ENTREVISTAS
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Entrevista com o Senhor Nonô- morador do bairro Paraíso em Belo Horizonte - MG - Brasil
Revitalizou nascentes na sua comunidade retirando mais de cem caminhões de lixo no fundo do quintal de sua casa.
Jornal Oecoambiental – O senhor é um morador histórico aqui do bairro Paraíso em Belo Horizonte, retirou qual quantidade de lixo do quintal da sua casa?
Sr. Nonô - Eu moro aqui no bairro Paraíso desde 1947. No Córrego dos Joãos, eu retirei, até agora, mais de cem caminhões de lixo e entulhos.
Jornal Oecoambiental: O senhor participa do movimento MOC-ECO – Movimento Ecológico da Serra do Curral ?
Sr. Nonô – Sim, este Movimento MOC-ECO é muito importante. Mas as pessoas precisam interagir mais. Hoje eu trouxe um pouco de água para cada árvore que plantamos.
Jornal Oecoambiental: Estas árvores, aqui desta Praça, foram plantadas por moradores?
Sr. Nonô: Algumas árvores foram plantadas por moradores, outras pela prefeitura. As árvores que nós não cuidamos, morreram. As outras que cuidamos estão vivas.
Jornal Oecoambiental: É muito importante a população perceber as árvores...
Sr. Nonô: É de suma importância. Nós devemos preservar as águas, plantar árvores, fazer algo em prol da sociedade como um todo. Não podemos é ficar muito preocupados com políticos. Eles só falam, falam, mas não fazem. Então nós, gente, população, fazemos.
Jornal Oecoambiental: A força está com o povo?
Sr. Nonô: A força está com o povo. O movimento MOC-ECO é aberto. Aqui na Praça estamos no último domingo de cada mês. Nos reunimos na última quinta feira do mês. Rubens Alves diz o seguinte: “vou plantar árvores, mesmo que eu não colha frutos, e nem fique debaixo do sombreado dela. Onde estiver, estarei contente quando alguém ficar no sombreado delas.”
Flávia Resende é Mediadora de Conflitos, tendo iniciado este trabalho como mediadora em comunidades vítimas de violência, pela Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS). É pesquisadora e facilitadora de diálogo em Justiça Restaurativa no Projeto Ciranda, na Faculdade de Direito da UFMG (2016). É também Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito de Família da PUC/MINAS (2018) e Tutora no Projeto Nós, do Ministério Público de Minas Gerais, que ensina Justiça Restaurativa nas escolas públicas do estado de Minas Gerais. Realiza formação de mediadores em órgãos como a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, Ministério Público, Secretarias de Direitos Humanos e de Educação, entre outros órgãos desde 2011. Graduada em Direito (1999) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMINAS); em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo (1999) e Filosofia (2008) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Sua formação inclui, ainda, um Mestrado em Filosofia, área em que pesquisou a ideia de justiça como diálogo. Mediadora pelo Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil - IMAB (2009). Possui formação na Mediação Circular Narrativa e os sistemas familiares pelo Programa Internacional Sara Cobb e Carlos Sluzki, PISC, Argentina (2011). É Mediadora Judicial pelo TJMG (2016) e vice-presidente da Comissão de Mediação e Conciliação da OAB/MG.
Jornal Oecoambiental: Você considera que as relações humanas e a forma como nos organizamos em sociedade fazem parte do meio ambiente?
Flávia: Sim, claro. Não somos os dominadores da natureza, embora muitos de nós, seres humanos, nos portemos como. Não estamos acima, somos parte da natureza. Conversava isso com um amigo hoje. Vivemos uma pandemia de SARS-CoV-2, a Covid – 19, e corremos o risco de entrarmos em muitas outras nesse século que se inicia se não mudarmos a forma como nós nos relacionamos com o meio ambiente, especialmente com os animais.
Temos presenciado no Brasil o desmatamento sem controle pelos órgãos de fiscalização, para dar lugar a pastos e a plantações para alimentar os seres humanos e a tantos animais confinados. A forma como isso é feito destrói a biodiversidade e rompe as distâncias saudáveis entre as espécies. Ao que parece, a biodiversidade é o controle de pragas mais efetivo que existe. Coisas assim já advertiu a bióloga Rachel Carson nos anos 60 em seu livro A primavera silenciosa, que eu tive a oportunidade de tomar conhecimento há pouco. Na época, parecia um exagero a preocupação dessa estudiosa com a natureza. E ainda hoje, muitos acham. No entanto, colhemos as consequências dos nossos descasos.
