Memorial 2

Sistema Educacional Inter@tivo

Fabio Colins


Introdução

As ferramentas digitais têm mudado a dinâmica da sociedade e influenciado mudanças, mesmo que sutis, no processo de ensino e de aprendizagem. No entanto, muitos estudantes ainda não têm acesso à educação, principalmente os que vivem em regiões isoladas geograficamente. A partir dessa problemática de isolamento, em 2017, a Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC-PA) criou, por meio do decreto nº 202/2017, o Sistema de Ensino Interativo (SEI). Esse sistema tem como objetivo ofertar o Ensino Médio Regular mediado por ferramentas tecnológicas.

Sobre esse tema, o professor especialista Fellipy Fernando Ferreira, coordenador do SEI, ministrou, sob mediação do professor Doutor José Roberto Alves da Silva, a palestra intitulada Sistema de Ensino Interativo: ensino mediado por tecnologias, com o intuito de apresentar a estrutura, o funcionamento e metodologia do SEI aos alunos do curso de Mestrado em Ensino de Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas da Universidade do Estado do Pará (PPGELL/UEPA). Na ocasião, foram discutidos os seguintes aspectos: a metodologia do SEI, os municípios e os estudantes atendidos pelo projeto e as perspectivas de ampliação e de consolidação desse trabalho em outras comunidades.

A palestra desdobrou-se para a importância do SEI para a educação em tempo de pandemia, um momento oportuno para rever as possibilidades do ensino remoto mediado por tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC). Portanto, este texto tem como objetivo apresentar reflexões acerca das ações desenvolvidas no âmbito do projeto Sistema de Ensino Interativo.

Desenvolvimento

A questão de uso, ou não, de recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem pode ser, em parte, consequência do tipo de formação vivenciada pelos professores durante o curso de licenciatura. Aderir ou resistir às ferramentas TDIC é uma questão que se discute bastante nesse período de pandemia, mas não é exclusivo desse momento. Desde a implementação do Projeto Brasileiro de Informática na Educação (Educom), anos 70 e 80 do século passado, o computador conotava uma ameaça aos docentes, pois acreditavam que eles poderiam substituí-los (MORAES, 2002).

Por outro lado, muitos especialistas defendiam a possibilidade de levar educação aos estudantes isolados geograficamente, como por exemplo, os que vivem em comunidades das ilhas que compõe o arquipélago do Marajó (PA). Para o professor Fellipy Fernando, uma possibilidade de levar educação aos estudantes afastados dos centros urbanos foi a criação do Sistema Educacional Interativo, segundo Fellipy Ferreira:

O Sistema Educacional Interativo é uma metodologia de Ensino Médio Presencial com mediação tecnológica por meio da qual a Secretaria do Estado de Educação do Pará disponibiliza Ensino Médio Regular em comunidades rurais do estado do Pará. Tem como seu maior propósito atender os estudantes concluintes do Ensino Fundamental em comunidades rurais em que não há oferta da rede estadual ou em que a demanda é superior ao número de vagas oferecidas.

Conforme afirmou o professor Fellipy, o SEI foi aprovado sem ressalva pelo Conselho Estadual de Educação do Pará, em 2017, por meio da resolução nº 202/2017. Esse projeto foi alinhado às metas do Plano Nacional de Educação que estabeleceu o melhoramento na oferta, na ampliação e nos índices educacionais do estado do Pará.

Para o especialista, o SEI foi determinante em 2020 para o enfrentamento da pandemia, pois possibilitou que os estudantes tivessem acesso às aulas por meio de conteúdos digitais, tais como videoaulas. Esses conteúdos foram elaborados por profissionais que compõe o SEI e o centro de formação do estado (CEFOR). Além disso, investiu-se ações de formação docente para o uso de TDIC nas aulas remotas.

Sobre os processos formativos, o professor Fellipy afirmou que “o SEI foi um facilitador nos processos formativos voltados para professores da rede pública de ensino e mais uma ferramenta de integração com as Unidades Regionais de Ensino”. A fala do palestrante mostra a importância da formação docente como um processo contínuo é imprescindível ao exercício profissional.

