Talvez André quisesse mostrar em "Solidão Expressa" alguns traços característicos do mineiro.
Nascido em Uberlândia (MG), ensimesmado, olhar atento, calado, mas na verdade, essa solidão é povoada por elementos eminentemente vivos, que habitam ao seu redor: sol, lua, nuvens, estações do ano, paixões diversas, amores tantos, política, religião, expressando a busca interior de André, povoando de atrativos sua viagem poética.
Heloísa Gomides Pereira Garcia
Sala de Literatura
Secretaria Municipal de Cultura
Recebi, com surpresa, o pedido para apresentar o autor de Solidão Expressa. Minha especialidade é a Linguística e os trabalhos literários, até o momento, fazem parte de minha vida somente como fonte de entretenimento, ou como enriquecimento dos textos técnicos com que desenvolvo minhas atividades profissionais. Partindo do Autor -- André Luís Batista Martins -- esse pedido encheu-me de orgulho, uma vez que fui sua professora no Curso de Letras da Universidade Federal de Uberlândia ainda nos primeiros períodos.
Reconhecendo meus parcos conhecimentos sobre Literatura, busco em Albert Camus a inspiração necessária para essa importante/gratificante tarefa.
"Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo, mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio aos estrépitos de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos de trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado , brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de cada e todo homem sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos."
Uma vez aceitas como verdadeiras as palavras de Camus - o acordadar da vida e da esperança é o resultado do trabalho diário e solitário de todo e cada ser humano. -- passo a referir-me à obra SOLIDÃO EXPRESSA.
É no AMANHECER e no ANOITECER que a NATUREZA manifesta toda sua beleza. Os vários matizes do alaranjado cedendo espaço para a luminosidade do amarelo, o esmaecer do azul real para o brilho in-fit-á-vel, são como trombetas a anunciar a chegada do magnífico Sol. Passam as horas, e a Natureza prepara-se para a chegada de um novo astro. O brilho infitável, as várias tonalidades do azul/branco, do amarelo/alaranjado cedem espaço, pouco a pouco, aos tons violáceos, aos tons avermelhados, ao preto total. É o astro-rei que se afasta para a chegada da deusa lua.
Esse mesmo espetáculo acontece no mundo dos humanos. É no apagar das luzes de um século e no emergir de outro que a humanidade passa por transformações as mais diversas, ora pacíficas, ora violentas, ora nem tanto...
No mundo das Artes, a Literatura impera sobre todas as outras. Síntese das demais, ela comprova o dito bíblico "... e criou-se o Homem à semelhança de Deus..." Na literatura, o homem cria, assim como deus criou, usando como elemento básico a língua escrita, criação humana. Como todas as criaturas, o ser humano é possuidor da faculdade da linguagem. Ademais, sendo genérico por natureza, atinge diversos níveis de criatividade, a partir de suas emoções, sentimentos, talentos inatos ou desenvolvidos, valorizando, enfim, a inteligência como que foi agraciado. Daí surgir, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes...
Só o tempo nos dirá se André Luís Batista Martins -- Iraig -- poeta emergente nos limites dos séculos XX e XXI, será também UM dentre uns. SOLIDÃO EXPRESSA, sua obra inicial e que tenho o prazer e o privilégio de apresentar, fala por si mesma, tornando-se desnecessários adjetivos para enaltecê-la. E, vindo a público, coloca-se à mercê da apreciação de amantes e de estudiosos da Literatura.
A mim, sua ex-professora, colega e amiga, cabe apenas expressar: Se " [...] deixar a arte acontecer, fluir livremente, gerar sempre novas criações, deixar crescer a inspiração, deixá-la tomar forma e invadir o mundo, é o papel do artista..." IRAIG é um artista. A sua poética pode nos levar por caminhos estranhos, mas sente-se a ânsia de trilhar aqueles que conduzem ao crescimento interior. André Luís Batista Martins possui a magia da palavra e a sensibilidade que o capacita, em SOLIDÃO EXPRESSA, a tecer um imenso véu que cobre, des-cobre, recobre sentimentos, possibilitando o despertar de sonhos, fantasias..., levando nós outros para um mundo além deste, puramente material. E o pêndulo que rege os atos humanos pende, assim, mais e mais para os limites do espiritual.
As possibilidades semânticas que a obra nos oferece aparecem atuar como estímulos à aceitação da teoria da 3a onda, que preconiza a REFLEXÃO como o próximo passo da Humanidade.
Válmer Pereira Caixeta