Para mim, tudo está conectado. Como nos importaremos com o meio ambiente, se nós seres humanos negamos a natureza não somente fora, mas principalmente e especialmente, em nossa condição humana? Temos uma educação que vê com maus olhos nossas necessidades, desejos, como se eles (e não a nossa falta de conhecimento sobre o sentido dos mesmos) causassem a crueldade no mundo.
Seres humanos são vistos pelos sistemas de crenças e de pensamento hegemônicos, como possuidores de uma racionalidade superior a todas as outras dimensões humanas (como se a razão não fizesse parte de um todo). Nossa educação não tem espaço para a compreensão das emoções e para os inúmeros alertas que elas nos dão. Somos ensinados a negligenciar e não a compreender o que sentimos. Nosso corpo é tratado como se ele não tivesse nenhuma inteligência. Escutar o corpo, os seus cansaços, limites, previne doenças. Ser capaz de ouvir e acolher as nossas diversas vozes pode nos fazer mais felizes e criativos. A angústia dói, mas se formos corajosos de ir atrás do seu significado, sentido, ela pode nos dar inúmeras respostas. Às vezes penso se não é o caso de fazermos as pazes não só com o meio ambiente, mas inclusive e, principalmente, com a nossa condição humana.
Jornal Oecoambiental: Qual trabalho você realiza na sua área profissional?
Flávia: Sou mediadora de conflitos e facilitadora de diálogo em justiça restaurativa. Basicamente, ajudo as pessoas a conversarem para que elas escutem a si mesmas, e depois se escutem mutuamente, para construírem soluções criativas para as suas controvérsias.
Jornal Oecoambiental: O que é a Justiça Restaurativa? Quais são seus fundamentos? Ela pode ser aplicada na educação?
Flávia: Gosto da definição da estudiosa Petronella Boonem, que é coordenadora do Centro de Direitos Humanos e Educação Popularde Campo Limpo, CDHEP, importante pólo disseminador da Justiça Restaurativa (JR) em São Paulo. Ela diz que a JR é “um meio de gestão de situações problemáticas (podem ser crimes) em que um facilitador auxilia os envolvidos, junto com membros de suas famílias/comunidades por eles indicados, a fazerem um processo dialógico capaz de transformar uma relação marcada pela oposição e violência, em relação cooperativa, partindo das pessoas concretas, de suas dores, necessidades e do dano causado”.
A justiça restaurativa é, pois, um método de resolução de conflitos, não adversarial, que trabalha com pessoas sentadas em círculos, numa posição não hierárquica, ou seja, em igualdade, através do diálogo. No círculo, facilitadores e participantes têm a oportunidade de contar as suas histórias pessoais e perceber que o conflito é uma coisa natural da vida e que podemos lidar com ele com menos culpa e vergonha e muito mais responsabilidade. É uma oportunidade para ofensores assumirem seus erros, apoiados por pessoas, numa postura de não julgamento, ajudando na transformação de sua conduta. E do outro lado, as vítimas têm a chance de serem cuidadas emocionalmente e reparadas pelos danos que sofreram. Os atendimentos dependem da vontade das partes e é feito com um trabalhoso preparo.
A JRé inspirada em formas de resolução de conflitos de sociedades tradicionais, indígenas, negras. Isso porque nas suas filosofias, ou seja, no modo de muitas dessas sociedades enxergarem a realidade, nós seres humanosnão somos um ser à parte dos outros seres. Nós somos todos conectados. Daí a conduta de um afetar muitos. Na visão restaurativa, quando uma pessoa comete um dano, ela não só prejudica a vítima, mas seu entorno, a si mesma e às pessoas de sua comunidade, como seus pais, seus filhos, entre outros. Daí nos círculos restaurativos convidarmos pessoas de ambos os lados para que estas também possam expressar suas emoções com aquele fato, e amparar vítima e ofensor, no que for necessário. O objetivo é transformar aquele conflito numa oportunidade de reparação, cuidado e de aprendizado.
