O conjunto habitacional Weiße Stadt (Cidade Branca) foi construído em Berlim, Alemanha, dos anos de 1929 a 1931. Entre o final da Primeira Guerra e a ascensão do Partido Nazista, ocorreu a fundação da República de Weimar, em novembro de 1918, dando fim ao Império Alemão. Dessa forma, os ideais democráticos abriram caminho para um maior desenvolvimento social e das políticas de planejamento, que possibilitaram a discussão dos fundamentos da habitação social coletiva na Alemanha, que se desenvolvia como potência cultural e industrial.
Tendo iniciado sua Revolução Industrial tardiamente, dada sua unificação apenas em 1871, o país sofreu um intenso êxodo rural e um significativo aumento populacional, principalmente em suas metrópoles. O resultado desse enorme fluxo de pessoas para as cidades em busca de emprego industrial foi um expressivo déficit habitacional, que resultou em grande precariedade de moradia. Para controlar esse urgente problema, foram construídas habitações para esses trabalhadores, seguindo a lógica mais rentável para alocar a maior quantidade de pessoas possível no espaço disponível.
Devido a essa situação, os operários alemães se organizaram politicamente, tendo uma forte atuação dentro de sindicatos e partidos políticos. Destes, o mais importante era o Partido Social-Democrata, de ideologia marxista, o qual tinha uma ação dedicada a suprir as necessidades imediatas relacionadas às condições de vida, de trabalho e também de habitação desses trabalhadores. É nesse momento que se formavam cooperativas de construção de habitação.
Até então, as habitações construídas pelo movimento operário não tinham dado importância a sua forma arquitetônica. Essas habitações (as “siedlungen”) construídas na segunda metade da década de 20, juntaram as preocupações dos militantes operários com as dos militantes artísticos. Em Berlim, Martin Wagner se torna o arquiteto e urbanista responsável pelo conselho de urbanismo da cidade e fica nessa posição de 1926 a 1933. É sob seu comando que ocorrem reformas nas políticas habitacionais e sociais, levando à construção de grandes conjuntos habitacionais subsidiados pelo Estado e por organizações não governamentais sem fins lucrativos. Entre 1919 e 1924 foram construídas 9.000 unidades habitacionais para aluguel subsidiadas, já entre 1924 e 1930 esse número cresce para 135.000.
Wohnstadt Carl Legien
Gartenstadt Falkenberg
Großsiedlung Siemensstadt (Ringsiedlung)
Großsiedlung Britz (Hufeisensiedlung)
Siedlung Schillerpark
Weiße Stadt
A inserção urbana desses novos conjuntos habitacionais foi elaborada por Martin Wagner. Tais construções se encontram distantes do centro e próximos a estações de trem, que tornava viável morar distante dos locais de emprego. Havendo terrenos maiores e pouco urbanizados, as possibilidades de construir eram muito mais amplas, em relação às edificações, ao viário e às quadras. Ademais, morar fora do centro da cidade era uma forma de fugir das condições de vida insalubres.
Esse desenho de habitação, distante do centro urbano e permeada por espaços verdes, se inspira no modelo de cidade-jardim inglês, esquematizado por Ebenezer Howard no fim do século XIX. Aplicado a projetos de conjuntos habitacionais, acarretou em uma melhoria na qualidade de vida da população como um todo, mas em especial da classe trabalhadora.
Os seis conjuntos se enquadram dentro do movimento arquitetônico Neues Bauen (Nova Arquitetura), uma corrente moderna que tinha como objetivo uma grande transformação social, além de uma ruptura total em relação ao passado. Neles, é possível observar a presença de formas e linhas geométricas claras, se afastando dos ornatos tão presentes até então, e de plantas racionais e mínimas.
Esse movimento arquitetônico se desenvolveu em meio a um momento de grande efervescência cultural na cidade de Berlim, que se torna a “Weltstadt (metrópole) da arte moderna”. Com o fim da Primeira Guerra, colapso do Império, fim da monarquia e proclamação da república, houve um momento de esperança entre os artistas da época, muitas vezes associada a um sonho utópico de socialismo. Assim, formam-se diversos grupos de artistas, arquitetos, escritores, cineastas e músicos, não só alemães, ligados por um ideal revolucionário e uma preocupação social. Muitos desses grupos publicam manifestos sugerindo uma nova relação entre arte e vida - a arte para todos, para as massas - e atribuindo um novo papel para a arquitetura na construção da sociedade e da cidade. Berlim se torna um polo atrator e de encontro da vanguarda internacional e do debate cultural entre tradição e modernidade.
É nesse contexto artístico que estão inseridos os arquitetos responsáveis pelo projeto da Weiße Stadt, os alemães Bruno Ahrends e Wilhelm Büning e o suíço Otto Rudolf Salvisberg. Cada um foi responsável por uma parte do conjunto, sendo o projeto paisagístico de autoria de Ludwig Lesser.