📖 8. Rute


O livro de Rute é uma joia literária e teológica no Antigo Testamento. Ele narra a história de uma moabita que, por fidelidade à sua sogra Noemi e ao Deus de Israel, é conduzida à terra de Judá e se torna parte da linhagem messiânica. Em contraste com a anarquia dos dias dos juízes, Rute revela como Deus age de forma providencial e misericordiosa em histórias simples e cotidianas. O livro é um lembrete de que, mesmo em tempos de crise nacional e espiritual, o Senhor continua guiando seus propósitos por meio de pessoas fiéis. O cristão presbiteriano, que crê na soberania de Deus sobre todas as coisas, encontra aqui um convite a confiar no Senhor mesmo nas circunstâncias mais ordinárias. Temos discernido a mão providente de Deus em nossa própria jornada?


Rute, estrangeira e viúva, representa o tipo de pessoa que, humanamente, seria marginalizada dentro da sociedade israelita. No entanto, ela é acolhida, protegida e honrada, tornando-se símbolo da inclusão de gentios no plano da redenção. Sua história aponta para o evangelho que ultrapassa barreiras étnicas e sociais, e que acolhe os humildes e os quebrantados. A igreja de tradição reformada, centrada na graça soberana, é chamada a ser um povo acolhedor, aberto àqueles que se achegam em fé. Estamos prontos a estender o amor de Deus para além de nossas fronteiras sociais e culturais? Como temos acolhido o estrangeiro, o necessitado e o quebrado?


A fidelidade de Rute à sua sogra Noemi é uma poderosa demonstração de amor, lealdade e renúncia. Suas palavras – “o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus” – expressam uma conversão genuína e uma disposição para viver sob a aliança com o Deus de Israel. Essa entrega total nos convida a refletir sobre o tipo de compromisso que assumimos com Deus e com seu povo. O discipulado cristão exige renúncia e fidelidade duradoura, mesmo em meio às perdas. Temos seguido a Cristo com essa mesma disposição de entregar tudo? Nossas alianças são firmes e perseverantes mesmo quando o caminho se torna difícil?


A figura de Boaz, como resgatador, é central no desenrolar da narrativa. Ele age com bondade, justiça e responsabilidade, cumprindo o papel de goel (resgatador legal) segundo a lei israelita. Ele aponta para Cristo, nosso Redentor, que se aproxima de nós em nossa pobreza e assume a responsabilidade de nos restaurar. Boaz não age apenas por dever, mas com generosidade e misericórdia. A fé reformada vê em Cristo o Redentor perfeito, que nos resgata por amor e nos introduz em sua herança. Reconhecemos a obra de Cristo como algo gracioso e não merecido? Nossa vida expressa gratidão e entrega a esse Redentor?


O livro também nos ensina sobre a ação redentora de Deus por meio da rotina. Colheitas, encontros no campo, diálogos simples – tudo contribui para o desenrolar do plano divino. A providência de Deus não se limita aos grandes milagres, mas atua nas ações humanas cotidianas. Essa perspectiva valoriza cada momento da vida cristã: trabalho, família, decisões pequenas. No contexto presbiteriano, isso fortalece a doutrina da vocação e do serviço fiel no ordinário. Como temos vivido a presença de Deus na vida diária? Reconhecemos que Ele está agindo até nos pequenos detalhes?


O nascimento de Obede, filho de Rute com Boaz, não é apenas o final feliz de uma história romântica, mas a inserção dessa mulher estrangeira na linhagem de Davi e, posteriormente, de Jesus Cristo. O livro termina com uma genealogia, apontando para o propósito redentor de Deus através das gerações. Rute se torna um elo visível no cumprimento da promessa messiânica. Isso nos lembra que nossas vidas, quando entregues a Deus, são parte de algo muito maior do que conseguimos enxergar. Temos vivido com a consciência de que fazemos parte de uma história redentora maior? Nossas decisões têm sido tomadas com visão de Reino?


A narrativa também nos lembra da importância da piedade vivida de forma concreta. Boaz pratica justiça social ao permitir que Rute rebusque espigas; Noemi confia na provisão divina; Rute arrisca-se por fidelidade. A espiritualidade bíblica não é desconectada da vida real, mas se expressa em gestos, escolhas, compromissos e relações. A fé reformada insiste na integridade entre crença e prática. Estamos vivendo uma fé encarnada e atuante? Nossa teologia encontra expressão em nossa conduta diária e nas relações interpessoais?


Por fim, Rute nos ensina que a fidelidade silenciosa, o amor sacrificial e a fé persistente não passam despercebidos diante de Deus. Em uma época de confusão e pecado generalizado, Deus escolhe escrever sua história através de uma viúva estrangeira, um fazendeiro justo e uma sogra amargurada. O Senhor continua agindo assim. Ele vê o coração que crê, o gesto que ama, a vida que obedece. Que sejamos encorajados a permanecer fiéis, mesmo sem reconhecimento humano, sabendo que fazemos parte de um plano eterno. Temos vivido com essa consciência? Nossos olhos estão voltados para a fidelidade do Deus que redime?