Essa visão, diferente da nossa, em que os conflitos não são suprimidos e sim compreendidos, fazem parte da filosofia Ubuntu, originada na África, da filosofia de índios Maoris na Nova Zelândia, dentre muitas outras. Eu penso que a filosofia ocidental, na sua origem, fala de algo muito parecido. Tanto a natureza, como o ser humano, na sua interioridade, para alguns pensadores, são vistos como conflituosos. Será que é necessário suprimir essa característica em nós mesmos e na vida? Ou podemos empreender esforços para lidarmos melhor com ela?
lEIA A ENREVISTA NA ÍNTEGRA EM NOSSO BLOG:
https://oecoambiental.blogspot.com/2020/11/a-contribuicao-da-justica-restaurativa.html
O Jornal Oecoambiental, que trabalha na comunicação socioambiental, diante a crise que o Brasil e o mundo enfrentam quanto à valorização da pessoa humana, do meio ambiente, realizou uma entrevista exclusiva com Ludmila Yarasu-Kai. Uma mulher de muita sensibilidade para com o ser humano. Psicóloga que faz jus a sua profissão de atuar nas Ciências Humanas trabalhando com o nascimento – mães e crianças que chegam ao mundo. Agradecemos a generosidade e atenção de Ludmila desejando a ela e a todos que atuam nesta área de partos naturais e cuidados de respeito à pessoa humana, muitas felicidades e nosso muito obrigado pela entrevista.
“Se a gente muda a forma como que cada um chega a este mundo, chegamos ao mundo sabendo que o mundo é bom. E se as pessoas que estão à volta desta criança proporcionam isso, preocupam-se com isso é porque elas se sentem merecedoras de respeito.” Ludmila Yarasu-Kai
Jornal Oecoambietal: Ludmila fale um pouco sobre sua história, seu trabalho.
Ludmila: Sou Ludmila Yarasu-Kai. Sou mãe da Helena de seis anos. A minha gestação foi um divisor de águas, tanto na minha vida pessoal, como na minha vida profissional. A minha gestação tem tudo a ver com minhas decisões profissionais. Houve este marco quando eu engravidei da Helena e durante a minha gestação, eu fazia parte de alguns grupos. Tinha vários trabalhos e algumas posturas profissionais já não estavam mais cabendo no meu jeito de ser. A minha gestação foi como que uma oportunidade de sair destas coisas que não faziam mais sentido para mim. Eu sempre gostei do que eu fiz, mas não da forma que eu estava fazendo. Com o público que eu estava fazendo. Eu estava trabalhando em empresa. Com executivos, com um pessoal de lideranças. Eu gosto dos conceitos, de trabalhar com pessoas, mas não da forma que eu estava trabalhando. E aí como eu sou psicóloga, formada em psicologia pela UFMG em 2003, concluí um estágio na área social de grupos, que abriu as portas para trabalhar com mediação de conflitos. Desde minha conclusão de curso trabalhei no campo social. "Mediação de Conflito"s. Depois me formei como Coach. Fiz uma formação em relação familiar. Uma ferramenta de apoio a psicoterapia. Tive outras formações de cursos livres. Dentro de minha área da psicologia da fenomenologia, na psicologia social, humanista. Uma linha que eu sempre segui. Depois da minha gravidez eu foquei todo meu trabalho com as mães e o trabalho com as mães e os bebês. Eu sempre gostei de dançar. Desde pequena sempre fiz todos os estilos de dança. Quando adulta sempre dancei muito dança de salão. E fiz uma formação com a professora Cris Menezes sobre danças circulares sagradas. O que me ajudou a chegar à "Dança Materna" depois da minha gravidez.
