Resumos

Encontro Cognição & Linguagem


Cognição Social, Incorporada e Enativa


Prof. Dra. Sofia Stein

Neurological systems as part of social cooperation

We must think about human beings as part of evolution to understand their cognitive capacities. Brain functions and how they instantiate in different brain areas have their origin in how human beings had to act socially to survive (Dunbar, 1998). We are born with dispositions to know specific salient traces of what we perceive and dispositions to classify these salient traces. We correct differences in the appearance of colors, surfaces and forms according to innate “principles” of illuminance and perspective. Humans also act based on empathy, not just affective empathy, but also perceptual and cognitive empathy. The latter makes it possible for two or more individuals to attend to the same scene or event (Tomasello, 2014) and to know — to a certain extent — what others are perceiving and thinking. Accordingly, as mental capacities are explained by neuroscience, they can be connected to how social human interaction happens. I intend to justify a positive approach to social neuroscience presenting some examples of how human innate capacities determine not only perception and cognition, but also cooperative behaviors.


Prof. Dr. Leonardo Ferreira Almada

A mente corporificada: o início de um programa de pesquisa

Minha apresentação tem, em primeiro lugar, uma aspiração claramente básica, já que a consecução de minha finalidade central envolve, como ponto de partida, a tarefa de apresentar as linhas gerais do projeto de Francisco Javier Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosch (1991), tais quais materializadas no livro The embodied mind: cognitive, sciece and human experience. Essa tarefa consistirá em apresentar minha compreensão acerca das bases a partir dos quais Varela, Thompson e Rosch (1991) buscaram redirecionar os rumos e mesmo os princípios mais centrais das ciências empíricas e fenomenológicas da mente. Desse empreendimento decorrerá a segunda aspiração de minha apresentação, qual seja, minha proposta de defender que o projeto da mente corporificada foi exitoso em seu propósito de constituir um novo programa de pesquisa no interior das ciências cognitivas e das ciências da mente em geral. Em si mesma, essa finalidade, eu reconheço, não é muito original, e tampouco acrescenta muito aos debates sobre os quais se digladiam as contemporâneas ciências da cognição, sejam as perspectivas corporificadas ou não. Se eu puder fazer alusão a alguma possibilidade de inovação em minha defesa, essa residiria nos dois passos sobre os quais estruturo minha defesa do projeto constitutivo da mente corporificada: (i) Sustentar que uma das principais inovações conceituais perpetradas pelo programa de pesquisa das teorias corporificadas da mente e da cognição está fundado em boas evidências e argumentos em prol do papel desempenhado pelas relações entre percepção e ação na estruturação da mente e da cognição; (ii) Sustentar que o aporte na fenomenologia de Merleau-Ponty — a partir do qual se propuseram superar os clássicos paradigma computacional e comportamental em prol de um paradigma ecológico — propiciou que a perspectiva cognitiva de Varela, Thompson e Rosch (1991) tenha não apenas (a) dado um passo importante na supressão da dicotomia entre a biologia e a fenomenologia de sistemas corporais dotados de subjetividade, mas também (b) avançado na tese de que a ciência da mente é a ciência da experiência, ou ainda, na tese de que uma adequada ciência da mente não pode prescindir da consideração de que a experiência subjetiva tem participação efetiva na construção da cognição e do conhecimento.


Dr. César Meurer

Embodied Cognition: um programa de pesquisa vazio e trivial?

Goldinger et al. (2016) criticam duramente a tradição da Embodied Cognition - EC, tanto de um ponto de vista lógico quanto empírico. Wołoszyn e Hohol (2017) reagiram a essas críticas, sinalizando que os primeiros têm uma visão metodológica equivocada da EC. A comunicação faz uma reconstrução crítica dos argumentos encontrados nesses dois artigos. Na primeira parte, analiso a descrição que Goldinger et al. fazem do núcleo teórico da EC. Em seguida, desdobro os motivos que eles têm para afirmar que “em quase todos os tópicos clássicos - exceto no caso da rotação mental - não encontramos quase nenhum suporte lógico ou empírico para a EC” (p. 964). Depois disso, apresento e comento a defesa de Wołoszyn e Hohol (2017), que consiste em posicionar a EC como um programa de pesquisa (no sentido de Lakatos) e apontar achados que demonstram que a “EC leva a uma transferência de problemas teoricamente progressiva [progressive problem shift] nas ciências cognitivas” (p. 02).



