Os primeiros investimentos: anos 1900 e 1910

Nesta página está destacado o período das duas primeiras décadas de funcionamento da fábrica, marcada pelo trabalho artesanal, pela presença dos aprendizes, pela separação de homens e mulheres, e pela estrutura simples das seções de trabalho.

Operários da Metalúrgica Abramo Eberle em 1907. No primeiro plano, os aprendizes. Acervo: AHMJSA.


O crescimento da economia da pequena oficina de Abramo se deu no início do século 20. Em 1904, Abramo decidiu investir o seu capital em uma sociedade formada com o amigo Luiz Gasparetto, fundando a “Ourivesaria e Funilaria Central Abramo Eberle & Cia.” Em 1907, a fábrica já contava com um faturamento maior que 21 contos de réis e lucro líquido de pouco mais de quatro contos de réis. Ainda nesse período, os produtos produzidos pela funilaria se diversificaram: passam a ser fabricados utensílios de cobre, alambiques e máquinas de sulfatar, além de a fábrica dar início à produção de artigos de montaria, como arreios, estribos e esporas, todos produtos muito procurados, devido os meios de transporte mais comuns serem os animais de montaria.


Nos primeiros anos da Ourivesaria e Funilaria Central de Abramo Eberle & Cia. já era grande o número de operários (homens e mulheres), e também de aprendizes empregados na fábrica. As relações de trabalho eram marcadas pelo paternalismo, sendo a figura do diretor da fábrica entendida como a de um "pai". Ao se analisarem os contratos de alguns dos aprendizes, como é exemplo o contrato de é possível perceber bem essa questão, tendo o aprendiz "a obrigação de obedecer às ordens do patrão, e a respeitá-lo como se este fosse o seu pai, durante todo o tempo da aprendizagem".

A seção de cortadores e fabricação de chapas para serigotes em 1914. Acervo: AHMJSA.

Com relação às atividades desenvolvidas no interior da fábrica, o período das décadas de 1900 e 1910 ficaram marcados pelo trabalho artesanal, que envolvia principalmente o uso de ferramentas ou de máquinas manuais pelos operários. Não era comum a presença de homens e mulheres nas mesmas seções de trabalho, sendo que elas, inclusive, trabalhavam em casa naquele período, como "brunideiras" (responsáveis pelo polimento dos produtos). Somente a partir dos anos de 1920 é que se pode visualizar, por meio de fotografias, a presença das mulheres na fábrica, e dividindo as seções com operários do sexo masculino.

Cabe notar, também, que as seções de trabalho funcionavam em construções precárias, de madeira, com telhados metálicos e pisos irregulares. Antes da geração de energia própria, a luz natural era a única a ser aproveitada no interior desses espaços de trabalho.

Início dos trabalhos de estampação, em 1914. Acervo: AHMJSA.
Lamparina, transformada em símbolo da empresa por ser um dos primeiros produtos produzidos pela Metalúrgica, ainda quando era uma pequena funilaria. Acervo: AHMJSA.

A fotografia ao lado mostra a lamparina que se tornou um dos símbolos da empresa, por remeter ao passado da sua fundação no final do século 19. O livro O Milagre da Montanha, de 1946, escrito por Álvaro Franco (também biógrafo de Abramo Eberle), traz a seguinte legenda sobre a lamparina - podendo-se notar como ela recebe toda uma simbologia que representa a história da Metalúrgica:

E ali está ela, essa primeira lamparina rústica, a cuja luz débil o próprio fundador alumiou seus longos serões, com horas escassas para o devaneio. Os que lhe recolheram a herança espiritual e o patrimônio material, imensos ambos, legados por ele, guardam esse testemunho eloquente do trabalho manual do grande mestre [...]. 50 anos deitaram sobre a singela lamparina uma pátina, um colorido de velhice; entretanto não desmerece no respeito dos descendentes e dos auxiliares que veem nela o símbolo de uma predestinação, talvez um chamado permanente que lhes faz a memória do inesquecível chefe. Foi fraca, talvez, a chama que ela deu; mas fulgurante a labareda que ardia no espírito orientador das mãos habilidosas que a modelaram. E, dessa maneira, essa luz em si mesma insignificante por seu conteúdo espiritual, possui a força simbólica de um farol, capaz de dar norte àqueles que recolheram o legado do Grande Fundador. Mais do que isso ela será como lâmpada votiva, ardendo sempre com o óleo sagrado do respeito, de saudade e da admiração (FRANCO, 1946, sem páginação).

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