Depois que a Helena nasceu em 2014, quando ela estava com seis, sete meses, eu conheci a dança materna, que é um projeto para integrar as mães e os bebês. Um projeto criado por uma bailarina especialista em bebês de São Paulo Tatiana Tardioli. Nas redes sociais tem dança materna, no youtube. Eu sou uma das professoras hoje no Brasil que ajuda desenvolver este projeto. Ela começou com a sua primeira gestação. Percebeu a importância e o vínculo que dançar grávida proporcionava no vínculo mãe e bebê. E como era bom e ajudava no trabalho de parto. No puerpério dela começou a escrever este projeto para trabalhar com mulheres. E depois de alguns anos ela tinha coletado prática com as mães e com os bebês por volta de até três anos de idade, da primeira infância. Ela fez este percurso de acompanhamento do nascimento da filha dela. Escreveu e desenvolveu este projeto e começou a capacitar outros professores. Em 2015 eu fiz esta formação. Eu me capacitei como professora, primeiro para trabalhar com mães e bebês. Depois eu fiz outro curso de gestantes. Para trabalhar com gestantes. Depois eu fiz o curso para trabalhar com mães e bebês que já andam. Com bebês um pouco maiores. Vai mudando muito este desenvolvimento dos bebês.
Além de trabalhar com a dança materna eu sigo com a terapia. Com o atendimento às famílias e os bebês, porque é um momento de pós-parto desafiante, de muita transformação. Como eu senti na minha vida de mudança de carreira. Do social que não acolhe uma mulher gestante no campo de trabalho. Muitas são despedidas logo depois da licença maternidade. Ou a licença maternidade é tão pouca que ela acaba pedindo demissão do trabalho. Ela não se enquadra mais ali. É um momento de muitos desafios.
Dentro da mediação de conflitos eu trabalhava nas comunidades e fui me especializando na comunicação não violenta. Uma ferramenta desenvolvida por Marshall Rosemberg, um americano que tem este trabalho no mundo todo. Então eu fui desenvolvendo este trabalho para famílias, para os bebês e com a comunicação mãe – bebê. O primeiro mês de um bebê a gente fica muito atordoada, sem entender. Acho que são as necessidades de um bebê porque ele não fala. Ele não se expressa de forma verbal. O que a gente precisa diante tantas mudanças hormonais. O que nos apóia para poder lidar com este bebê e com tudo que está a nossa volta. Meu trabalho é dentro deste âmbito: de entender essa mulher, a rede social dela, onde ela pode buscar apoio. Como que ela pode fazer isso. Como ela pode resolver seus conflitos. Ás vezes tem muitos conflitos com seus familiares, com o marido.
Jornal Oecoambiental: Há muita desinformação com relação à qualidade da gestação?
Ludmila: Estamos num mundo hoje do machismo, do patriarcado muito forte. As mulheres, em sua maioria, não têm muita consciência, porque estamos inseridos nesse machismo, neste patriarcado. Somos vítimas dele. As mulheres não têm muita noção do potencial feminino. No potencial da mulher antes de engravidar. O que é ser mulher. O feminino, o feminismo. Não estamos muito conectadas com isso. E a gestação vem dar um choque de realidade. A natureza vem nos dar esta condição. Se a gente engravida a gente vai tendo este trabalho natural que a natureza vem fazer com o nosso corpo. O que eu percebo é que as mulheres não estão muito conectadas com isso. Não procuram saber: ”olha quando eu engravidar, o que é natural acontecer?“ Muitas vezes ao entrar em gestação ela vai descobrir estas informações ou ela vai seguir desconectada e vai seguir no sistema patriarcal violento contra a mulher. O que este sistema faz? O sistema olha para a mulher e diz:”você está doente, você é culpada”. “Está grávida.” “Você precisa fazer muitos exames para ver se está tudo bem, cuidar da sua saúde. Cuidado, não faça esforços, tem atividades que você não pode fazer.” Então na hora do nascimento – “pode deixar que eu vou te ajudar.” E o que acontece? Uma cesária desnecessária. Então a gente vai passando por um assistencialismo como se a gente fosse uma coitadinha. Não tivesse o poder sobre nosso próprio corpo. Como se a gente não tivesse esta consciência. Muitas mulheres não conseguem ter este resgate. Não conseguem buscar assistência que valoriza isso. Uma informação de qualidade que dá a liberdade e o poder para esta mulher