Dra. Nara M. Figueiredo

Teorias radicais da cognição

As versões radicais das teorias contemporâneas da cognição, a saber, cognição incorporada radical e cognição enativa radical, abdicam das ideias de que a cognição envolve conteúdo (e.g. Myin & Hutto, 2013) e de que a mente opera com eles (Chemero, 2013). Ambas sustentam que a cognição pode ser explicada como um sistema dinâmico, isto é, um sistema em que os elementos mudam no tempo, e que esse sistema se auto regula. Eu pretendo apresentar ambas as teorias e discutir a ideia de que o noção de conteúdo deve ser negada apresentando uma breve avaliação conceitual dessa noção e recorrendo ao problema da percepção, a saber, a própria existência de ilusões. Essa discussão adota a perspectiva Wittgensteiniana de que nossos usos da linguagem nos levam a confusões conceituais e propõe uma consideração do problema da percepção. O objetivo é apresentar duas razões pelas quais discutimos a noção de conteúdo de modo geral e nas teorias da cognição.


Laura M. Nascimento

Em direção a uma abordagem naturalista para a fenomenalidade

O fato de que seres vivos passam por experiências subjetivas e qualitativas é profundamente resistente aos melhores métodos disponíveis de investigação em ciência cognitiva. Experiências fenomênicas não parecem encaixar-se bem em abordagens materialistas da mente e cognição. No entanto, é possível que os recursos utilizados pelo fisicalismo tradicional sejam muito restritos. Inspirados por abordagens enativistas, exploraremos a ideia de que é possível explicar a experiência fenomênica em termos de como um organismo corporificado e incorporado, que tem uma história ontogenética e filogenética, interage com o ambiente de maneiras específicas.



Intencionalidade, percepção e linguagem


Prof. Dr. Andre Leclerc

Intencionalidade e Dependência Contextual

Podemos conceber a intencionalidade de duas maneiras: 1) como uma característica exclusiva dos atos, eventos e estados mentais de serem acerca de algo, de dirigir-se a objetos, estados de coisas, propriedades, fatos, eventos do mundo; ou 2) como uma propriedade relacional (a de ser acerca de algo)que pode ser instanciada por representações mentais ou públicas (não só crenças, desejos, intenções, lembranças, etc., mas também frases, gráficos, mapas, partituras, etc.). No debate entre os internistas e os externistas, surge a questão da dependência contextual. Para os internistas, todos os estados mentais são independentes do contexto (um cérebro numa cuba poderia ter todos os nossos estados mentais), e as representações públicas têm uma intencionalidade derivada, ao passo que, para os externistas, todas as representações, privadas ou públicas, estão no mesmo patamar e a maioria (pelo menos) manifesta uma forte dependência contextual. Irei argumentar a favor da posição externista.


Marlos Ramos

A relação entre os processos de tomada de decisão humana e a regulação top-down das emoções

Essa apresentação tem como objetivo analisar a relação entre os processos de tomada de decisão humana e a capacidade de autorregulação / regulação top-down das emoções, explorando assim algumas teorias e concepções teóricas centradas no estudo das relações entre processos racionais e processos afetivos / emocionais. No que tange ao problema das relações mente-corpo, a posição teórica sobre a qual nos apoiaremos nesse trabalho é a emergentista. Em filosofia da mente, essa posição se coaduna bem com o evolucionismo das ciências naturais e com outras ciências da mente, tais como as neurociências experimentais modernas. Desse modo, a apresentação se propõe, na primeira parte, a fazer uma breve revisão conceitual sobre tomada de decisão; em seguida, a abordar alguns modelos naturalistas de tomada de decisão humana; e, por fim, a apresentar o emergentismo filosófico alinhado com a regulação top-down. Em grandes linhas, o trabalho almeja propor uma discussão filosófica e empiricamente informada sobre decision making.

Dra. Raquel Krempel

A percepção de cores é encapsulada?

