DESAFIOS DO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NA PANDEMIA
INTRODUÇÃO
A pandemia do Covid-19 causada pelo vírus SARS-CoV2 ocasionou mudanças em escala mundial, desde 2019, a sociedade foi impactada não somente na saúde, mas também na economia, na dinâmica social e até mesmo nas relações sociais (ALMEIDA, 2021; KROTH, 2020; OMS BRASIL, 2020).
Este cenário modificou drasticamente o cotidiano escolar de professores e alunos. Assim, tal situação pandêmica possibilitou que as escolas vislumbrassem novas formas de ensinar e aprender, mediante a adoção do ensino remoto emergencial.
No Brasil, além da grave crise sanitária, ainda passamos por profundas crises econômicas e políticas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Analise de Amostra de Domicílios (IBGE, 2018), 20,9% dos domicílios brasileiros não têm acesso à internet, isso significa cerca de 15 milhões de lares. (SOUZA 2020. p. 111).
Em Belém, também ocorreram inúmeros casos de Covid, tendo que adotar medidas emergências preventivas com base nos conselhos da Organização Mundial da Saúde - OMS, declarando seu estado de emergência no primeiro trimestre de 2020, sobre o Decreto de Nº 800 de 31/05/2020 , a fim de conter a propagação da doença, preservar a saúde da população e ter um controle na prestação de serviço de saúde (BELÉM, 2020).
Este trabalho discorre sobre “Os desafios do ensino remoto emergencial na pandemia” com nuances sobre as dificuldades de professores, alunos e famílias.
A dialética teve como referência o levantamento bibliográfico e análise de dados a partir dos seguintes textos e autores: (AQUINO 2022 - Docência em tempos de pandemia: experiências de atuação no ensino remoto emergencial.), (COSTA 2020 - Os Desafios Do Ensino Remoto Em Tempos De Pandemia No Brasil.), (FREIRE 2003 - Pedagogia da Esperança: reencontro com a Pedagogia do Oprimido), (VALENTE 2020 - O ensino remoto frente às exigências do contexto de pandemia: Reflexões sobre a prática docente) e (SOUZA 2020 - Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. Caderno de Ciências Sociais Aplicadas.), que almejou discorrer sobre o ensino remoto e as dificuldades encontradas durante a Pandemia.
DESENVOLVIMENTO
[..] no dia em que a Terra parou, no dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa [...] e o aluno não saiu para estudar, pois sabia, o professor também não tava lá. (SEIXAS 1977).
O cenário educacional brasileiro vem passando por diversas mudanças decorrentes da chegada da pandemia do COVID 19. Discussões sobre ensino remoto passaram a ganhar destaque mediante a necessidade de se ofertar educação no ensino básico nesta modalidade.
Segundo AQUINO, 2022 a atuação do professor no cenário da pandemia o colocou diante de vários desafios a um exercício mais humano e pleno do ato de educar. Na Educação básica não tem sido diferente, a escola vem reestruturando-se devido à pandemia para tentar atender aos seus públicos, as instituições foram praticamente absorvidas por uma nova modalidade de ensino que foi implantada no Brasil, o ensino remoto emergencial.
Para BRASIL, 2020 esta modalidade surge com o objetivo de sanar a falta das aulas presenciais, mas o modelo maturado às pressas sofre com diversos problemas enfrentados por professores e alunos.
Pode-se mencionar que a dificuldade de interação nas aulas permeada por aspectos socioeconômicos que envolvem desde o pré planejamento até infraestrutura, demandou investimentos em políticas públicas educacionais equitativas que pudessem enfrentar todos os desafios sociais que emergiram com a pandemia frente a garantia da educação enquanto um direito do cidadão brasileiro.
Esse universo novo de atuação moldou, às vezes dolorosamente, mudanças na dinâmica escolar. Um personagem do processo educativo que sofreu, em muitos casos, com a enxurrada de emergências foram os professores e professoras. Mesmo que de forma temporária, a substituição do ensino presencial pelo o ensino remoto acarretou problemas para todos os personagens do processo educativo: os alunos, em sua maioria, com dificuldade no acesso as aulas por não terem uma internet estável ou mesmo acesso à internet (APPENZELLER et al, 2020).
