Máquinas e regulamentos: anos 1920

A década de 1920 foi importante para o crescimento da Metalúrgica Abramo Eberle. Diferentemente das décadas anteriores, os investimentos em maquinário são intensificados, e novos processos de organização do trabalho são implementados no interior da fábrica, disciplinando a produção.

Seção de Artigos Sacros em 1925. Acervo: AHMJSA.
Motores da Fábrica Matriz em 1925. Acervo: AHMJSA

A partir da década de 1920, observam-se transformações importantes no interior da fábrica. Após viagens de Abramo Eberle pela América do Sul e pela Europa, onde conheceu indústrias e processos de trabalho, a empresa passou a ampliar o número de máquinas automáticas nas seções de trabalho, sendo algumas trazidas por importação. Nesse período, a fábrica também recebe a instalação de motores elétricos próprios, utilizados para gerar a força motriz necessária para o funcionamento do novo maquinário.

É também do período da década de 1920 que temos acesso a um dos regulamentos internos da fábrica. Tais regulamentos determinavam a disciplina esperada no interior das seções. Inspirados na Encíclica "Rerum Novarum - Sobre a Condição dos Operários" do Papa Leão XIII, os artigos traziam a rigidez de um modelo disciplinar em que o silêncio e a obediência aos superiores eram valorizados.

Conforme os artigos de um dos regulamentos, datado de 1924, os operários eram proibidos de “cantar, assobiar ou conversar nas horas de trabalho”; os aprendizes eram proibidos de “sahir da fabrica, ou da secção em que trabalha, sem antes pedir licença ao seu contramestre”; e, para o caso de falta sem aviso prévio, “se sujeitará à multa de Rs 2$000 na primeira vez, 3$000 na segunda e 5$000 na terceira”, assim como era proibido “entrar depois de começar o trabalho ou interromper este antes de tocar a campainha”.

Sobre os novos processos de trabalho nas seções, a inspiração partia das experiências vistas por Abramo nas fábricas estrangeiras, onde teses do sistema taylorista estavam colocadas na prática, sendo o desperdício (de tempo e de recursos materiais) uma das principais preocupações desse sistema produtivo. A instalação das seções em espaços mais salubres também marcou os anos de 1920, década em que a primeira construção de alvenaria é erigida no entorno das antigas construções de madeira. Algumas seções, contudo, ainda permaneceram em espaços menos ventilados e mal iluminados, oferecendo riscos aos operários. É isso o que que se observa em uma notícia de jornal que informa sobre a morte do trabalhador Arthur Rosa ocorrida no final do ano de 1920. Em outras seções, como na de Fundição, percebe-se a presença de trabalhadores negros, sendo o espaço um dos mais insalubres da fábrica naquele período.

Seção de Cortação de Chapas (acima) e Fundição (abaixo), em 1922. Acervo: AHMJSA.
Recorte do Jornal O Brasil, publicado em Caxias do Sul, de 1º de janeiro de 1921.

ACCIDENTES NO TRABALHO

Morte de um operário

No quadro do pessoal do conceituado estabelecimento dos srs. Abramo Eberle & Cia., figurava, havia algum tempo, o nome do operario Arthur Rosa, que sempre se mostrara trabalhador e cumpridor dos seus deveres, sendo ainda o arrimo de sua mãe viuva. Ha duas semanas, mais ou menos, achando-se elle occupado nos misteres de seu officio, teve em dado momento de subir à cobertura de uma casa, affim de apanhar um certo objeto que cahira sobre o zinco. Logo que deu os primeiros passos, Arthur teve a infelicidade de pisar sobre uma folha de zinco mal escorada, a qual desabou e deu causa a que o desditoso operario cahisse ao solo, de uma altura aproximada de 7 metros. Com a queda, recebeu elle varias escoriações e um ferimento grave no craneo, o qual lhe produziu a morte cinco dias depois. A firma Abramo Eberle & Cia., ao ter conhecimento do fallecimento do seu operario, promptificou-se a pagar a indenisação cabível, de acordo com a lei de accidentes no trabalho.

Entrada dos operários na fábrica localizada na Rua Sinimbu, em 1922. Acervo: AHMJSA.

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