A LITURGIA NA IGREJA EPISCOPAL
Toda igreja é litúrgica, todo culto tem uma ordem, mesmo que seja bem simples, como louvor pregação, avisos e despedida. Algumas igrejas têm liturgias mais elaboradas, seguindo uma rica tradição, nestes mais de dois mil anos de Cristianismo. A Igreja acumulou um tesouro riquíssimo de orações e frases usadas na adoração ao Cristo Ressuscitado. Seguindo a antiga expressão “lex orandi, lex credendi, lex vivendi”, “como oramos assim cremos, e assim vivemos”, temos uma via de mão dupla acontecendo no culto, oramos como cremos, e cremos como oramos. O culto revela o que igreja crê, e como crê. O que é central em uma liturgia mostra o que é central na vida deste povo. Por exemplo, se o centro de uma liturgia é “sentir-se bem’, então provavelmente este e um culto aos homens e não a Deus, pois eles são o centro do culto.
A liturgia cristã tem no centro o Cristo, então celebra o "mistério da fé": “Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo voltará". A liturgia é a adoração pública a Deus pelo seu povo de acordo com um padrão e forma estabelecida. Liturgia é a adoração da igreja por meio do rito, e rito é uma rotina, ou seja é a nossa rotina de adoração a Deus.
“A liturgia não é um assunto secundário na Escritura é O assunto. Deus criou o mundo como um espaço litúrgico, e pretende preenchê-lo com adoração, jubilosa e eterna. A liturgia é o alfa e ômega da história bíblica. É a razão para qual Deus criou os seres humanos e tudo mais.” (Peter Leithart).
Nós, episcopais, adoramos a Deus com uma liturgia estruturada segundo o “Livro de Oração Comum”, LOC, que foi organizado por Thomas Cranmer, o reformador inglês. Este livro é a "Bíblia organizada e orquestrada para a finalidade da oração e adoração a Deus". O LOC é um livro saturado pela Bíblia, e é deste livro que os ministros formulam as liturgias do culto anglicano. Por meio da liturgia a igreja ora em uma só voz, com ordem, beleza, profunda devoção e grande dignidade. Não existe uma liturgia única na igreja episcopal, são inúmeras formas de fazer isto e vamos mostrar como fazemos em nossa Comuidade, a Comunidade da Reconcialiação.
Nossa liturgia pode ser dividida em quatro partes:
(1) os Ritos Iniciais;
(2) a Liturgia da Palavra;
(3) a Liturgia Eucarística; e
(4) os Ritos Finais.
O Culto ao Senhor segue um caminho, uma jornada do discípulo em missão, este padrão se encontra em toda a tradição episcopal e retrata uma viagem quádrupla da Igreja:
(1) Viemos do mundo, para a eterna presença de Deus,
(2) Através de sua Palavra,
(3) e de seu sacramento,
4) retornamos ao mundo em missão.
Esta macroestrutura do Culto Eucaristico segue uma referência bíblica, a da aparição de Cristo após sua ressurreição no caminho de Emaús, onde os discípulos saindo de Jerusalém encontram Jesus, que faz uma exposição das Escrituras (Palavra) antes de se fazer conhecer a dois discípulos no partir do pão (Sacramento) em Emaús, depois disto eles retornam para continuar a missão em Jerusalém (Lucas 24: 13-34). Além disso, segue o exemplo da Igreja primitiva de dedicar-se “ao ensinamento dos apóstolos [Palavra] e à comunhão, ao partir do Pão [sacramento] e às orações” (Atos 2:42).
A fé em Jesus é o único aspecto essencial da salvação, mas esta fé se dá pela escuta e resposta a pregação do evangelho. Para os episcopais, formados na oração comunitária, seria inconcebível pensar em encontrar Cristo, ao qual somos fiéis, fora da pregação do evangelho feita no seio da igreja, ou responder a isso fora da participação na Santa Ceia, junto com todos os outros batizados. Por isso ser parte de uma comunidade de fé é importante, lá somos nutrimos, animados e santificados pelo Senhor. Para os epicopais, é nas liturgias da Ceia (presença e renovo na celebração da morte e ressurreição de Jesus) que compreendemos quem somos, a quem pertencemos fundamentalmente e por quem somos responsáveis em nossa missão e em nosso ministério em nome de Jesus. Como não há vida de fé sem fraternidade com os outros crentes, não há também missão (nem justiça, nem misericórdia, nem graça) que não tenha fundamentalmente sua fonte de significado no batismo e na liturgia eucarística.
Veja mais de perto a estrutura do culto Episcopal.
