CIBELE SAQUE ROMEU DELMAR
"LÍNEA: na essência de uma linha viva" por Cibele Saque, propõe uma viagem pela expressão do instante no interior de um gesto humano participado por movimento suspenso. Criando uma atmosfera onde o corpo envolto em dinâmica evoca a sustentação de um ambiente que liberta das limitações da gravidade e do espaço temporal. Através de uma linha viva que ecoa e ressoa, Cibele Saque explora o contínuo do movimento como uma extensão da existência, um traço sem princípio nem fim que capta o instante e o devir. Celebra assim a 'linha' como uma égide de movimento, conexão, continuidade e ressonância vital. A essência do movimento no interior de uma ressonância viva, destaca como a linha se torna um elo de vida. Uma experiência visualmente imersiva que convida a refletir sobre a interconexão entre o gesto humano, a linha e o universo ao seu redor. Um percurso visual e sensorial que convida a uma experiência intimista e introspetiva, onde cada obra suspende o tempo e revela o corpo humano num ambiente de quietude dinâmica, simultaneamente propostos. Sugere assim a imersão num olhar que, ao mesmo tempo, envolve e expande. Um espaço onde a linha se torna o fio condutor de uma narrativa silenciosa e contínua, desenhando-se e renovando-se numa ressonância vital.
Numa abordagem que igualmente procura integrar de modo intrínseco dimensões vastas da ecologia, "LÍNEA" é um convite a observar o mundo numa perspetiva ampla e conectada, reconhecendo a 'linha dinâmica' como um elemento essencial que une o humano e o natural, o gesto e o espaço. Neste ambiente, o movimento, num encontro entre intensidade e subtil, torna-se um espelho da nossa própria condição – um eco de vida, uma reflexão sobre o que está imerso para além do visível e imediato. "LÍNEA" procura, pois, revelar a linha como símbolo de continuidade e interligação, como um elo do essencial, da intensidade que suspende e do silêncio que conduz o observador a uma dimensão de presença e contemplação.
"LIGNUM: na essência de uma forma viva" por Romeu Delmar, apresenta um conjunto de esculturas em madeira onde o escultor Romeu Delmar explora o talhe direto como meio para revelar a beleza intrínseca da matéria. Cada peça resulta de um diálogo atento e profundo com a madeira, valorizando os seus elementos naturais, texturas e linhas de desenvolvimento que se desdobram em expressões orgânicas. Este processo reflete uma abordagem de humildade e admiração pela natureza, em que o escultor se deixa inspirar pela essência da madeira, em vez de lhe impor previamente uma forma externa. Através desta metodologia, o artista compõe o estabelecer de um equilíbrio entre o gesto instintivo e a precisão geométrica, criando uma ligação entre o movimento vivo da madeira e a estrutura racional das formas esculpidas na procura de enlevar a essência pulsante de uma forma viva. Este encontro entre forma orgânica e pensamento racional celebra a madeira como um elemento vivo e único, onde o tempo e o gesto artístico trabalham juntos para revelar uma natureza profunda da matéria. Cada escultura é, assim, uma homenagem a um processo de criação lenta e contínua que respeita a integridade do material e reflete um diálogo entre o humano e a matéria numa perspetiva estética. Em evidência uma dicotomia experiencial e a procura de sustentação de um equilíbrio da forma, da vida e da beleza intrínseca por via do processo escultórico do autor.
“LIGNUM” convida assim o visitante a observar a madeira como uma presença viva e a apreciar a união entre o natural e o artístico, onde o trabalho do escultor evidencia a beleza de cada alinhamento, textura, tonalidade e expressão. É um convite à introspeção e à ligação com o mundo natural, onde a madeira respira como memória da sua origem e presença, numa celebração silenciosa da vida da forma por meio de um processo profundo de génese escultórica.
“LÍNEA - LIGNUM: ao encontro da linha, da madeira e do gesto profundo”
Cibele Saque – Romeu Delmar
A exposição "LÍNEA - LIGNUM” representa um diálogo íntimo e profundo entre dois artistas investigadores, mãe e filho, onde o desenho e a escultura se encontram no espaço expositivo ao longo exploração do movimento, do gesto e da essência da matéria.
Em "LÍNEA", Cibele Saque desenha a linha como um traço vivo e contínuo, captando a leveza e a dinâmica da suspensão do corpo num ambiente sem gravidade, no interior de um movimento que transcende o visível e se torna reflexão sobre o próprio ser e o ambiente. A linha concebida como uma expressão do tempo e do devir, numa narrativa que se desenha como eco de uma existência em transformação. Como "linealogista" - numa visão de quem vê e entende o mundo através da linha – assiste a uma trajetória viva e expressiva que capta o movimento, a passagem do tempo e a essência do que é efémero e transformador na experiência humana. A linha como um fio condutor que atravessa e conecta múltiplas dimensões, um gesto contínuo que envolve tanto a perceção quanto a expressão. Tornando-se o meio através do qual se representa o mundo e se o investiga, como se cada traço fosse uma pergunta em aberto, numa procura de explorar a existência humana no espaço e no tempo. Ao desenhar, a artista liga-se a este movimento constante, abordando-o de forma a captar a dinâmica do gesto e da transformação, como um espelho da própria vida.
O trabalho do seu filho escultor Romeu Delmar em “LIGNUM”, celebra a madeira como matéria viva, trabalhada através do talhe direto. Este método procura revelar as formas orgânicas da madeira respeitando a sua essência e evidenciando a beleza que existe no interior da matéria natural. Trata-se da expressão de um encontro, em que o escultor dialoga com a madeira na procura de um equilíbrio entre o gesto instintivo e a racionalidade geométrica. Construindo a forma por via de um processo de talhe em que o tempo e o gesto criam uma ligação profunda e respeitosa, refletindo o que ele descreve como um estar "eu-cológico". A obra corresponde também a uma atitude autorreflexiva e a um estudo sobre o ser, a existência e a realidade na sua essência mais fundamental. Sobre o ato de fazer e pensar, sobre a relação do escultor com a madeira, num processo contínuo onde o pensamento encontra a experiência tátil e sensorial. O gesto do talhe, repetido e atento, assume uma qualidade performativa, onde cada movimento deixa uma marca visível que testemunha o percurso artístico de diálogo e respeito pelo material.
Juntos, em "LÍNEA – LIGNUM”, estabelecem uma ponte entre gerações e práticas artísticas distintas, num diálogo que é ao mesmo tempo visual e ontológico. Desenho e Escultura encontram-se num mesmo espaço e numa visão comum de enlevo a uma reflexão profunda, respeito pela natureza e pela matéria, onde mãe e filho exploram a essência do movimento e gesto que gera a forma com uma particular presença que demarca diálogo, cada um à sua maneira. O visitante é convidado a testemunhar esta harmonia, onde o gesto artístico se torna um meio de união e equilíbrio, refletindo a própria essência da vida e da criação artística em diálogo e sustentação dinâmica vital.
A. Espada