O caráter fenomênico da experiência visual pode ser alterado por crenças, expectativas, etc.? Ou a percepção visual é encapsulada (ou impenetrável), sem acesso a processos cognitivos de nível mais alto? Um subtópico dessa discussão é o de se a percepção de cores pode ser alterada pelo conhecimento que temos das cores de certos objetos. Macpherson (2012), com base em alguns experimentos, argumenta que sim, e propõe um mecanismo para explicar a penetração cognitiva da percepção de cores. De modo paralelo, pesquisadores têm investigado se a língua que uma pessoa fala pode influenciar a maneira como ela percebe cores (dado que existe variação entre as línguas no número de termos básicos para cores). Meu objetivo aqui é discutir alguns desses estudos à luz da discussão sobre o encapsulamento ou impenetrabilidade da percepção. Minha hipótese é a de que eles não mostram definitivamente que a língua que uma pessoa fala pode alterar a sua experiência perceptiva de cores, e portanto não falam contra o encapsulamento da percepção de cores. Argumentarei também que críticas semelhantes podem ser dirigidas contra avisão de Macpherson.



Cognição e memória


Prof. Dr. Beatriz Sorrentino

Os desafios que a Viagem Mental no Tempo traz para a discussão da Identidade Pessoal

Considerando uma proeminente teoria da Identidade pessoal, a teoria da Continuidade Psicológica, as recentes discussões a respeito de Viagem Mental no Tempo trazem novos desafios para essa perspectiva. Tradicionalmente, a Continuidade Psicológica tem sido fortemente relacionada à memória dos indivíduos, dentre outros fatores. Contudo, as recentes discussões a respeito da Viagem Mental no Tempo sugerem a possibilidade de adotar a hipótese de que a memória faz parte de um sistema cognitivo de simulação dos organismos humanos; se esse for o caso, teremos que conceder que nossa memória está longe de ser fidedigna aos fatos de nossas vidas. Eu discutirei se essa nova perspectiva a respeito da memória pode ser considerada uma ameaça para a Teoria da Continuidade Psicológica.



André R. Sant'Anna

Memória episódica e “mental time travel”: causalidade sem descontinuidade

A memória episódica tem sido objeto de intenso estudo na filosofia e na psicologia. Recentemente, é possível notar a emergência de uma divergência teórica sobre como se deve entender a natureza da memória episódica entre essas disciplinas. Na psicologia, um número crescente de pesquisadores tem sugerido que a memória episódica é somente mais uma realização de uma capacidade mais geral que temos para realizar “mental time travel” ao futuro. Essa visão se coloca em evidente contraste com o modo em que os filósofos tradicionalmente pensam sobre a memória episódica, o qual sustenta que memória episódica e outras formas de pensamento direcionadas ao futuro são processos mentais de natureza distintas. Em discussões recentes sobre a relação entre memória episódica (ME) e “mental time travel” ao futuro (MTTF), duas perspectivas são oferecidas. Mais simpáticos aos desenvolvimentos da psicologia, defensores do continuísmo dizem que ME e MTTF são, de fato, estados mentais de mesma natureza, enquanto defensores do descontinuísmo, esses mais simpáticos à concepção filosófica tradicional de memória episódica, dizem que ME e MTTF são estados mentais de naturezas distintas. Alguns filósofos têm sugerido que o embate entre essas duas visões se resume à questão de se conexões causais são condições necessárias para a ME (PERRIN e MICHAELIAN, 2017). Nessa apresentação, argumento que, contrariamente à assunção feita por ambos continuístas e descontinuístas, a presença de conexões causais em MEs não implica uma descontinuidade entre ME e MTTF. Como proposta positiva, ofereço um framework teórico que concilia as ideias de que: (1) ME e MTTF são estados mentais de mesma natureza e (2) conexões causais são necessárias para ME, mas não para MTTF. Se sucedida, essa proposta oferece um ponto de partida importante para a aproximação entre pesquisadores da psicologia e da filosofia.


Relação Mente e Corpo


Prof. Dr. Osvaldo Pessoa Jr.

