Em uma classe de alfabetização de adultos, Rosário pediu aos alunos que escrevessem o que haviam feito no dia anterior. Naquele dia, decidi escolher, ao acaso, um aluno para observar. Tratava-se de Rodrigo, um rapaz por volta de seus vinte anos, dos quais quatorze eram passados em diversos bancos escolares.
Solicitada a redação para a classe, Rosário começou a passar de carteira em carteira.
Rodrigo ficou uns minutos com o olhar estático diante do papel, lápis na mão. Rosário aproximou-se solícita e explicou-lhe o que desejava, sinalizando e falando. Ao final, perguntou ao aluno se havia compreendido a tarefa e Rodrigo balançou a cabeça afirmativamente. A professora foi até a sua mesa verificar alguns materiais. Rodrigo readquiriu a imobilidade, olhos sempre na folha em branco. Dois ou três minutos depois, começou a escrever. A escrita produzida foi:
Eu sou Rodrigo.
Papai come maçã.
Mamãe dá café.
Vovó ama o bebê.
Quando terminou, apanhou a borracha e apagou tudo o que havia escrito. Rosário aproximou-se novamente e lhe sorriu compreensiva. Apanhou a folha e leu o que o aluno havia escrito pelos sulcos deixados pelo lápis. Sentou-se ao seu lado, explicou novamente a tarefa e lhe ofereceu “dicas” [...] Rodrigo sorriu mais uma vez e balançou afirmativamente a cabeça. Rosário, aparentemente satisfeita, afastou-se para dar atenção a alguém.
Rodrigo voltou a olhar fixamente o papel, lápis na mão, imóvel. Transcorreram uns cinco minutos. Rosário dirigiu-lhe um olhar compadecido; reaproximando-se dele, sentou-se ao seu lado e lhe perguntou:
- Que palavra(s) Rodrigo, que palavra(s) que te falta?
Fonte: SOUZA, R. M. Que palavra que te falta? Linguística, educação e surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PARABÉNS!
Você aprofundou ainda mais seus estudos!