma ou o adeus de um ente amado que a provação distância.
***
Se trazes, em meio do aprendizado que o mundo nos oferece, uma conjuntura que o mundo nos oferece, uma conjuntura assim, qual ponto nevrálgico nas ramificações do destino, ama, suporta, desculpa, serve e auxilia constantemente.
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Problemas que resolvemos por nós representam quotas de esforço pacifico, pelas quais adquirimos os benefícios do educandário em que nos aprimoramos para o futuro; entretanto, os problemas que nos pesam nos ombros, todos os dias, e que só o tempo consegue solucionar, constituem o preço de nossa libertação.
Emmanuel
Sem a caridade do trabalho para as suas mãos, o seu descanso pode transformar-se em preguiça.
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Sem a caridade da tolerância, o seu trabalho seguirá repleto de entraves.
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Sem a caridade da simpatia para com os necessitados de qualquer procedência, as suas palavras de corrigenda serão nulas.
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Sem a caridade da gentileza, a sua vida social e doméstica será sempre um purgatório de incompreensões.
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Sem a caridade da desculpa fraterna, seus problemas seguirão aumentados.
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Sem a caridade da lição repetida, o seu esforço não auxiliará a ninguém.
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Sem a caridade da cooperação, a sua tarefa pode descer ao isolamento enfermiço.
***
Sem a caridade do estímulo ao companheiro que luta, sofre e chora, no trato com as próprias imperfeições, o orgulho se lhe fará petrificado na própria alma.
***
Sem a caridade do auxílio incessante aos pequeninos, a vaidade viverá fortalecida em nosso espírito invigilante.
***
Sem a caridade do entendimento amigo, a sua franqueza será crueldade.
***
Sem a caridade do concurso desinteressado e fraterno, as suas dificuldades crescerão indefinidamente.
***
Sem caridade em nosso caminho, tudo se converterá em inquietude, sombra e sofrimento. Por isso mesmo, adverte-nos o Evangelho — "fora da caridade ou fora do amo não existe realmente salvação".
André Luiz
Quanto à harmonia do corpo
Para a saúde completa,
A dieta na dieta.
Recorda, primeiramente,
Na tarefa em que te pões,
O tratamento que adotas
E atende-lhes as instruções.
Usa os remédios de praxe
Mas, lado a lado, convém
A prece, a paz e o trabalho
Nas diretrizes do bem,
Tanto quanto for possível,
Colocando-te ao dispor,
Na aceitação construtiva
Estende as bênçãos do amor.
Come pouco e fala menos;
Em matéria de prazer,
A sobriedade é uma escola
Que nos ensina a viver.
Larga as demandas da posse,
Desapega-te e não temas,
Simplicidade na vida
Resolve muitos problemas.
Onde estejas, oferece
Um sorriso de alma boa,
Seja onde for, auxilia,
Entende, ampara, perdoa.
Quanto ao mais, respeita e serve
A santos, crentes e ateus,
Lembrando, dentro da vida,
Que a vida pertence a Deus.
Casimiro Cunha
O dinheiro não é luz, mas sustenta a lâmpada.
***
Não é a paz, no entanto, é um companheiro para que se possa obtê-la.
***
Não é o calor, contudo, adquire agasalho.
***
Não é o poder da fé, mas alimenta a esperança.
***
Não é amor, entretanto, é capaz de erguer-se por valioso ingrediente na proteção afetiva.
***
Não é tijolo de construção, todavia, assegura as atividades que garantem o progresso.
***
Não é cultura, mas, apoia o livro.
***
Não é visão, contudo, ampara o encontro de instrumentos que ampliam a capacidade dos olhos.
***
Não é base da cura, no entanto, favorece a aquisição do remédio.
***
Em suma, o dinheiro associado à consciência tranquila, alavanca do trabalho e fonte da beneficência, apoio da educação e alicerce da alegria, é uma bênção do Céu que de modo imediato, nem sempre faz felicidade, mas sempre faz falta.
Bezerra de Menezes
Recorda que o fracasso, o obstáculo e a dor constituem forças milagrosas da vida que devemos utilizar na superação das próprias fraquezas.
A semente vale-se da cova de lama para germinar e produzir.
***
A madeira bruta submete-se ao martelo, à enxó e à plaina da carpintaria, a fim de converter-se em utilidade.
***
A rosa aproveita a haste espinhosa para florir e perfumar a paisagem.
