Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti em parceria com a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB)
Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti em parceria com a Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB)
PRESENÇA
Grupo de whatsapp criado por estudantes para me auxiliar na mobilização de recursos
Acordo de cooperação missionária firmado no dia 1 de abril
PRESENÇA GENEROSA
No informativo anterior, mencionei que aquele seria o último que enviaria na condição de aspirante a assessor. Seja por que desistiria do processo de captação de recursos, ou por finalmente ter alcançado o valor necessário para o sustento do trabalho. Retorno aqui com a alegre notícia de que a generosidade de irmãs e irmãos renovou meu ânimo e completou o trabalho que faltava. Em dois meses, dezenas de novos doadores chegaram, fruto de um generoso trabalho coletivo. Pequenos gestos, pequenas doações, constantes orações, breves mensagens enviadas a conhecidos, pequenos gestos de imensurável grandeza, sinais de quem, por meio da generosidade, se fez e faz presente em minha vida. O voto de confiança e sinal fraterno manifestos por cada doadora e doador, renovaram minhas forças e ânimo e viabilizaram a continuidade de meu trabalho durante o ano de 2025. No dia 1 de abril, assinei o acordo de cooperação missionária com a ABUB, assumindo oficialmente a condição de missionário parceiro da organização. Há muito trabalho pela frente, obrigado por seguirem comigo.
Ingrid foi a enfermeira que prestou os primeiros cuidados à Flora na emergência. Ela cuidou da Flora com quem a via e se importava. Seu cuidado foi manifestação visível de graça e compaixão.
Uma semana depois da alta, Flora já havia retomado o peso perdido e seu ânimo. Essa foi a primeira foto dela, subindo nas coisas e olhando para o horizonte com riso largo, como lhe é comum.
Ingrid foi a enfermeira que prestou os primeiros cuidados à Flora na emergência. Ela cuidou da Flora como quem a via e se importava. Seu cuidado foi manifestação visível de graça e compaixão.
Minha irmã levou seu cachorrinho, que Flora ama carregar no colo, sentindo-se assim mais forte que Sansão (o nome do cachorro), no dia de sua saída do hospital.
Os colegas de sala se fizeram presentes durante a internação através de suas cartinhas. Passamos dias relendo cada uma. O ânimo de Flora foi sustentado muitas vezes por esse gesto.
PRESENÇA QUE CURA
No mesmo dia em que soube que havíamos alcançado o valor orçado para meu trabalho, tivemos a tão esperada notícia de que nossa filha receberia alta, 12 dias após dar início em sua internação no hospital infantil. Saímos dali com o diagnóstico de Diabetes Mellitus tipo 1, algumas insulinas na bolsa, disposição para nos adaptar àquela ainda muito misteriosa nova situação, e uma centena de perguntas sem respostas.
Susan Sontag, em seu livro A doença como metáfora, escrito enquanto realizava tratamento de seu câncer, afirmou que "[...] a doença não é uma metáfora e que a maneira mais honesta de encará-la e a mais saudável de ficar doente é aquela que esteja mais depurada de pensamentos metafóricos, que seja mais resistente a tais pensamentos". Enquanto Flora se encontrava no quadro de cetoacidose diabética, na Unidade de Tratamento Intensivo Infantil, nos fizemos em mil pedaços. Vê-la fragilizada foi lacerante. Nesse tempo, não me caíam bem aos ouvidos as tentativas de explicar o que nos causava tamanha dor, nem as promessas de um propósito oculto por trás da fragilidade de uma garotinha de 5 anos, ou mesmo pensar sobre as inúmeras e (agora sabemos) equivocadas imagens que povoavam nosso imaginário sobre a doença. Metaforizar a doença só nos causava mais dor.