parir. E a gente sabe que há muitos interesses por trás disso. Interesses da indústria farmacêutica, de alguns médicos, cirurgiões, anestesistas. Nas faculdades de medicina, no ensino de obstetrícia, as pessoas entram para lidar com uma cirurgia. O meu obstetra, que me acompanhou falava assim comigo: “Ludmila, segue com sua enfermeira obstetra. Na hora de seu trabalho de parto, se você precisar eu apareço. Então eu não tenho nada que fazer com você aqui agora. Quando você entrar em trabalho de parto a gente vê o que vai acontecer.” E eu segui com a minha enfermeira obstetra. As enfermeiras são diferentes. Como elas não têm uma formação cirúrgica, elas têm uma formação de cuidar do processo natural, de desenvolvimento de uma gestação, de um parto natural vaginal, como todos os outros animais. Assim como acontece com a gente quando está inserida em um meio assistencialista do homem com a mulher. Não deixa a gente tomar as decisões sobre o nosso próprio corpo. Dizem: “não sua barriga está muito grande. Você não tem passagem para o bebê. A gente vai ter que tirar.” Então a mulher vai sendo levada por muitos profissionais a ser submetida a uma cesariana, que é uma cirurgia. Não é um parto. Com evidências científicas de ser mais arriscada que o parto natural, vaginal. Só que a maioria das mulheres está nesta desconfiança de seu próprio poder. Ficando nas mãos da medicina, dos médicos jogando esta insegurança, de vida. Depois a recuperação dessa mulher é mil vezes pior. No trabalho de parto se diz assim: “há não senti nada depois da cesária, tudo passou rapidinho.” Só que esta mulher recebeu muita substância medicamentosa para não sentir dor. Ontem mesmo uma amiga minha acabou de parir. Mandou-me o vídeo do parto dela, já estava conversando, andando. Isso não acontece na cesária. Fora todos os outros riscos deste bebê nascer prematuro. Porque as cesárias são agendadas muitas vezes. E muitas mulheres sentem medo do parto normal. Então a desconexão é tamanha. A minha geração teve muitas cesárias. E antes da minha é que os partos foram normais. A gente precisa se resgatar com as nossas avós nestes partos. Só que aí é outra questão.
A outra questão é como o sistema é violento com as mulheres, quem não se propõe a fazer o parto natural, vaginal, muitas vezes o que a gente vê acontecendo é um parto que a gente chama de anormal, pelo tamanho da violência obstétrica. Os profissionais continuam sem saber que o parto é da mulher. Ninguém faz o parto. Então os bebês sobem na barriga da mulher. Não tem necessidade. Basta à mulher estar andando, estar em pé que a gravidade vai ajudar. A mulher não precisa estar deitada. Então tem “pano pra manga”. Várias experiências obstétricas que podem acontecer. Tem uma série de filmes sobre o renascimento do parto, que fala muito sobre estas violências. Como que o médico induz, vai levando a pessoa até em conchavo com a pessoa que faz ultra som para levar a pessoa a cesária. Porque eles ganham mais. Na cirurgia eles têm uma praticidade. Eles fazem ali em meia hora. O trabalho de parto, em geral, dura cerca de três dias. A mulher sente dor, claro, mas é uma dor natural. Como a mulher grita, incomoda, incomoda quem está perto. Então eles querem dar anestesia para calar a boca dessa mulher. Dizem: “foi bom na hora que fez, então pára de gritar.” E a gente está questionando até hoje. Será que foi bom mesmo para a mulher? Será que ela gozou mesmo na hora que foi fazer estes bebês? A gente sabe que a maioria das mulheres não tem prazer. Quiçá ela não foi estrupada. E não está com esta gestação através de um estupro. Que as pessoas nem sabem e às vezes dizem isso. Então é um absurdo o que esta assistência hoje faz. As mulheres às vezes, não têm noção deste cenário. Meu trabalho também passa por um ativismo. Formar grupos de mulheres. E a gente indica estes livros, esses filmes. E ensina mesmo a retomada deste poder da mulher ter o parto que ela quer. Ter uma experiência de nascimento respeitoso, humanizado. E principalmente o que a gente tem falado de respeitoso. Que é o que as pessoas merecem. Que as pessoas cheguem no mundo de forma respeitosa.
LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA EM NOSSO BLOG:
https://oecoambiental.blogspot.com/2020/10/entrevista-com-ludmila-yarasu-kai-danca.html