***
A pedra sofre a intromissão do buril, concorrendo às galerias de beleza no campo de arte.
***
A própria Natureza vale-se da nuvem, do temporal ou da tempestade para tornar-se fecunda.
***
O mundo é a grande escola, onde o triunfo real e soberano pertence ao espírito que soube descobrir a grandeza do próprio sacrifício, aceitando-o com amor, humildade e alegria.
***
Há, em toda parte, muita provação que somente produz desalento e lágrimas, enfermidades e morte; entretanto, nas almas duramente tituladas na academia da fé, o sofrimento gera dignidade, inspiração luminosa, respeito e heroísmo.
***
Cada qual pode converter a própria cruz em asas luminosas para a ascensão divina.
***
Jesus transformou a aflição do Calvário em luz imperecível de ressurreição e vitória.
Que faremos, pois, de nossos pesares pequeninos?
Aprendemos a ultrapassar os insignificantes desgostos da luta humana e venceremos facilmente as altas fronteiras de sombra que ainda nos separam da vida imperecível.
Emmanuel
Felicidade é viver
De serviço posto à mão,
Entre horários na cabeça
E Cristo no coração.
Reclamas que o tempo é curto,
Dormindo e sonhando embora,
Mas, o tempo cria tempo
Se fazes o bem agora.
Afirmas que, em toda parte,
É a provação que te escora;
No entanto, a dor é lição
Se fazes o bem agora.
Alegas que a vida é sombra
De angústia que não melhora.
A vida, porém, é luz
Se fazes o bem agora.
Trazes no peito oprimido
Coração que clama e chora,
Mas luta é acesso ao conforto
Se fazes o bem agora.
Não te dês ao pessimismo,
Na mágoa que te devora.
Sofrimento aperfeiçoa
Se fazes o bem agora.
Olvida pedras e ofensas
Na senda que te aprimora.
Perdão é campo à grandeza
Se fazes o bem agora.
Trabalha constantemente,
Servindo e amando, hora a hora.
Ação é Força Divina.
Se fazes o bem agora.
Sê bondade e entendimento,
Onde estejas, mundo afora.
Todo passo leva a Deus
Se fazes o bem agora.
"Faze o bem quanto puderes".
— Pede a vida andando à frente.
Diz a morte, à retaguarda:
— "Olha o tempo, minha gente!".
Casimiro Cunha
Aprende a pensar em termos de eternidade para que o internato no corpo físico não te empane a visão da vida.
***
Uma existência na Terra constitui precioso, mas, breve aprendizado, em que sob a ficha de certo reduto familiar, conquistas o privilégio de avançar para diante nas sendas evolutivas ou a permissão de recapitular as próprias experiências.
***
Não te esqueças, porém de que a morte se incumbirá de interromper-te o usufruto das regalias humanas, na aferição dos valores ou dos prejuízos que hajas angariado em favor ou desfavor de ti próprio, a fim de que não percas a necessária renovação para o grande amanhã.
***
Assevera a ciência terrena que herdaste, em função da genética, os caracteres dos próprios antepassados, próximos ou longínquos, entretanto, no fundo, não recolhes dos outros a riqueza das qualidades nobres ou o fardo dos sofrimentos, mas sim de ti mesmo, das próprias obras semeadas, vividas e revividas, de vez que somos, quase sempre, na ribalta do mundo, os mesmo intérpretes do drama redentor, guardando conosco as bênçãos ou as dores que amealhamos dentro da luta, embora ostentando máscaras diferentes.
***
Hoje, pagamos dívidas de ontem, mas é possível venhamos a solver amanhã compromissos pesados que deixamos em distante pretérito, exigindo-nos atenção.
***
Recebe a aflição e a dificuldade, aliviando as aflições e as dificuldades alheias; pede auxílio, auxiliando; roga o socorro do Céu, socorrendo aos que te rodeiam na Terra, porque entre os panos do berço e os panos do túmulo, desfrutas simplesmente um dia curto no tempo ilimitado, dentro da vida imperecível, baseada na justiça perfeita e no amor sem fim.
Emmanuel
É sempre fácil
examinar as consciências alheias,
identificar os erros do próximo,
opinar em questões que não nos dizem respeito,
indicar as fraquezas dos semelhantes,
educar os filhos dos vizinhos,
reprovar as deficiências dos companheiros,
corrigir os defeitos dos outros,
aconselhar o caminho reto a quem passa,
receitar paciência a quem sofre
e retificar as más qualidades de quem segue conosco...
