A gente acordou numa segunda-feira e caiu num time-lapse com looping - foi o que pensei depois de um mês de confinamento, sem perspectiva de voltar. Parecia que um grão de areia tinha parado no meio da ampulheta, logo depois do Carnaval, mas a música do Legião Urbana ecoando na minha cabeça, temos todo o tempo do mundo, já não fazia sentido algum.
O tempo nunca foi tão abstrato quanto agora: tudo ficou pra um depois insondável, mas as coisas nunca foram tão urgentes. O século XXI tirou a máscara, enquanto vestíamos a nossa, e mostrou sua cara de Idade Média. A ciência, a tecnologia de ponta do mundo todo não nos serviu de nada. Fomos subjugados pelo invisível, que escancarou nossa miséria e despreparo, eviscerou nossa fragilidade e gritou mudo em nossos ouvidos: é tarde.
E tudo o que era urgente, mas deixamos de lado por n motivos, tornou-se mais urgente.
Sentimos, de verdade, medo. Conhecemos concretamente o instável e descobrimos, uns mais do que outros, que o conforto do lar pode ser bastante desconfortável.
Assim, inevitavelmente inseridos nessa situação e nessas discussões, os alunos do 1º ano do Ensino Médio foram provocados a registrar, fantasiar, inventar e se reinventar por meio dessas crônicas, que refletem esse período inusitado que vivemos e comungamos.
O CORÔNICAS reúne textos produzidos dentro da situação do isolamento, em função do COVID-19 ou corona-vírus. Está dividido em três partes: DEU RUIM, que reflete o maravilhamento e a surpresa do inevitável; COVIDIÁRIO, que registra os mecanismos de resistência e de fuga, saudáveis artifícios que encontramos para vida e para lidar com nossas fragilidades nesse período; e QUANTO AO FUTURO, que especula as possibilidades da nossa vida pós pandemia.
Aqui, descortinam-se sensações, aflições, perspectivas. Aqui, realidades e fantasias tornam-se vívidas. Aqui, jovens mostram-se maduros e muitas reflexões são verdadeira sabedoria.
Convido vocês a acolherem esse mentar da vida, em tão delicada situação.
Profª Janaína Arruda da Silva