Explorando o materialismo cartesiano

O termo “materialismo cartesiano” foi usado depreciativamente por Dennett (1991, p. 207) para designar a concepção de que “haveria uma linha de chegada ou fronteira crucial em algum lugar do encéfalo, marcando um lugar onde a ordem de chegada é igual à ordem de ‘apresentação’ na experiência, porque o que acontece ali é do que você está consciente”. No entanto, esta hipótese é bastante intuitiva e merece ser explorada mais a fundo, mesmo que seja para concluir que ela é implausível. O contexto no qual faremos esta exploração é o “fisicismo qualitativo”, também conhecido como “tese do encéfalo colorido”. Trata-se de um fisicismo que aceita a realidade dos qualia, fazendo uso da tese da identidade mente-encéfalo para concluir que as qualidades subjetivas são propriedades físicas do mundo material, localizadas no encéfalo. Um exemplo do uso do princípio do materialismo cartesiano seria inferir, a partir da continuidade fenomênica das imagens no campo visual, que o correlato neural imediato da visão não são as células discretas que hipoteticamente instanciam cada pixel de cor, mas algum campo elétrico contínuo que emana a partir dessas células discretas, ou interage com ela (a partir de algum processo que instanciaria a “hipótese da lanterna” (ou searchlight hypothesis, de Crick, 1984).


Prof. Dr. Jonas G. Coelho

A Relação mente e corpo segundo a teoria da contingência sensório-motora: o problema da lacuna explicativa

O objetivo principal de minha apresentação é refletir criticamente sobre a teoria da contingência sensório-motora de O'Regan and Noë, proposta como explicação para o problema da relação mente e corpo e, em especial, para a solução da questão da lacuna explicative. Começarei pela crítica que esses autores dirigem à concepção representacionista corrente, segundo a qual as experiências conscientes seriam representações do mundo externo produzidas pelo cérebro, o que criaria, com a introdução da ideia de qualia, uma lacuna explicativa incontornável. A seguir, apresento resumidamente o modo como a teoria da contingência sensório-motora enfrenta o problema da lacuna explicativa procurando explicar a existência, forma e conteúdo da consciência visual em termos de uma "atividade exploratória” mediada pelas de leis da contingência sensório-motora, as quais envolvem privilegiadamente a relação entre o corpo e o ambiente externo ao corpo, desempenhando o cérebro um papel coadjuvante, embora necessário, nesse processo. Por fim, em acordo com as críticas de alguns comentadores à pretensa solução da lacuna explicativa proposta por O'Regan and Noë, aponto um caminho para enfrentar o problema da lacuna explicativa, o qual, embora ressaltando o papel indispensável do corpo e do ambiente externo ao corpo na geração das formas e conteúdos da consciência visual, privilegia o papel do cérebro como órgão da consciência visual e da mente consciente em geral, e como o agente que em geral usa sua consciência visual como guia, ou feedback, para iniciar e manter ações adaptativas no mundo.


Leonardo Andrade

“Agência”, livre-arbítrio e Responsabilidade Moral: Um estudo de como a relação mente/corpo pode influenciar a concepção destes três aspectos

As questões relativas à capacidade de instanciação de “agência”, quais os seres capazes de realizar este tipo de ação e como podemos atribuir responsabilidade moral às ações dependem muito da concepção que temos sobre livre-arbítrio e a relação entre mente e corpo. Elaborarei uma análise crítica e sistemática de como estas três problemáticas se relacionam no contexto da Filosofia da mente, mais especificamente, sob a perspectiva do Materialismo Eliminativista. A proposta Eliminativista parte do princípio de que as descrições de alguns estados mentais, que atuam como causas do nosso comportamento, são falsas, e que sua permanência na ciência contemporânea ocorre devido à falta de correlatos empíricos que comprovem a sua falsidade, apostando que com o desenvolvimento de uma neurociência madura, os conceitos em questão darão lugar a descrições neurofisiológicas que evidenciariam as causas reais do comportamento. Partindo do pressuposto de que a abordagem em questão é razoável, ao menos em nível hipotético, buscarei apresentar como os proponentes da abordagem eliminativista relacionam “agência”, livre arbítrio e responsabilidade moral ao problema mente e corpo, bem como, discutir brevemente as conseqüências éticas e pragmáticas que poderiam ser postas em ameaça devido ao sucesso de tal proposta.


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