***
Mas enquanto nos distraímos,
em tais incursões a distância de nós mesmos,
não passamos de aprendizes que fogem, levianos, à verdade e à lição.
***
Enquanto nos ausentamos
do estudo de nossas próprias necessidades,
olvidando a aplicação dos princípios superiores que abraçamos na fé viva,
somos simplesmente
cegos do mundo interior
relegados à treva...
***
Despertemos, a nós mesmos,
acordemos nossas energias mais profundas
para que o ensinamento do Cristo
não seja para nós uma benção que passa, sem proveito à nossa vida,
porque o infortúnio maior de todos
para a nossa alma eterna
é aquele que nos infelicita
quando a graça do alto
passa por nós em vão!...
André Luiz
Geralmente, a primeira criatura que sofre a violentação de nossa intemperança mental somos nós mesmos.
***
Antes de atacarmos o próximo com as irradiações perturbadoras ou destrutivas da cólera, desintegramos as próprias energias, convertendo o cérebro num caos e a palavra num estilete invisível, na ação desvairada de nossa inconsequência.
***
Tenhamos serenidade diante de nós, consagrando a auto-disciplina por diretriz da própria alma, em qualquer circunstância.
***
Guardemos calma, diante das forças conturbadas que eventualmente nos cerquem e deixemos o verbo ou a decisão para a hora do equilíbrio, certos de que a desarmonia, em nós ou fora de nós, é sempre nuvem pesada de mortíferos dardos de treva, desanimo, aflição e morte.
***
Tem paciência contigo e usarás a verdadeira tolerância com os outros.
Cerra as portas da consciência aos impulsos da animalidade primitivista, não dês guarida ao raio da violência que te induz a desatinos fatais e aprenderás que a paciência vale mais que o repouso, simbolizando no firmamento de nosso espírito o arco-íris da aliança, entre nossa alma e a Harmonia Celeste, elevando-nos a insignificância de criaturas incipientes e frágeis do Universo para a luz soberana da Grandeza Divina.
Emmanuel
Lembra-te da esperança para que a tua caridade não se faça incompleta.
***
Darás ao faminto, não somente a côdea de pão que lhe mitigue a fome, mas também o caminho da palavra fraterna, com que se lhe restaurem as energias.
***
Não apenas entregarás ao companheiro, abandonado à intempérie, a peça que te sobra ao vestiário opulento, mas agasalhá-lo-ás em teu sorriso espontâneo a fim de que se reerga e prossiga adiante, revigorado e tranquilo.
***
Não olvides a paciência divina com que somos tolerados a cada hora.
***
Qual acontece ao campo da natureza, em que o Sol mil vezes injuriado pela treva, mil vezes responde com a bênção da luz, dentro de nossa vida, assinalamos a caridade infinita de Deus, refazendo-nos a oportunidade de servir e aprender, resgatar e sublimar todos os dias.
***
Não te faças palmatória dos próprios irmãos, aos quais deves a compreensão e a bondade de que recebes as mais elevadas quotas do Céu, na forma de auxílio e misericórdia, em todos os instantes da experiência.
***
Não profiras maldição nem espalhes o tóxico da critica, no obscuro caminho em que jornadeiam amigos menos ditosos, ainda incapazes de libertarem a si mesmos das algemas da ignorância.
***
Recorda que Jesus nos chamou à senda terrestre para auxiliar e salvar, onde muitos já desertaram da confiança no eterno bem.
***
Seja onde for e com quem for, atende à esperança para que o mundo conquiste a vitória a que se destina.
***
Aliviar com azedume é alargar a ferida de quem padece e dar com reprimendas é envolver o socorro em repulsivo vinagre de desânimo ou desespero.
***
À maneira de raio solar que desce à furna cada manhã, restaurando o império da luz, sem reclamação e se mágoa, sê igualmente para os que te rodeiam a permanente mensagem do amor que tudo compreende e tudo perdoa, amparando e auxiliando sem descansar, porque somente pela força do amor alcançaremos a luz imperecível da vida.
Emmanuel
Ouviste dizer que essa ou aquela moeda de tuas possibilidades terá procedido das cogitações de um avarento; no entanto, ainda hoje conseguirás com ela atender a compromisso justo, ou, então, empregá-la a fim de recuperar a paz de algum companheiro que a necessidade vergasta. Noutras ocasiões, há quem afirme que os teus recursos monetários são remanescentes de esferas outras, nas quais o prazer enfermiço se demora gerando desvarios do pensamento, mas podes, de imediato, orientá-los no rumo do proveito geral, atenuando aflições ou secando lágrimas.