1) Os Ritos Iniciais: começam com um cântico em dias especiais com procissão de entrada; os ministros ocupam o seu lugar, saúda-se o povo, pronunciam-se as palavras de acolhida; conduz-se o povo à confissão de pecados e os introduz na adoração a Deus. Aqui cada um também é convidado a acolher os outros, partilhar a como foi sua semana, situar-se a cerca das atividades da Comunidade.
2) A Liturgia da Palavra: onde se fazem leituras da Escrtiuras e o Sermão.
3) A Liturgia Eucarística: Aqui se faz a Grande Oração Eucarística, que é uma coletânea de orações, seguida do Pai Nosso, Fração do Pão, Comunhão, Oração Pós-Comunhão.
4) Os Ritos Finais: constam da despedida, da bênção e do envio ao mundo em missão.
RITOS INICIAIS
A) Preludio: Prelúdio é algo que vem antes, uma introdução. É um artifício usado em histórias para contar algo relevante, é uma preparação para começar o culto com uma música instrumental anunciando que estamos entrando em um momento especial.
B) Boas vindas: É uma saudação informal onde o oficiante dá as boas-vindas aos demais participantes da celebração. Faz a introdução ao tema, ao assunto do respectivo domingo dentro do Calendário do Ano Cristão. Introduz o povo no ambiente da celebração. Saúda os visitantes, comunica orientações sobre como se portar no espaço e da inicio a celebração.
C) Hino: Já acolhidos podemos cantar juntos, assim como o evangelho de Cristo é uma boa notícia, que nos enche de esperança, o culto começa com uma canção, onde podemos abraçar os irmãos (chamado de abraço da paz) que vieram com mesmo propósito, encontrar a Deus e seu corpo.
D) Coleta pela Pureza: Uma oração da tradição episcopal que pede para servirmos a Deus com um coração puro.
D) Confissão: È uma confissão geral de pecados, que deve ser dita de joelhos(segundo a revisão do loc de 1675 do LOC, por influência escocesa). Após a igreja ter pedido perdão a Deus o ministro declara a absolvição, afirmando o Senhor perdoou verdadeiramente nosso pecado nos tornando justificados. Quem a pronunciar, fará voltado para o povo, porque se fala em o nome de Deus, cujas misericórdias não tem fim e com Quem está o perfeito perdão.
E) Declaração de Perdão: Aqui, o Ministro invoca o perdão de Deus a todos que sinceramente se arrenderam e confessaram os seus pecados.
F) Kyrie: Uma das mais antiga aclamações da Liturgia da Igreja, é o pedido da misericórdia de Deus sobre nós. "Senhor (Cristo) tem piedade de nós! O Kyrie Eleison muito comum na tradição da igreja, já presente no clamor de Bartimeu, no Evangelho. Quando os cristãos passaram a incluir essa exclamação no ofício, estavam a confessar Jesus como único Senhor e negando a veneração divina a qualquer senhor deste mundo. “Kyrie Eleison” é, na sua origem, um clamor coletivo da comunidade pelas dores do mundo e não um clamor individual das pessoas pelo perdão dos seus pecados.
G) Coleta do Dia: É uma oração feita pelo ministro onde se apresentam as necessidades da Comunidade. Algumas destas orações remontam os tempos da Igreja Primitiva.
H) Música: Esta é uma canção de louvor e entrega a Deus, preparando nossos corações para ouvir a voz de Deus por meio de sua palava.
LITURGIA DA PALAVRA
A) Leituras: Tradicionalmente se faz a leitura de 4 textos da Bíblia, seguindo a seguinte ordem: Antigo Testamento, Salmo, Novo Testamento e Evangelho. A leitura do evangelho e feita com todos estando de pé. A leitura pública dos textos bíblicos e a escuta atenta do fiéis é uma marca da adoração cristã ao longo dos seculos.
B) Sermão: Após a última leitura bíblica e sua respectiva resposta pela comunidade, a Liturgia da Palavra continua com o Sermão, que deve versar sobre as leituras feitas, ou mesmo a outras leituras que o pregador venha a fazer. A pregação da palavra não é o mesmo que uma palestra, acreditamos que Deus fala com seu povo por meio da pregação, então escutamos solenemente. Aqui devemos evitar com maior dedicação a conversação, e praticar a escuta ativa, a fim de sermos abençoados por Deus.
