A pandemia da Covid-19 deixou mais marcas do que ainda é possível prever. Só no país foram mais de 29 milhões de casos registrados e mais de 650 mil óbitos. Números que poderiam ter sido menores não fosse o descaso do governo ao deixar de impor medidas sanitárias urgentes e atrasar as compras das vacinas. As relações com o espaço público, com a rua, com a cidade, com o outro e com o meio social sofreram transformações vertiginosas. Quem pode, isolou-se em casa e inventou formas de relacionar-se remotamente, esvaziando as ruas. Os mais vulneráveis não tiveram outra opção senão enfrentar o risco da contaminação diariamente ao sair de casa e deslocar-se por transporte público. Grande parte da população perdeu o emprego e muitas crianças não conseguiram acompanhar o ano letivo virtualmente por falta de condições concretas e emocionais. Os profissionais das artes da cena tiveram que buscar outros espaços de atuação e novas plataformas para os encontros que antes se realizavam em teatros, escolas, centros culturais, espaços públicos e espaços da cidade que comportavam um coletivo em presença. Estamos voltando a ocupar esses lugares aos poucos, os teatros estão reabrindo, assim como as portas da Universidade para dar início ao ano letivo de 2022.

Diante desse contexto, com foco nas artes da cena, as ações desse projeto de extensão com vínculo com a Unicamp pretendem aproximar a Universidade da comunidade temporária formada por sujeitos plurais interessados em redescobrirem relações com os espaços públicos marcados pela experiência traumática do isolamento. O projeto nasce da urgência de criarmos dispositivos reflexivos e criativos que possibilitem a construção conjunta de saberes sobre as novas relações possíveis entre o corpo e a cidade, depois de vivermos dois anos ditados pelos distanciamentos e pelo medo.

Convidamos artistas, estudantes, educadores e interessados em geral para pensarmos de que formas a arte seria capaz de recontextualizar e reavivar a criação de relações poético-afetivas com os espaços cotidianos da cidade, promovendo vivências de corpos sensíveis capazes de restabelecerem relações criativas com as paisagens pandêmicas sem deixarmos de manter os cuidados necessários e a responsabilidade comunitária.

Serão seis ciclos de leituras on-line com convidados que definiram os temas a partir dos quais criaremos conexões sobre as noções de comunidade e sobre novas dimensões do encontro. Na página sobre o ciclo de leituras é possível acessar o material que discutiremos em cada um dos encontros, e na página de inscrições é possível garantir sua participação nessa rede. 

Estamos planejando duas residências, encontros de maior duração, para experimentarmos corporalmente novas compreensões sobre o cenário atual. A primeira será conduzida por Laila Padovan para interessados (artistas e não-artistas) em cultivarem um estado corporal sensível e criativo através de experiências somáticas em dança, ativando estados de percepção aguçados o suficiente para estabelecerem relações afetivas e criativas com os espaços cotidianos. A segunda residência será proposta por Ana Terra, voltada para professores de escolas públicas de Campinas e região, a fim de abordar formas de ocupação do espaço escolar e seu entorno, os (re)encontros possíveis entre crianças e jovens, respeitando os protocolos de saúde, através de práticas corporais sensíveis provenientes do universo da dança.

Serão oferecidas duas oficinas: uma conduzida por Laís Rosa e José Teixeira pelo desejo de caminhar na cidade mais próximos do chão, criando narrativas decoloniais ao convidar interessados para experiências performativas inspiradas nas ações de tropeçar, cair, rastejar e deitar-se no chão; e outra por Juliana Semeghini com a intenção de provocar leitores ativos, capazes de produzir manifestações artísticas a partir do encontro com textos em forma de lambe-lambes, arte urbana que dialoga diretamente com as superfícies da cidade.

Você pode conhecer melhor cada um dos propositores clicando na página “entre_nós” com o histórico de cada participante do projeto, ler mais detalhes sobre as residências e oficinas acessando as páginas respectivas, e se inscrever nas atividades de seu interesse na aba de inscrições.