***
Nunca te pronuncies, porém, contra o dinheiro. Aprendamos a respeitá-lo, usando-lhe os potenciais na lavoura do bem.
***
Reflete e observarás que ele tem sido o instrumento silencioso de tua própria segurança.
***
Efetivamente, não te fez o lar, porque o lar se ergue a preço de amor. Entretanto, ajudou a levantar as paredes e, a compor o teto da construção em que entreteceste o ninho domestico. Não criou o remédio que te garante a saúde, mas, comumente, é o estimulo de quantos operam no levantamento dos agentes que o formam, a benefício do teu equilíbrio orgânico. Não suscita sonhos de arte, todavia, ampara o gênio na execução da obra-prima. Não confere recursos técnicos ao campo da inteligência, mas o incentivo em que a indústria se desenvolve e consolida.
***
Dinheiro pode e deve ser a mola do progresso e a seiva do trabalho, a alavanca de reconforto e o aval da beneficência. Sempre que possas, troca a moeda que dispões pela felicidade dos semelhantes e, a breve tempo, reconhecerás a tua própria felicidade erguida em ti mesmo, a derramar-se, limpa e bela, de tuas próprias mãos.
Emmanuel
Não passes distraído, diante da dor.
Nesses semblantes, que o sofrimento descoloriu e nessas vozes fatigadas, em que a tortura plasmou a escala de todos os gemidos, Jesus, o nosso Mestre crucificado, continua incompreendido e desfalecente.
***
Nessas longas multidões de aflitos e infortunados, encontrarás a nossa própria família.
***
Quantos deles albergaram esperanças, iguais àquelas que nos alimentam os sonhos, sem qualquer oportunidade de realização? Quantos tentaram atingir a presença da luz, incapazes de vencer a opressão das trevas?!...
***
Essas crianças, caídas no terço da angústia, esses enrugados velhinhos sem ninguém, essas criaturas que a ignorância e a provação mergulharam no poço da enfermidade ou no espinheiro do crime, são nossos irmãos, à frente do Eterno Pai!...
***
Estende-lhes tua alma, na dádiva que possas oferecer, guardando a certeza de que, amanhã, provavelmente, estarás também suspirando pelo balsamo do socorro, na benção de um pão ou na luz de uma prece amiga!
***
Recorda que as mãos, hoje por ti libertadas dos grilhões da penúria, podem ser aquelas que amanhã, chegarão livres e luminosas, em teu auxílio!...
***
Ao pé de cada coração desventurado, Jesus nos espera, em silêncio.
***
Socorre, pois, meu irmão, e na doce melodia dobem, ainda mesmo que dificuldades e sombras te ameacem a luta, ouvirás, no imo do coração, a voz do Divino Mestre, a encorajar-te, paciente e amoroso: "Tem bom ânimo! Eu estou aqui".
Meimei
Se procuras a extinção
Das dores, por onde vais,
Mantém a disposição
De servir um tanto mais.
Sofres crises a granel,
Impedimentos gerais,
Para vencê-los, não fujas
De servir um tanto mais.
Das aflições em que cais,
Não desertes do dever
De servir um tanto mais.
Carregas lutas em casa,
Provações descomunais,
Por tua paz, não desistas
De servir um tanto mais,
Encontras pedras, injúrias,
Ofensas, erros brutais...
Não te afastes do programa
De servir um tanto mais.
Tua vida necessita
De mudanças radicais?
Não menosprezes o ensejo
De servir um tanto mais.
Angústias do coração
Em tempestades morais?
Inventa novos recursos
De servir um tanto mais,
Se quisermos atingir
As Luzes Celestiais,
Aprendamos com Jesus
Que servir nunca é demais.
Casimiro Cunha
Solicitas uma orientação para teus passos, guardando fadiga e abatimento.
***
Trazes contigo o cansaço e a desilusão, à maneira do viajor transviado na escuridão noturna, suspirando pelo retorno à benção luminosa da madrugada.
***
Entretanto, quem se refere à orientação, diz harmonia e ajustamento.
***
E somente Jesus é bastante sábio para guiar-nos com segurança.
Refugia-te, no santuário da prece e roga-Lhe inspiração.