C) Profissão de Fé: O "Credo" é a declaração oficial das verdades das Sagradas Escrituras sobre a qual se baseia a fé da Igreja. Foi colocado na liturgia para combater as controvérsias. No Oriente, foi introduzido no ano 417, em Antioquia, e em Constantinopla no ano de 511. No Ocidente, o 3º Concílio de Toledo (589) inseriu o Credo no rito mozárabe contra os arianos. Logo se difundiu na França; mas só foi incorporado à missa romana em 1014. O LOC contém dois Credos: o Apostólico e o Nicenoconstantinopolitano.
O Credo dos Apóstolos é baseado no antigo Credo Romano, que se constituiu a partir do século II, em relação com a celebração do batismo. Foi provavelmente em Roma que tal texto se formou.
O Credo Niceno, também é uma paráfrase, um pouco aumentada, do Credo estabelecido pelo Concílio de Niceia, embora só fosse definitivamente elaborado pelo 2º Concílio, em Constantinopla, em 381. É o único Credo universalmente aceito. O LOC ainda oferece outras formas de confissão alternativas
D) Oração da Comunidade: Aqui os irmãos partilham como foi a semana, este momento também é chamado na tradição litúrgica de “Oração dos Fiéis’. Juntos como família levamos a Deus nossa intercessão uns pelos outros com orações espontâneas.
E) Avisos da Comunidade: Aqui a igreja se informa de outras atividades relativa a vida em comunidade, e como se integrar nestas atividades. Pode ocorrer após a Comunhão.
F) Ofertório/ Musica: É parte invariável do culto desde o período apostólico (cf. 1Co 16.2). Os dízimos e ofertas recebidas serão solenemente apresentadas e postos na Mesa da Santa Ceia, e será recolhido em seguido por alguém responsável e contabilizado pela tesouraria. As ofertas partem do povo e significam seu respeito e louvor de gratidão a Deus.
LITURGIA DA EUCARISTIA
A) Oração Eucarística: a parte central, a parte sacrificial por excelência da Celebração da Santa Eucaristia. Sua correspondente nos ritos orientais é a “Anáfora”, e no romano, o “Cânon”. As palavras da Oração Eucarística não são fórmulas, mas uma oração que a comunidade dirige a Deus, conforme um padrão básico comum. Esse padrão parece estar preservado numa Oração Eucarística registrada na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma e anotada por volta do ano 215. Os anglicanos não acreditam que o sacrificio de Cristo é refeito na Ceia, nem que os elementos do Pão e o do vinho mudam de substância (transubstanciação), mas que Cristo está presente de uma maneira especial neste momento. A Ceia também não é um teatro de memórias, não é mera lembrança, Cristo nos alimenta espiritualmente na Ceia, nossa fé e comunhão são renovadas na Ceia. Esta oração contem inúmeras partes veja:
I) Convite: esta é a porta de entrada da Ceia, que contem três elementos, forma-se de uma Introdução, o Sursum Corda e um Convite a ação de graças. Então ha um diálogo introdutório, cuja origem é judaica (Seder); “Sursum Corda”, é uma palavra de origem latina, Sursum = suspender e corda = coração. Convida-se a comunidade a elevar seus corações, o que equivale dizer pensamentos, a Deus (é um dialogo entre o celebrante e os comungantes que precede à eucaristia em todas as liturgias históricas); terminando com a “Ação de Graças”, o celebrante convida a todos a participar deste ato, ação, de agradecimento a Deus.
II) Prefácio: Aqui se dá graças pelas grandes obras de Deus no passado (como Criador e Redentor). A comunidade proclama a sua fé na continuidade de tais atos no presente. A confiança na continuidade da fidelidade de Deus é que permite à comunidade entrar na celebração da Eucaristia, com a certeza de que ali Cristo estará presente e se entregará às pessoas comungantes. Prefácios são expressões de nosso louvor a Deus pelas fases grandiosas do mistério da encarnação e da salvação.
III) Sanctus: O uso frequente do Sanctus no ritual judaico talvez tenha influenciado em sua inclusão na liturgia. Às vezes dá-se o nome de "Triságio" ao Sanctus. Ao fim desta mesma oração se encontra o “Benedictus”, a saudação proferida pela multidão a Jesus quando de entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21,9). Todas as liturgias anteriores à Constituição Apostólica (350) inserem o Benedictus após o Sanctus, exceto a liturgia do Egito. O LOC de 1549 uniu ao texto original do Sanctus o versículo de Lc 18.38, paráfrase que permaneceu, mesmo depois dos cortes feitos pela revisão de 1552.