Recordo-me dos acontecimentos descritos ao longo do capítulo 9 do Evangelho segundo João. Ao passarem por um cego de nascença, os discípulos perguntam a Jesus se sua condição era resultado do pecado dos pais ou dele mesmo. A resposta de Jesus desconstrói a metáfora da doença como fruto do pecado, e lança os fundamentos para uma nova metáfora sobre a vida: "[...] Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele". Em nossa dor, frente à angústia da espera pelo diagnóstico, a suspensão dos nossos acontecimentos cotidianos, a incerteza sobre o que nossa vida se tornaria dali para frente, pudemos ver que a vida mesma estava se tornando uma feitura divina, escapava por entre nossos frágeis dedos, afastava-se de nossos domínios, e caíamos assim, rendidos, diante da misteriosa Presença do Amor que nunca cessa. A presença, de Deus e das pessoas; saber que estavam ali por nós, isso era tudo. Na dor, pouco importa a explicação, é a presença amorosa, silenciosa, disponível e mesmo inútil de quem nada pode fazer a não ser permanecer a nosso lado enquanto choramos, isto é o que nos resgata e cura. A minhas amigas e amigos, que se fizeram presentes de inúmeras formas, religiosos ou não, sou muito grato por partilharem conosco a medida que lhes coube deste nosso fardo de dor.
Entre os dias 1-10 de abril, estive em Lima, Peru. Esta viagem foi fruto da generosidade de um amigo, o colombiano David Cabezas, que tive o privilégio de conhecer durante o doutorado. Ele está por lá, com auxílio governamental para intercâmbio de estudos e reservou parte de seus recursos e de seu tempo para investir também em minha formação. Essa experiência foi, sem dúvidas, a mais enriquecedora que tive durante o doutorado até aqui. Serviu de ocasião para que pensasse os caminhos que tenho trilhado em minha tese doutoral, e pudesse conhecer mais de perto a grandeza cultural e também os desafios cotidianos vividos pelo povo peruano.
David me perguntou qual foi o maior desafio nos dez anos de casados. Lhe respondi que mudamos muito e muitas vezes nesse período, e que o mais desafiador é acolher cada nova versão de nós mesmos. Como as estações, ele disse, e eu lhe confirmei: "Sim, como as estações nos ensinam". O outro não se torna uma extensão de nós mesmos com o passar dos anos, ao contrário. O amor maduro acolhe a alteridade. Eu e Ju não somos iguais, chegamos a ser opostos em muitos pontos. E acolher essa diferença é o que nos faz um, é o amor que nos vincula. Amor que sustente nossa presença na vida um do outro durante as diferentes estações. Hoje conheço o riso e sei o peso de sua lágrima, seus medos me são íntimos e o que lhe causa ansiedade, o que lhe desagrada, e o que ama, seus defeitos e suas virtudes. Ju também me conhece, como ninguém mais. Conhecemo-nos tanto e ainda há tanto de nós que desconhecemos. E talvez, por isso mesmo, seguimos nos amando. Celebramos dez anos de casados em 18 de abril, e te convido a celebrar o que o Amor tem feito de nós, conosco.
Dia em que pedi Ju em casamento, 11 anos atrás.
Foto tirada por nossa amiga, Mafa Soares, de um ensaio na UFES, local onde nossa história juntos se iniciou.
Em Curitiba, última viagem que fizemos sozinhos antes da chegada de Flora.
Maternidade, um novo nascimento.
Foto de adolescente, mas com os cabelos brancos.
Fotografei a Ju, com uma florzinha que Flora colocou entre seus cabelos. Um registro da beleza que marca nosso cotidiano.
Ore comigo
Por novos assessores auxiliares para nossa região, pessoas disponíveis e que amem a missão estudantil.
pelos trabalhos de campo, a organização e participação que farei em espaços formativos da ABUB (o curso de férias, Encontro Nacional de Obreiros, Encontro Nacional de Assessores Auxiliares, Congresso Missão 2026);
Pela diretoria regional (representação estudantil), para que desenvolvam seu ministério de maneira sábia e responsável, que seu trabalho seja ocasião para que se tornem amigos e mais semelhantes a Jesus.
Por nossa filha, que permaneça e cresça sua alegria e bom humor frente aos desafios impostos por sua condição.
Pela renovação de nossos votos matrimoniais. Que o Senhor nos ajude a continuar amando quem fomos, somos e seremos.
No dia 19 de abril, fiz 38 anos. Oro por sabedoria, para que possa viver de maneira digna os dias que o Senhor me conceder.