***
Antes, põem, alija das sandálias o pó que trazes do caminho de nossos antigos enganos.
***
Perdoa a quem te feriu, recordando quantas vezes temos sido tolerados pela Misericórdia Divina.
***
Não retribuas mal por mal, compreendendo o imperativo do bem para que a paz nos esclareça.
***
Lembra-te de que o trabalho é o dissolvente de nossas mágoas, e auxilia sem distinção, na certeza de que, na alegria dos outros, encontrarás alívio e consolação aos próprios pesares.
Não invejes a prosperidade alheia, porque ninguém sae, na Terra onde se oculta a verdadeira felicidade, de vez que, em muitas ocasiões, o palácio esconde chagas de treva e a choupana desguarnecida permanece aureolada de luz.
***
Solve tuas dívidas com o sorriso de quem se liberta. Mais valem o suor e as lágrimas no dever que as vantagens transitórias na indiferença.
***
Rogas orientação para que a tranquilidade te favoreça.
***
Não olvides, no entanto, suplicar ao Senhor a força precisa para que te não desvencilhes da própria cruz... da cruz que te garante a necessária vitória espiritual para a vida que nunca morre.
***
Consagra-te ao serviço e à caridade, ao aperfeiçoamento de ti mesmo e à renúncia edificante.
***
Avança hoje na estrada pedregosa das obrigações retamente cumpridas e, amanhã, em te despedindo do corpo da Terra, teu coração, convertido em estrela de amor, será com Jesus um marco celeste orientando as almas perdidas, no vale das sombras, para que atinja contigo a felicidade do Eterno Bem.
Emmanuel
Senhor Jesus,
Sobre a Terra de agora, ansiosa e agitada,
Que a ciência domina,
Muitas ideias novas pela estrada
Sonegam-te, no mundo, a Presença Divina...
O homem superculto,
Nas invenções geniais e nos feitos de vulto,
Experimenta, experimenta...
Entretanto, Senhor, por mais se lhe permite
Revelações dos céus, sem pausa e sem limite,
Ei-lo na indagação
Em que não se contenta...
Projetando satélites no Espaço
E entesourando láureas da cultura
Nem por isso largou-se
Do tédio, do azedume, do cansaço
De alma triste e insegura...
Toda a Terra é um arsenal de maquinas potentes...
Sondas, computadores...
Investiga-se os mundos exteriores,
Conclama-se ao progresso
Todos os continentes...
Mas a guerra campeia,
O cérebro sem fé como que se incendeia
E a violência se espalha mundo afora...
É por isso, Jesus, que te pedimos:
Fica conosco, em nossos vales,
Enquanto tantos gênios
Pairam em altos cimos,
Brilhando sem saber onde os bens e onde os males!...
Conserva-nos a fé por luz acesa
E ajuda-nos a ver na terrestre grandeza
Com a benção de amor em que nos guardas.
As longas retaguardas
Dos irmãos despojados de esperança,
A fim de socorre-los em teu nome...
Atenua, Senhor, a mágoa dessas vidas
Que a tristeza consome
Na dor que não descansa.
Ergue de novo, os corações caídos
Em desesperação
A buscarem na cinza os ausentes queridos
Que a morte lhes furtou em processo violento,
Ajuda-nos a ver o sofrimento
Que o radar não percebe e o motor não consola...
Substitui, Jesus, pleno apoio da escola
A sombra do presídio que segrega
Os irmãos que a revolta inda inspira e carrega
Para os despenhadeiros da existência...
Fica conosco, Mestre, e faze-nos prover
De auxílio e reconforto,
O sentimento amargo e semimorto
Da multidão sem paz, a chorar e a sofrer...
Na fé que o teu amparo nos descerra
Deixa-nos atingir o coração da Terra!...
Faze que o Sol da Caridade
A irradiar-te as bênçãos de alegria,
Envolva, dia a dia,
O pão que nutre o Bem de Toda a Humanidade.
Não nos deixes a sós
E ensina-nos, Senhor,
A encontrar finalmente em cada um de nós
O caminho de luz do teu reino de amor!...
Maria Dolores.
[1] A reunião referida neste prefácio se realizou, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas, em 1956, e a pergunta a que se refere o Autor Espiritual foi articulada pelo nosso companheiro Sr. José Gonçalves Pereira, residente em São Paulo, fundador e supervisor da Casa Transitória de Fabiano, da FEESP, na Capital Paulista. — Nota do Médium.