V) Palavras da Instituição: Que começa com uma introdução chamada de “Anamnese”(in memoriam mei), não é mera lembrança, recordação, mas realização. A Anamnese chama, invoca uma pessoa ou um acontecimento do passado e o torna presente, ativo, efetivo, aqui e agora. “Seguindo o mandamento de Teu Filho, comemoramos, até que Ele venha”. A oração traz a declaração explícita de que se está aqui oferecendo o pão e o cálice, exatamente com esse significado e objetivo de celebrar a obra de Cristo, em obediência à Sua ordem. Então em forma de uma narrativa, se repete as palavras de Cristo instituindo a Ceia conforme pronunciadas (cf., 1Co 11,24-25). A sua função é recontar o relato da Última Ceia de Jesus com seus discípulos, ou seja: a autoridade para celebrar a Eucaristia não vem da comunidade, mas de Jesus na última ceia. Por isso, reconta-se aqui a narrativa da instituição. Ao dizer as palavras sobre o pão, coloca-se a mão sobre o pão sem fermento (chamado também de hóstia ou obreia), fazendo-se o mesmo com o cálice.
VI) Epiclese: Termo grego, designa, normalmente, o pedido ao Pai, para que envie o Espírito Santo. Invocação do Espírito sobre os elementos eucarísticos, separando-os do uso comum ao sagrado. É a invocação do Espírito para que realize aquilo que é o fruto da Eucaristia, a comunhão em Cristo, sendo, assim, uma invocação do Espírito sobre a Igreja. Por meio dela se expressa que nem a pessoa oficiante, nem a comunidade, nem a Igreja são proprietárias da Eucaristia. Nenhuma delas tem em seu poder realizar o que a Eucaristia deve realizar, mas, somente Deus, por Seu Espírito.
V) Oração de Humilde Acesso: É uma oração tipicamente da tradição episcopal. Mostra a nossa indignidade em participar a Ceia e o Amor reconciliador de Deus em nos acolher.
B) Oração do Senhor: Conhecida como oração do Pai Nosso. Recordamos aqui a intercessão feita pelo Próprio Cristo ao Pai.
C) Agnus Dei: Que significa Cordeiro de Deus. Era um Cântico primeiramente adotado na liturgia elaborada por Tiago de Jerusalém. Este Agnus Dei mostra a nossa Fé no Cordeiro de Deus imolado pelos nossos pecados e paz entre Deus e os homens por casa de seu sacrifício de amor.
D) Partir o Pão: Fractio Panis. O pão é partido, como feito por Cristo na instituição da ceia junto aos Apóstolos, como ele repete com os discípulos em Emaús, e como os apóstolos seguem fazendo “na comunhão e partir do pão” e a igrejas segue repetindo desde os primeiros seculos como afirma o documento DIDAQUÊ. O Cristo partido, nos convida a nos repartimos também, entregar nosso corpo e sangue aos outros, é o amor sacrificial.
E) Comunhão: Todos que são batizados, com água, e em nome do Pai do Filho e do Espirito Santo, seja de qualquer denominação, são convidados a Cear, vindo à mesa onde serão servidos os elementos. O comungante pode escolher receber os elementos nas mãos ou na boca, diretamente. Geralmente as palavras ditas pelos celebrantes são: “O corpo (sangue) de nosso Senhor Jesus Cristo te preserve na vida eterna”, o comungante pode dizer "Amém" se quiser, mas pode apenas receber os alimentos e cear em silêncio. Depois de Cear, retornando ao seu lugar, aguarda em oração, fala com Deus e agradece pela dádiva de fazer parte de seu corpo e de ser um com a Trindade. Ao fim da Ceia os ministros irão também cear. Se por acaso faltarem elementos na ceia, celebrantes faz uma oração em voz baixa sagrando mais elementos, se sobrarem elementos consagradas, após a celebração os ministros comem o excedente, podendo chamar os que ajudam na celebraçãopara auxiliá-los.
F) Pós Comunhão: Todos juntos proclamam uma oração de ação de graças depois da Comunhão. Neste ponto, retornou-se ao padrão das liturgias orientais, estabelecendo uma forma fixa.
RITOS FINAIS
A) Bênção: Retirada dos ritos romanos, continuou a ser usada nos ritos galicanos e naturalmente na Inglaterra, até ao tempo da Reforma, com formas variadas que se alteravam, conforme a estação do calendário litúrgico. O ofício termina com uma bênção pronunciada pelo ministro, em o nome de Deus. A bênção Trinitária (Em Nome do Pai do Filho e do Espirito Santo) realizada pelo celebrante com a imposição de mãos.
B) Despedida: Enviados em missão, alimentados por Deus, prontos para praticar nossa vocação servindo as pessoas em amor, cheios do Espirito Santo. Antes de ir para casa, dá-se mais um abraço em um irmão e dese-lhe a paz de nosso Senhor.