Conforme o professor Fellipy Ferreira, o SEI adotou a seguinte metodologia: Mediação; Presencialidade; e Interatividade. Segundo o palestrante, a mediação consiste na transmissão do conteúdo que ocorre na integração do professor da disciplina, no professor mediador e do estudante, tudo mediado pelas TDIC. A presencialidade diz respeito à presença de maneira síncrona de professores e estudantes, além de possibilidades de aulas assíncronas. Portanto, os estudantes têm horários determinados para as aulas no polo de apoio de sua comunidade. Outro aspecto refere-se à interatividade, um momento em que estudantes e professores dialogam sobre os conteúdos ministrados, as dúvidas e as novas aprendizagens, aspectos determinantes no processo de ensino e aprendizagem. Então, o SEI estabelece em sua metodologia uma rede de apoio à aprendizagem, pois na impossibilidade de o professor da disciplina atender aos estudantes, o professor de apoio supre a necessidade dos alunos.

O SEI está estruturado da seguinte forma: 38 professores ministrantes (atua, em Belém-PA, no estúdio na construção do planejamento e na apresentação da videoaula); 290 professores mediadores (apoia a organização do polo presencial, auxilia no uso das TDIC e media a relação entre estudantes e professor ministrante). Esse sistema está presente em 145 comunidades. Segundo o professor Fellipy Ferreira, cada sala de aula recebe um kit tecnológico composto por: computador, câmera, microfone, TV 52” e antena.

Sobre a oferta de turmas, o SEI está presente em 93 municípios (Alenquer; Augusto Corrêa; Bagre; Bragança; Cachoeira do Piriá; Curralinho; Goianésia; Juruti; Medicilândia; Muaná; Novo Repartimento; Portel; Uruará; Vitória do Xingu etc.) e 11 regiões de integração (Araguaia; Baixo Amazonas; Carajás; Rio Capim; Rio Caeté; Rio Guamá; Lago de Tucuruí; Marajó; Tapajós; Tocantins; Xingu), com isso, atender cerca de 30.807 estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Entre os diversos casos, o palestrante citou o caso de Arthur Ribeiro, aluno do 1º ano do Ensino Médio, do município de Alenquer-PA, que improvisou uma “sala de aula” em cima de uma árvore para acompanhar as aulas remotas. O caso noticiado nacionalmente mostra até onde o SEI alcança, pois o estudante residente na zona rural não tinha como se deslocar para o centro urbano para cursar o Ensino Médio e foi beneficiado pelo projeto de aulas mediadas por TDIC.

Portanto, o SEI cumpre o papel social de oferecer acesso e permanência à educação de qualidade, mesmo para estudantes isolados geograficamente ou pela pandemia de Covid 19.

Conclusão

A palestra possibilitou refletir sobre a metodologia do SEI, as ações desenvolvidas e a contribuição social desse projeto. Assim, os pressupostos metodológicos do SEI oferta aulas planejadas e organizadas a fim de apresentar, aprofundar e consolidar, de maneira significativa, conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Portanto, um espaço de aprendizagem em que professores e estudantes interagem mediados por TDIC e estabelecem um diálogo efetivo de maneira síncrona.

O SEI garante a expansão da oferta do Ensino Fundamental e Ensino Médio de maneira presencial com mediação de TDIC, assim garantido a qualidade da educação e a continuidade dos estudos em comunidades afastadas dos centros urbanos e de difícil acesso. Tudo isso, por meio de tecnologias e práticas educacionais inclusivas e inovadoras. O SEI também oferece professores qualificados e comprometidos com a aprendizagem dos estudantes.

Por fim, o SEI coloca escola e estudantes na dinâmica das transformações tecnológicas ocorridas nos últimos séculos, estabelece uma rede de aprendizagem conectada e as instituições de ensino deixam de ser totalmente analógicas e assumem um projeto de escola digital.

Referências

FERREIRA, Fellipy Fernando. Sistema de Ensino Interativo: ensino mediado por tecnologias. Palestra ministrada na disciplina Tecnologias Digitais e Práticas Pedagógicas: PPGELL, 2021.

MORAES, Raquel de Almeida. Rumos da Informática Educativa no Brasil. Brasília: Plano Editorial, 2002.