O segundo portal | Nível 2 | portugal e Brasil 2022

Giuliano Tierno
(São Paulo, Brasil)
Dias 01, 08 e 29 de outubro de 2022

Módulo II - Parte I


Tema
: Narração de histórias como prática artística: retomada do conto em contexto urbano

Conta-se histórias.
Isso basta para nos perguntarmos: quais histórias estamos contando?; e, como e onde estamos narrando nos contextos urbanos?

Nas cidades, sobretudo aquelas com maior adensamento populacional, marcadas de maneira aguda pelo tempo do trabalho, pela produtividade, pela circulação da mercadoria, o acto de memorar e partilhar histórias tornou-se, nos cotidianos das pessoas que as habitam, um fenômeno cada vez mais raro. Máxima já elaborada pelo filósofo alemão Walter Benjamin, ainda no início do século XX. Isso porque tais formas de existência não compreendem o tempo do ócio, da experiência, da invenção, da elaboração da existência, tampouco o tempo para se fazer com as mãos as coisas que fazem sentido à sustenção da própria existência. Uma pista importante: não é que quem vive nas cidades não sabe contar histórias, mas talvez não tenham o que contar, não saibam o que contar. Talvez algo como uma interdição no processo de transmissibilidade da experiência de vida (Erfahrung), como nos ajudou a pensar o filósofo alemão. Importante enfatizar que nas chamadas Comunidades e Povos Tradicionais o acto de contar histórias é intrínseco às suas cosmologia, às suas visões de mundo, lembrando que tais cosmovisões coexistem na contemporaneidade às realidades urbanas destacadas nessa proposição.

Nosso recorte, portanto, está centrado no contexto urbano e na observação do reaparecimento do conto nestes ambientes como prática artística. Desde a segunda metade do século passado, contadoras e contadores de histórias ressurgiram em muitas partes do mundo, abrindo espaços para a retomada do conto nas cidades.

Algumas pistas compõem o ressurgimento dessa figura: formar o seu repertório de contos majoritariamente por meio da leitura (inseridos que são na cultura letrada); compreender um novo sentido de comunidade de ouvintes, pois aqueles que ouvem já não são mais pertencentes a uma comunidade única e sim com o agenciamento de desejos de escuta de uma diversidade de pessoas que se reúne num determinado lugar, num determinado horário para ouvirem histórias; e, por fim, para que o experimento de fala e escuta, disponha da atenção complexa de uma audiência coletiva, que não têm ritos e convenções comuns, a pessoa que propõe o experimento narrativo busca nos experimentos artísticos como teatro, artes visuais, música, dança, performance, manifestações populares, elementos para instituir o que o território de transmissibilidade da experiência de vida (Erfahrung).

O percurso proposto neste curso se ampara em três pistas: reconhecer o fenômeno narrativo a partir de uma perspectiva histórico-geográfica; a relação entre a narrativa de si e o conto tradicional; e, um estudo do conto na perspectiva artística.

Conteúdo programático:
1. Retomada do conto em contexto urbano: a narração como prática artística;
2. Narrativas de si e o conto tradicional;
3. Um estudo do conto na perspectiva artística;
4. Partilha de experimentos e considerações das experiências.


“Contar histórias é um joguete entre as palavras e o tempo.
Um gesto de fiar o passado, o presente e o futuro
sem eleger as extremidades como fim”.

Giuliano Tierno


Giuliano Tierno de Siqueira é Doutor e Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unesp. Licenciatura plena em Educação Artística - Habilitação em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp. Sócio-fundador d ́A Casa Tombada [Lugar de Arte, Cultura, Educação] na cidade de São Paulo. Coordenador Geral dos cursos de pós-graduação d’A Casa Tombada. Idealizador, coordenador e professor do curso de pós-graduação lato sensu Narração Artística: Caminhos para contar histórias em contexto urbano, pel’A Casa Tombada.

Participa atualmente da elaboração do currículo do componente Arte do Novo Ensino Médio da Secretaria de Educação da Cidade de São Paulo. Participou da elaboração do currículo do Ensino Fundamental e Médio, do componente Arte, da Secretaria Estadual do Rio Grande do Norte. Professor colaborador do Programa de Mestrado Profissional ProfArtes do Instituto de Artes da UNESP. Coordenador de Artes do Colégio Augusto Laranja. Formador da Área de práticas literárias e orais nos níveis de ensino da Educação Infantil ao Ensino Médio pela Editora FTD.

Professor do curso de pós-graduação A Arte de Ensinar Arte pelo Instituto Singularidades. Foi coordenador de Programas e Projetos da CSMB da SMC.

Foi Diretor de Curadoria e Programação do CCSP. Foi Diretor da Divisão de Ação Cultural e Educativa do CCSP. Foi Curador Educativo do Centro Cultural São Paulo. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Experiências de Formação - Roda-Línguas, Unesp, desde 2006.

Organizador do livro A Criança de 6 anos - Reflexões e Práticas (2008 e 2012), pela editora Meca. Co-autor do livro Contos do Quintal (2007), editora Globo. Autor de contos publicados nas revistas Crescer e Direcional Educador. Organizador e autor do livro A Arte de Contar Histórias: Abordagens poética, literária e performática, pela editora Ícone, 2010. Organizador e autor do livro Narra-te cidade: pensamentos sobre a arte de contar histórias hoje, pel’A Casa Tombada Edições, 2017.