História Oral: experiências de trabalhadores

No início do projeto de elaboração deste site, uma das intenções do grupo era produzir entrevistas de história oral com ex-trabalhadores da Metalúrgica Abramo Eberle. Em razão da pandemia, e sabendo que muitas dessas pessoas pertencem ao grupo de risco da Covid-19, além de estimarmos terem alguma dificuldade ou desconforto em realizar uma entrevista por meio de videoconferência, decidimos deixar essa ideia para mais adiante. Contudo, uma entrevista, realizada há alguns anos, compunha o acervo de um dos curadores deste projeto, e é aqui compartilhada com o intuito de servir de exemplo do nosso desejo inicial e do que pretendemos fazer quando as condições sanitárias permitirem.

Adelino Carlos Beux, ex-operário da Maesa

Data da entrevista: 17 de maio de 2011. Entrevistador: Anthony Beux Tessari. Participantes: Rafael Chiaradia (genro do entrevistado), Elenir Beux (sobrinha do entrevistado). Local: Caxias do Sul-RS. Tempo de entrevista: 1h 4min 28seg.

Adelino Carlos Beux nasceu em 26 de maio de 1918, e tinha 93 anos no dia desta entrevista. Foi funcionário da Metalúrgica Abramo Eberle por 59 anos. Iniciou como empregado na Seção de Polição, em 1932, quando tinha 14 anos de idade. Algum tempo depois, por recomendação médica, foi para a Seção de Cortação. Com a ampliação da fábrica e maior demanda da Seção de Eletricidade, foi trabalhar neste setor, onde permaneceu até a sua aposentadoria. Além da sua história de vida e do trabalho na Metalúrgica, o entrevistado abordou outros temas interessantes, tais como: repercussões da Segunda Guerra Mundial em Caxias do Sul; Desfiles Cívicos da Semana da Pátria; Igreja Metodista; Fotografia; Cinemas Central, Real, Ópera e Guarany; Teatro Apollo. Adelino faleceu em março de 2018, dois meses antes de completar 100 anos.

Transcrição completa da entrevista

Transcrição Entrevista Adelino Beux.pdf

Confira um trecho da entrevista com Adelino Carlos Beux:

Pesado” o trabalho na Seção de Polição não era, mas não me fazia bem. Então, vai no doutor, vai no doutor... Aí o médico pedia assim “onde é que eu trabalhava?”. Expliquei para ele, e ele disse assim: “– Diz para eles te trocarem de serviço”. Como é que eu vou fazer? Trocar de serviço? Dou a cartinha aquela para o meu chefe, né. Ele olhou: “– Isso não dá para eu resolver”. Eu acho que tu tens que falar com o Beppin, com o José Eberle. Bom, eu vou lá, mostrei para o tal de José e fiquei para ver... Deu um tempo, veio a resposta: que eu podia escolher dentro da fábrica o que que eu queria fazer. Então, peguei a Cortação, como se diz. Me deram uma máquina ali. Hoje era essa máquina, depois amanhã era outra. Aí foi um tempo ali. De repente a fábrica começou a crescer, a construir... E tinha um eletricista que precisava um ajudante, né. Então o chefe que eu tinha lá me mandou: “– Vai lá, ajuda aquele cara, o eletricista”. E dali ficou, e sai de lá ainda com esse emprego.

Funcionários da Metalúrgica Abramo Eberle durante o desfile da Semana da Pátria, reunidos na Praça Dante Alighieri de Caxias do Sul. Vê-se Adelino Carlos Beux (o 4º da esquerda para a direita). Década de 1940.
Adelino Carlos Beux (último à direita) durante trabalho na Seção de Eletricidade da Metalúrgica Abramo Eberle. Década de 1960. Acervo pessoal do entrevistado.