📖 4. João


O Evangelho de João se destaca pela profundidade teológica e pelo estilo mais contemplativo em relação à pessoa de Jesus. Desde os primeiros versículos, João afirma a divindade de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Essa introdução ecoa Gênesis e apresenta Jesus como eterno, criador, fonte da vida e da luz. Para o cristão presbiteriano, que valoriza a centralidade das Escrituras e a revelação progressiva de Deus, João é um convite ao aprofundamento da fé, contemplando não apenas o que Jesus fez, mas quem Ele é em essência.


João seleciona sete sinais que revelam a glória de Cristo, começando com a transformação da água em vinho e culminando com a ressurreição de Lázaro. Esses sinais não são apenas milagres, mas testemunhos que apontam para a identidade do Filho de Deus. Cada um provoca fé ou resistência, e nos desafia hoje: temos visto as obras de Deus em nossa vida como meras bênçãos temporais, ou como janelas para uma realidade eterna? Reconhecemos o Senhor da glória mesmo quando Ele se revela em simplicidade?


O evangelho é marcado por diálogos profundos: com Nicodemos, Jesus fala da necessidade de nascer de novo; com a mulher samaritana, aborda o culto verdadeiro; com os judeus, revela que é o “Eu Sou”. Em cada encontro, Jesus desmascara o coração humano e aponta para uma transformação espiritual verdadeira. Esse padrão desafia a igreja a não oferecer apenas respostas externas, mas um evangelho que atinge o centro do ser. Será que temos nos aproximado de Jesus com sede de verdade ou com resistência ao arrependimento?


João destaca intensamente a relação entre o Pai e o Filho, e a missão de Cristo como enviado. Jesus vive em perfeita obediência, sendo um com o Pai, e fazendo somente aquilo que vê o Pai fazer. A teologia reformada reconhece aqui a perfeita submissão e unidade na Trindade, refletida também na obediência cristã. Nós temos vivido como enviados? Nossos atos revelam a mesma comunhão com a vontade de Deus ou são guiados pela própria conveniência?


A linguagem de João é profundamente simbólica: luz e trevas, pão da vida, água viva, videira e ramos. Esses símbolos não são apenas poéticos, mas essenciais para compreender a obra salvífica. Por exemplo, ao dizer “Eu sou o pão da vida”, Jesus afirma que somente Ele pode sustentar a alma. Isso é central para o culto cristão: Cristo é o centro, o alimento, a luz. Em nossos cultos e vidas, é Ele o foco ou temos substituído o essencial pelo acessório?


Nos capítulos finais, João traz discursos intensos de despedida, nos quais Jesus prepara os discípulos para Sua partida e promete o Consolador, o Espírito Santo. Aqui vemos a doutrina da Trindade em operação: o Pai envia o Filho, o Filho ora ao Pai que envia o Espírito. Essa promessa fundamenta a perseverança da Igreja, que não caminha sozinha, mas assistida pelo Espírito. Estamos conscientes dessa presença em nosso viver diário e em nossa vida comunitária?


A crucificação é apresentada como glorificação. Jesus se entrega voluntariamente, sendo ao mesmo tempo o Cordeiro de Deus e o Rei crucificado. Ele morre com autoridade, entregando o espírito ao Pai. A ressurreição é celebrada com simplicidade e poder, mostrando o Cristo vivo que transforma medo em missão. Somos moldados por essa cruz gloriosa? Nossa fé encontra alegria na dor redentora de Cristo ou apenas em vitórias humanas?


João conclui com um chamado pessoal: “Estas coisas foram escritas para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”. O evangelho é mais que narrativa: é apelo à fé. Como temos respondido a esse convite? Nossa fé é viva, centrada em Cristo, moldada por Sua glória e sustentada por Seu Espírito?