Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti, na Aliança Bíblica Universitária do Brasil
Informativo do trabalho de Gustavo Marchetti, na Aliança Bíblica Universitária do Brasil
CARTAS VIVAS: SOBRE LER PESSOAS E SER LIDO POR ELAS
Falar um pouco sobre o que experimentei ao ler as cartas que recebi no Instituto de Preparação de Líderes (IPL) da ABUB, em janeiro desse ano, é uma maneira oportuna para refletir sobre como foram esses últimos meses para mim. Estive durante 9 dias com os estudantes e equipe da ABUB neste evento. Nesse período, além dos espaços formais de estudos, houveram muitas conversas durante as refeições e nos intervalos da programação. Conversas profundas, de intensidade incomum, que deixaram suas marcas em mim. Eram assinaturas, frases, gestos, palavras brinquedo que nos colocaram em contato, inscritas em nós pelo entrecruzamento de nossas biografias, o que somente o tempo e a proximidade de sentar-se à mesa, conforme aprendemos nos Evangelhos, pode nos proporcionar. Assim, enquanto lia as cartas, no aeroporto de Congonhas, sabia, antes mesmo de terminar a leitura, quem eram os remetentes.
Para mim, este foi um tempo de aprendizado sobre como hospedar, mas também como nos tornarmos hóspedes em terra estrangeira. Lembro do ensino de meu mentor e amigo, Ziel Machado: "A dor do outro é terreno sagrado". É preciso saber pisar ali, é preciso tirar as sandálias, emitir sinais de paz, erguer as mãos estendidas, sem armas ou violência. Numa das cartas que recebi, um jovem escreveu que tinha percepções diferentes das minhas, mas que "te ouvi e saí com novas questões". Me senti acolhido por esse relato. É bom poder se expor sem medo de ser atacado ou punido, ser escutado como um amigo. Esse contínuo movimento de hospedar e ser hospedado que a mesa nos coloca, exige que aprendamos a abrir espaço para entrar na dança, permitir que o outro seja o outro, sem espremê-lo, sem juízos.
TEMPO DE DEPURAÇÃO
Num dos estudos que preparei para o IPL, sugeri a seguinte reflexão:
[...] Pedro hesita frente ao convite de Jesus para que lançasse as redes, afirmando terem se esforçado 'a noite inteira'. Você já experimentou ou tem experimentado essa fadiga espiritual, esse esforço que parece não dar em nada, um certo cansaço, derrotismo e desânimo na missão?
Respondo: Eu sim. Algumas vezes. E, neste momento, tenho passado por isso. Há quase dois anos venho buscando captar recursos para entrar como assessor na região leste da ABUB. É um processo prazeroso, pois me conecto com irmãs e irmãos por meio de sua generosidade, o que é fonte de ânimo e inspiração ministerial e pessoal para mim. Mas também é um processo desgastante, e, agora, quase dois anos buscando mantenedores, precisei considerar seriamente encerrá-lo. Trabalhar como assessor de campo exige muito tempo, dedicação e disposição. Deste IPL, voltei convicto de que essa é uma forma que posso ser realmente útil no Reino de Deus, mas também voltei cansado.
Compartilhei isso com minha supervisora, a Nilsa, com estudantes e amigos. Defini que se até março eu não conseguir levantar os recursos que faltam, encerrarei minha caminhada na ABUB. Essa decisão não se baseia num derrotismo, pois ainda acredito que seja possível continuar no ministério (e desejo isso intensamente), principalmente diante das ações conduzidas pelo meu amigo, Wullyses (obreiro de campo na região leste) e nossa diretoria regional a meu favor; mas uma decisão consciente e cuidadosa, partindo do reconhecimento de que o tempo de "aspirante" precisa chegar ao fim. É preciso aprender a fechar. Não tenho energia para continuar nessa condição por mais tempo do que o que estabeleci.
Felizmente, após compartilhar isso, inúmeros estudantes e amigos se juntaram a mim nessa tarefa e agora falta bem pouco para completar meu orçamento (você pode acompanhar e compreender melhor sobre a mobilização clicando aqui). Esse é o mais sensível tema pelo qual desejo que você ore. De qualquer maneira, este será meu último informativo como aspirante a assessor, seja porque encerrarei o processo ou porque estarei contratado. Em março, enviarei novas notícias sobre minha situação na ABUB, e oro e espero que seja como assessor contratado pelo movimento, trabalharei com afinco para isso.
Nos mudamos para uma casa nova. É a primeira vez, em dez anos de casados, que conseguimos nos estabelecer financeiramente para conseguirmos realizar esse movimento. Vivíamos numa casa em cima da casa de meus sogros, que nos perdoaram muitos aluguéis ao longo destes anos. Essa proximidade sempre foi muito agradável e nos prestava um apoio impagável. No entanto, sentimos que era o momento de darmos voos próprios e tínhamos condições para isso. Nosso novo endereço é na Barra do Jucu, conhecido pela força de suas tradições, como o Congo, seu ritmo praiano e lúdico. Fomos bem recebidos aqui, por uma vizinhança simpática e acolhedora.
Em nossa nova casa, há uma aceroleira no quintal, que também possui bastante espaço para nosso cachorro, o Amendoim. Nossa filha, Flora, se tornou primeiro amiga do pé de acerola, e depois aceitou a mudança de bom grado. Deixamos em nosso antigo endereço amigos de todas as idades, dos idosos que cumprimentávamos ao entrar no beco, a presença cotidiana de meus sogros, assim como a proximidade da casa de meus pais, e as crianças da vizinhança que frequentavam nossa sala de estar. Ao nos mudarmos, nos expandimos, estamos conectados a novos e antigos territórios. Vindo para a região 5 de Vila Velha, periférica em relação ao centro urbano onde morávamos, expandimos nosso endereço, ganhamos mais espaço, mais cidade. Nossa ideia de lar se alargou. Te convido a celebrar isso conosco, e a nos visitar quando puder e quiser.
Agradeça a Deus comigo pelas coisas que partilhei neste informativo e, se puder e desejar, compartilhe comigo um pouco sobre sua vida, adorarei te escutar. Peço oração pela captação de recursos que tenho realizado e pelo cansaço que tenho sentido. Obrigado por caminhar de perto e por sua generosidade.