Para VALENTE, et al 2020, a eminente necessidade de capacitação dos professores que mediante a indigência de efetivar o processo de ensino aprendizagem de forma remota, precisaram reavaliar toda a sua metodologia de ensino e adotar tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) como ferramentas para a concretização de sua prática docente, um exercício árduo e muitas vez penoso.
Conforme AQUINO, 2022 uma das principais limitações encontradas esteve relacionada com o manuseio das tecnologias, uma vez que alguns professores possuíam o mínimo ou quase nenhum domínio do uso das tecnologias requeridas pelo espaço escolar. Com o início do ensino remoto ficou ainda mais evidente que o domínio básico Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC’s) se tornava, a partir daquele momento, um saber essencial para o funcionamento das aulas que passaram a ser desenvolvidas em formato inteiramente remoto.
É importante ressaltar que houve o período de redução nos números de casos do COVID, e talvez esse momento tenha sido ainda mais difícil, uma vez que os professores teriam que se adequar a uma nova realidade, que seria o ensino híbrido, haja vista que estes ainda estavam ou ainda estão tentando se adaptar ao uso das TDIC’s.
Para Aquino 2022 nesta fase, o conhecimento tecnológico era ainda mais necessário, pois havia uma demanda diferente. Isso porque parte dos alunos acompanhavam as aulas de forma online ao passo que os professores precisavam lidar com uma plataforma limitada de recursos, saber conectar-se a internet, manusear computador, celular ou tablet para dar acesso aos alunos que estavam em casa.
É importante compreender que para o autor a falta de capacitação do corpo docente dificultou o processo de ensino aprendizagem remoto, tendo em vista que estes não tinham domínio de técnicas nesta modalidade.
Para Costa et al, 2020 na contramão desse cenário, foram poucas as instituições escolares que ofereceram cursos de formação para que os professores tivessem condições de acompanhar essas ondas de mudanças.
De acordo com MIGNONI et al, 2020 a função de educar fica comprometida uma vez que o professor se depara com múltiplos obstáculos que dificultam o exercício da profissão de forma mais consistente.
Para Costa, 2020 as dificuldades seriam:
[...] obstáculos vão desde dificuldades financeiras até a falta de conhecimento sobre o manuseio das tecnologias necessárias ao exercício do ensino em formato remoto (BARBOSA, et al 2021).
Para OLIVEIRA et al, 2021 o cenário pandêmico resplandeceu, ainda mais, as desigualdades sociais estabelecidas no ambiente escolar, visto que nem todos os professores e alunos tinham as mesmas oportunidades de acesso à internet e aos aparatos tecnológicos, o que dificultou o desenvolvimento do ofício docente e a participação dos alunos nas aulas remotas.
Em concordância com Costa, Oliveira destaca que o período pandêmico potencializou as mazelas socias na contemporaneidade. No âmbito escolar ficou evidente que professores e alunos passaram por processos tecnológicos excludentes no que tange o acesso a internet.
Ainda para o autor sobre a intervenção familiar no processo de escolarização de jovens, diversas atribuições que não concernem com a responsabilidade destas, como desenrolar uma diversidade de habilidades e competências das quais não apresentavam domínio.
O autor refere-se ao antagonismo da realidade familiar com a práxis pedagógica, tendo em vista que grande parte destas têm baixo acesso ao ensino de qualidade que possa assumir o protagonismo do repasse de conteúdo, uma vez que esta seria atribuição da escola.
[...] novas relações afetivas e profissionais foram criadas e ressignificadas, muitas pessoas passaram a trabalhar remotamente; famílias passaram a conviver cotidianamente com vários conflitos; pessoas ficaram afastadas de entes queridos para se proteger e proteger o outro; muitos continuaram nas suas atividades por serem essenciais, por não terem outra opção para se manter ou mesmo por não acreditarem que o vírus é real. Enfim, é uma nova realidade que se apresenta. (SOUZA 2020. p. 111)
Nesse cenário reafirma-se que o papel da família é participar do processo de ensino aprendizagem, porém sem assumir a centralidade de conteúdos que cabem ao profissional habilitado para tais fins.
Em contrapartida Cortella afirma que a educação é responsabilidade da família e que esta terceiriza, porém levando em contexto que nem todas as famílias conseguem acompanhar o processo de ensino dos filhos por uma questão sócio histórica refletida pelo capitalismo.
