Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti, na Aliança Bíblica Universitária do Brasil
Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti, na Aliança Bíblica Universitária do Brasil
"NÃO PRECISA DA SOLIDÃO..."
Ao ir a Quito para a Consulta de pesquisadores cristãos, realizada a partir da Iniciativa Logos y Cosmos (um pouco do projeto que apresentei lá está na aba ILC deste site) ocorrido no final de outubro, saí pela primeira vez do Brasil. Ali refletimos sobre uma erudição que conta, distinta de uma erudição incurvata in si. Christopher M. Hays nos conduziu por essa vereda, ressaltando alguns aspectos de uma erudição que se volta para o serviço amoroso e libertador. A experiência de compartilhar sobre a fé e a vida em espanhol, entre irmãs e irmãos de diferentes lugares da América Latina, foi transformadora. Há algum tempo venho tomando consciência do que significa ser latino americano, foi, inclusive, através do contato com a teologia latino americana que fiz meus primeiros movimentos nessa direção, no entanto nada se compara à partilhar o alimento, sentir os sabores, os aromas, os abraços, escutar e interceder pelos desafios que irmãs e irmãos encontram em diferentes países da América Latina; lamentar pelas dores, tão comuns à esse canto do mundo; desfrutar de nossos ritmos e risos igualmente tão singulares; e sonhar juntos com esperança para esta terra.
Deste encontro, para além dos inúmeros inspiradores projetos que partilhamos, a experiência fraterna fora um dos aspectos mais significativos para mim, essa percepção da presença de Deus entre a comunidade latino americana. Em certa medida, nossa brasilidade nega e teme essa latinidade. Estamos cultural e teologicamente mais próximos dos países do norte que de nossos vizinhos próximos. Mas não é preciso temer, nem andar só. O Espírito pulsa e baila entre nós. Quando lembro de minha passagem por Quito, dos desafios que se colocam ao fazer teológico na América Latina, escuto ressoando ao fundo a voz de Milton Nascimento. Uma voz que ecoa desde o "lixo ocidental".
"...TODO DIA É DIA DE VIVER"
[...] Um lugar onde haja tempo de calar e tempo de falar, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar. Uma hospedagem reservada, em que a palavra compartilhada transite segura entre o conhecimento sólido e a humanidade sem máscaras, e onde a escuta seja capaz de acolher os ruídos da alma apontando caminhos de restauração (Silêda Steuernagel, no livro Formação Espiritual: Um caminho de fé, vida e missão).
Em outubro também estive em Curitiba, para o penúltimo encontro de minha turma do Projeto Grão de Mostarda (PGM). Embora o Programa esteja chegando ao fim, estou certo de que os laços que se forjaram ali permanecerão. Deus, que nos dá pessoas como dons, alarga assim nossas famílias, espalha-nos pelos cantos do mundo, nos faz assim experimentar a saudade, nos alegrar com os voos de nossas irmãs e irmãos e ilumina os reencontros singelos e os risos mais bobos. Essas amizades nos irmanam ao pássaro encantado de Rubem Alves, cujas plumas mudam de cor a cada nova viagem e a quem a saudade encanta. E me alegrei ao ver esses pássaros com suas plumas de cores mudadas e as histórias que carregam. Mudanças de cidade e até mesmo de país, recomeços e desafios profissionais, fins de ciclos, a espera, a chegada e o crescimento de filhas e filhos. O tempo passa pelas asas e as colore. E, na partilha, essas histórias se tornam parte de mim também. Estas pessoas, como eu disse a algumas amizades nascidas ali, são "nosso coração batendo nos terraços de Bratislava, no serrado do Tocantins, pelas avenidas de São Paulo, nos parques Curitibanos, ... me sinto em casa entre vocês, família de Deus".
“[...] E não há ninguém no mundo a não ser esse menino chorando". Assim Drummond conclui o poema Menino chorando na noite, após descrever uma noite lenta e morna em que o adoecimento da criança reclama os cuidados dos adultos. A dor do menino é também a dor do mundo. Eu disse aos que estavam na festa de minha filha que naquele dia estávamos completando o poema de Drummond. Não o choro, mas o riso de uma criança evocara a atenção de pessoas vindas de diferentes cantos e cidades. E não havia ninguém no mundo a não ser aquela menina sorrindo. O riso dessa menina é também o riso do mundo. O mundo seria outro se houvessem mais tardes assim.
Flora fez 5 anos em novembro. Em sua festinha, pudemos reunir os nossos amigos e os dela. A celebração de sua vida se tornou nos últimos anos uma experiência que inclui pessoas de diferentes idades, todas celebrando com a mesma alegria e intensidade. É lindo de ver. Flora tem muitos amigos e é muito amada. Celebramos sua alegria, seu espírito gregário e hospitaleiro, sua criatividade. Estamos muito felizes por Flora existir e pelo que ela faz nascer neste mundo.
Agradeça a Deus comigo pelas coisas que partilhei neste informativo e, se puder e desejar, compartilhe seus motivos de gratidão pelo ano que passou, adorarei te escutar. Peço oração pelo fechamento dos ciclos deste ano e pelo preparo e viagem que farei em janeiro para o Instituto de Preparação de Líderes da ABUB, assim como por toda a equipe de obreiros e estudantes que estarão no evento. Obrigado por caminhar de perto ao longo deste ano.