Ressalta-se que algumas famílias terceirizaram ainda mais a educação de seus filhos, transferindo para professores particulares a responsabilidade integral do ensino por meio de aulas de reforço que deixam de ser um complemento e passam a ser a totalidade do processo educativo.
As famílias confundem escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação. Educar é tarefa da família. Cortella - Nota: Trecho de entrevista dada ao site Estadão.com.br (17 de maio de 2014)
É importante frisar que a educação perpassa pelo conjunto social de aprendizagem que envolve a família, o espaço escolar e o contexto social, assim não tem como responsabilizar, exclusivamente, o seio familiar pela educação de crianças e adolescentes, haja vista que na escola acontece a generalização do comportamento. Esse pensamento de responsabilização da família aflorou no período pandêmico.
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática” (FREIRE 2003, p. 61).
Portanto, mesmo no ensino remoto, não existe a possibilidade de separar educação e ensino, uma vez que estes caminham de forma paralela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o exposto no texto, observamos que são vários os desafios neste percurso, entre estes: desenvolver, em pouco tempo, metodologias utilizando o potencial das tecnologias; digitais, das redes sociais e dos aplicativos para dispositivos móveis. Os cursos foram, originalmente, concebidos para a educação presencial, por isso, eles tiveram que ser ressignificados, não havendo apenas uma simples transposição do presencial.
As atividades foram criadas para que os estudantes pudessem interagir, dialogar, produzir conhecimentos coletiva e colaborativamente em/na rede. Não foi uma tarefa fácil, mas, com uma educação diferente, com base nos princípios do construcionismo e da aprendizagem criativa, os professores estão abertos a buscar caminhos inovadores no processo de ensino aprendizagem no intuito de tornar a práxis igualitária e fraterna.
Tudo isso, com o intuito de dirimir as desigualdades sociais e também raciais presentes nas famílias, as quais ficaram mais evidentes com o agravamento da pandemia. Conforme já mencionado, quando as instituições tiveram que fechar as portas e migrar para o ensino digital, os estudantes oriundos de camadas mais pobres, sobretudo de famílias negras, tiveram mais dificuldades para acompanhar os conteúdos e assistir as aulas, devido à falta de estrutura (computador, tablet, smartphone, etc.) e de conectividade.
Ressalta-se que as dificuldades das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC’s), fator este que permeia o ensino e aprendizagem antes mesmo do período pandêmico. Considera-se que, com o COVID-19, os impactos sobre os conhecimento técnicos ficaram mais visíveis e dificultaram a trajetória tanto por parte dos professores quanto dos alunos, e da própria família, estes juntos tiveram que se reinventar assumindo papéis que não lhes cabiam e ainda assombrando-se com o SARS-CoV-2.
Neste cenário de calamidade pública a educação acabou ficando em segundo plano, haja vista que entre saúde e educação, automaticamente o sistema prioriza a vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO. O.T. Docência em tempos de pandemia: experiências de atuação no ensino remoto emergencial. TCC. Ciências Biológicas. Belém, 32 págs. 2022. Disponível em: < https://acrobat.adobe.com/link/review?uri=urn:aaid:scds:US:ed4bf227-fc30-3b72-b26e-58f172cb5f68>. Acesso em: 02 ago.2023.
COSTA. A.E.R. et al. Os Desafios Do Ensino Remoto Em Tempos De Pandemia No Brasil. VI Congresso Nacional de Educação, 2020. Disponível em: < https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD4_SA19_ID6370_30092020005800.pdff>. Acesso em: 02 ago.2023.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. Disponível: <https://www.finom.edu.br/assets/uploads/cursos/categoriasdownloads/files/20190628210617.pdf>. Acesso em: 02 ago.2023.
VALENTE. G.S.C. et al. O ensino remoto frente às exigências do contexto de pandemia: Reflexões sobre a prática docente. Research, Society and Development, v. 9, n. 9, e843998153, 2020. Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/8153/7109/114111>. Acesso em: 02 ago. 2023.
SOUZA. E.P. Educação em tempos de pandemia: desafios e possibilidades. Caderno de Ciências Sociais Aplicadas. Ano XVII Volume 17 Nº 30 jul./dez. 2020. Disponível em: < https://periodicos2.uesb.br/index.php/ccsa/article/view/7127 >. Acesso em: 02 ago. 2023.
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